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Intérprete da escola, a pedagoga Elisete Aparecida Rocha Gomes diz que, apesar dos desafios, historicamente é preciso ressaltar as melhoras na educação dos surdos.
Há 10 anos, a Maurício Murgel oferece um curso de Libras, liderado por um professor surdo que ensina a toda a comunidade escolar interessada. “O tema do Enem não me surpreendeu, porque é assunto que está atrelado ao nosso cotidiano e passa despercebido por aqueles que não querem vê-lo”, afirma a diretora do colégio, Sônia Marinho Amaral de Resende. “Hoje (ontem), o Brasil acordou diferente, pensando nesse tema tão próximo a cada um de nós. Penso que boas ações e políticas educacionais serão implementadas num futuro próximo, pois, quando um assunto gera reflexão, gera também boas ações futuras.”
Quem também acredita nessas mudanças é o advogado José Maurício Massara, 56, pai do jovem Otávio Dumba Massara, de 23, que nasceu surdo depois de a mãe contrair rubéola na gravidez. Ele se orgulha do filho, que se tornou autodidata em mecânica de tratores. Há quatro anos, o rapaz começou a consertar os equipamentos na fazenda do pai, dos vizinhos e dos familiares, sem nunca ter estudado mecânica ou algo parecido.
Uma volta no veículo é suficiente para identificar o problema. A partir daí, Otávio compra o catálogo, desmonta tudo e pede na empresa, pela numeração, as peças que estão estragadas. “Ele percebe o problema pela vibração do trator. Com carro é igual”, explica José Maurício. Otávio se formou no ensino médio na Maurício Murgel, mas não quis prosseguir os estudos. “Ele fala que é difícil. Não é todo lugar que tem intérprete. Muitas vezes, o professor não tem a bondade de saber se o aluno surdo está entendendo ou não.
“Desde pequeno comecei a falar em Libras. Completei o 3º ano, apesar de todas as dificuldades”, afirma Otávio. Ele conta que a mudança de colégio foi difícil. A escola do ensino médio era muito boa, mas os professores e alunos não sabem libras, se o intérprete faltava não conseguíamos entender nada. Ficávamos esperando a aula acabar sem compreender o que o professor falava.”
Para Sônia Marinho, há três grandes desafios. O primeiro são as escolas públicas ou particulares abrirem as portas para a inclusão e acreditar que todo ser humano tem um potencial capaz de remover barreiras, independentemente de uma obrigação legal. O segundo são os educadores perceberem que todos são capazes de aprender, desde que se respeite o tempo de cada um. E o terceiro é abrir o mercado de trabalho. “Esses desafios têm a ver com questões nobres, que são solidariedade e compaixão.
INVESTIMENTO Minas Gerais deve contar, ano que vem, com um curso técnico de tradutor intérprete de língua brasileira de sinais (Libras) na rede estadual de ensino. A nova modalidade visa suprir a demanda crescente por esses profissionais e amenizar a dificuldade de contratação em alguns municípios do interior do estado. A Secretaria de Estado de Educação (SEE) informou que o curso ainda está em processo de formatação para definir as unidades que vão ofertar as aulas e número de vagas.
De acordo com dados do Censo Escolar 2016, a rede estadual de ensino conta com 2.996 alunos com deficiência auditiva. São 1.530 surdos, 1.455 com deficiência auditiva parcial e 11 surdos-cegos. Em Belo Horizonte, há 398 alunos, sendo que 259 são surdos, 138 com deficiência auditiva parcial e 1 surdo-cego. Atualmente, cerca de 1,3 mil tradutores intérpretes de Libras atuam nas escolas estaduais mineiras, segundo a SEE.
Ela informou que mantém o funcionamento de cinco Centros de Apoio à Pessoa com Surdez/CAS estaduais (Montes Claros, Belo Horizonte, Diamantina, Uberaba e Varginha) e dois núcleos de capacitação na área (Januária e Governador Valadares), que são responsáveis pela capacitação de professores e tradutores intérpretes de Libras, além da orientação pedagógica para a educação de surdos na rede estadual de ensino..