Os candidatos a vagas em instituições públicas de ensino superior têm até sexta-feira para se inscrever em até duas opções de cursos. As inscrições são feitas pelo sistema informatizado no endereço www.sisu.mec.gov.br e estão abertas para quem já terminou o ensino médio, fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2017 e não zerou a prova de redação. O aluno deve ter em mãos o número de inscrição e a senha do Enem. Em 2018, são ofertadas 239.601 vagas e, ao todo, são 130 instituições federais e estaduais, 19 delas em Minas.
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Algumas instituições de ensino adotam o critério de ações afirmativas reservando cotas. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vai ofertar no Sisu mais de 6.300 vagas, metade reservada para políticas afirmativas. Diariamente, o Sisu vai divulgar a nota de corte para cada curso.
Ao acessar o sistema, o candidato deve escolher, por ordem de preferência, até duas opções de curso, seja na mesma instituição ou em instituições diferentes. Funcionam como duas opções, inclusive, aqueles cursos da mesma graduação na mesma universidade, quando as aulas são em turnos diferentes.
Passado o exame, é hora das análises. Os resultados divulgados na última semana pelo MEC mostram que a educação básica anda a passos lentos. A principal avaliação do país constata um nível de conhecimento pela metade. As médias gerais das provas objetivas das áreas de conhecimento cobradas no teste não passaram de 519,3 pontos, de um total de mil. Fosse numa escola regular, onde normalmente se exige 60% da totalidade de pontos distribuídos para “passar de ano”, muita gente seria reprovada. Os treineiros, estudantes que ainda não se formaram no ensino médio, se destacam com as médias mais altas em todas as áreas.
REPROVAÇÃO Na prova de códigos e linguagens, que envolve português, literatura e língua estrangeira, 92,5% dos alunos seriam reprovados. Esse percentual de participantes, que se traduz em 4,3 milhões de pessoas de um total de 4,7 milhões, alcançou menos de 600 pontos. A média geral desse teste foi 510,2, bem abaixo da do ano passado (520,5). Apenas uma pessoa no país inteiro obteve a pontuação máxima. Em ciências humanas, 82,7% dos participantes ficaram abaixo dos 600 pontos (3,8 milhões). A área teve a maior média geral entre as quatro objetivas: 519,3.
No segundo dia do Enem, quando 4,4 milhões de pessoas compareceram aos locais de prova, matemática daria bomba em 79,5% dos participantes com média inferior a 600 pontos. E o “bicho-papão” dos estudantes teve um salto e tanto, uma vez que a média geral passou de 489,5 pontos na edição de 2016 para 518,5 no ano passado. Já as matérias ligadas a biologia, química e física também não seriam complacentes, reprovando 87% de seus estudantes – um universo de 3,9 milhões de pessoas.
Treineiros batem bolão nas provas
Outro ponto que revela as falhas no ensino brasileiro é o desempenho dos treineiros. Em todas as áreas eles se saíram muito melhor que o resto dos participantes. A média deles é até 20 pontos mais que a geral e a de concluintes. Geraldo Júnio explica que o perfil é diferente: eles estão vivenciando o conteúdo no dia a dia da fase escolar, enquanto a maioria dos outros candidatos já se formou há algum tempo e está fora da sala de aula.
Além disso, há a condição socioeconômica: o estudante que ainda não concluiu o ensino médio não tem isenção da taxa do Enem, revelando, então, a provável participação de estudantes de escolas particulares e as disparidades nos sistemas de ensinos.
“Os meninos de poder aquisitivo menor nem sempre terão a oportunidade de prestar como treineiro. Assim, entra aí uma outra questão da própria condição social que influencia a educação privada. As universidades públicas precisaram criar cotas, senão seriam instituições para atender apenas estudantes de escolas particulares”, ressalta o educador.
“O fator financeiro com certeza exclui boa parte da população mais carente que poderia participar como treineiro. Assim, essas notas são o resultado de quem tem acesso a bens culturais e educacionais e está com a mão na massa em sala de aula.”
Provas com perfil acadêmico
A queda em médias, que há anos já não são satisfatórias, tem uma explicação, na opinião do diretor do Colégio Arnaldo, Geraldo Júnio dos Santos, que já atuou como consultor do MEC. “Até 2012, as provas eram elaboradas por professores do ensino médio.
Ele garante que, mesmo nesse modelo, nem de longe o exame se assemelha aos antigos vestibulares. “Antes, era o estilo decoreba. As questões continuam tendo o texto suporte e a questão de comando pedindo interpretação se mantém como um pré-texto para os alunos responderem. Se não, a prova de ciências humanas, por exemplo, correria o risco de se tornar um teste de linguagens, como antes, em que ciências nada mais era que um teste de português”, avalia Geraldo Júnio.
Independentemente do grau de dificuldade, algo é certo. “Os alunos demonstraram na edição de 2017 desempenho baixo, se considerada a expectativa da banca elaboradora da prova”, afirma o educador. Dentro disso, é importante avaliar quem elabora, o que se espera do candidato e o nível do candidato que vai fazer a prova. “Esse resultado é como se eu pudesse abrir mão de metade do conhecimento que tenho na minha educação básica”, pontua.
“Mas a performance do candidato está aquém da banca, ou é ela que está idealizando uma educação básica muito além do que programas governamentais proporcionam?”, questiona Júnio, acrescentando que é preciso se perguntar se a educação pública e privada estão no mesmo nível da prova elaborada pelo órgão público.