Terminada a maratona de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a ansiedade de 4,3 milhões de participantes do Brasil inteiro agora é outra: a expectativa do resultado. Isso porque a nota da avaliação é decisiva para uma vaga em universidade federal, processos seletivos das faculdades privadas, além da obtenção de bolsas e financiamento estudantil. Mas a concorrência acirrada para entrar num curso superior termina, lá na frente, muitas vezes, em abandono de um número surpreendente de vagas. Somente em 2016, conforme mostram dados do Censo da Educação Superior divulgados recentemente, 3,4 milhões de alunos de instituições públicas e particulares país afora deixaram para trás suas cadeiras de universitários. Isso equivale a 30% do total de matrículas. É como se a população inteira do estado de Alagoas tivesse desistido, por motivos diversos, que vão de problemas financeiros ao desinteresse pelo curso da graduação. Em Minas Gerais, no ano passado, foram 257.396 vagas ociosas (24% das matrículas totais).
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Três professores de Minas são finalistas em concurso que será disputado em dezembroMEC vai apoiar formação de professores para educação de surdos, diz ministroCandidatos consideram segundo dia de provas do Enem o mais difícil Gabarito oficial do Enem 2017 é divulgado pelo InepDesistências e desligamentos aumentam nas universidades brasileirasNo Brasil, as desvinculadas somaram 2.029.687 (17,7%) do total de 11,4 milhões de alunos matriculados. Dessas, 86% estavam na rede privada. Em Minas, o percentual também é alto: dos 1,07 milhão de estudantes, 176.080 abandonaram o curso (16,4% do total de matrículas), sendo 83,4% deles na rede privada. Os números tiveram um salto nos últimos cinco anos. Em 2012, as vagas ociosas no Brasil somavam 2,4 milhões, sendo 82,5% nas instituições particulares. Em Minas Gerais, estavam em menos de 200 mil (21,2% dos universitários). Há cinco anos, as matrículas desvinculadas giravam em torno de 1,4 milhão no país e de 133 mil nas instituições localizadas em território mineiro.
O atleta Matheus Menezes Simões Queiroz, de 19 anos, entrou nas estatísticas.
O jovem Lucas Rezende Lima, de 26, também deixou a faculdade para trás, no 3º período de jornalismo do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), ano passado, sem formalizar o cancelamento da matrícula. “Foi um misto de motivos. Primeiro, por causa da crise financeira que se estabeleceu no país e também porque o curso não estava atendendo tão bem às minhas expectativas. Imaginava outras coisas e quando percebi como era na prática a profissão, não me interessei muito”, afirma.
A estudante Lorenna Narciso Costa, de 20, não teve tempo nem de trancar a matrícula por causa de um problema de saúde repentino.
O Ministério da Educação (MEC) informou, por meio da assessoria de imprensa, que, no caso das instituições federais, não pode medir os possíveis prejuízos do abandono das vagas. Isso porque a efetiva ocupação das vagas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) está sob a responsabilidade das instituições, no âmbito da autonomia conferida pela Constituição Federal, sendo a adesão delas facultativa. Acrescentou que compete às instituições federais, que têm autonomia para criar mecanismos próprios, preencher as vagas não ocupadas no processo regular. “Cada instituição pode adotar uma metodologia própria para a ocupação das vagas. O Sisu trabalha apenas com novos ingressos e não com vagas ociosas, sendo que tem média de 86,9% de ocupação das vagas ofertadas, desde a sua criação, o que facilita e ajuda as instituições a preenchê-las”, diz o texto.
PESO DA ECONOMIA O diretor-executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), Sólon Caldas, atribui boa parte das desistências ao cenário econômico e às mudanças nas políticas federais de bolsa e financiamento estudantil. “Os números do censo mostram uma queda significativa nas matrículas de novos ingressantes entre 2014 e 2015, e mais ainda de 2015 para 2016, quando tivemos um crescimento negativo no ensino presencial em decorrência da falta de financiamento para os alunos que não têm condições de arcar com o investimento em educação”, afirma.
Segundo ele, desde 2015, quando houve mudanças nas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), a adesão e o cumprimento dos critérios de acesso ficaram mais difíceis para os alunos. Para Sólon Caldas, as mudanças ocorridas também deixaram de permitir que o aluno com dificuldades financeiras pudesse recorrer ao financiamento, o que fez a evasão aumentar e deixar milhões de alunos fora do sistema. “Com o agravamento da crise econômica e política que o país está passando, aliada ao aumento do desemprego, esse cenário fica cada vez mais difícil e, consequentemente, o sonho do ensino superior mais distante para muitos brasileiros.”
Palavra de especialista
Andréa Ramal - Consultora em educação e doutora em educação pela PUC-Rio
“O principal motivo para esses números é a evasão, a desistência.