Você já pensou na possibilidade de ensinar seu filho em casa? Conhecido como homeschooling - ou ensino doméstico – essa modalidade de aprendizagem vem conquistando cada vez mais adeptos. Nela, pais ou tutores assumem a responsabilidade pela educação básica dos filhos ao invés de enviá-los ao sistema de ensino padrão.
Permitido em quase 63 países, o modelo de educação familiar tem ganhado força no Brasil. Segundo a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), a procura por essa modalidade aumentou 916% entre 2011 e 2016.
Hoje, em todo país, cerca de quinze mil crianças são ensinadas em casa. Porém, apesar do número de famílias que aderiram ao modelo de ensino ter aumentado, o assunto é polêmico e continua acendendo uma forte discussão legal. O parecer em vigência do Ministério da Educação considera que a modalidade fere a Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases Educacionais (LDB) e Estatuto da Criança e Adolescente (ECA).
A Constituição Federal aponta nitidamente para a obrigatoriedade da presença do aluno na escola. E ainda afirma que cabe ao poder público a obrigação de recensear, fazer a chamada escolar e zelar para que os pais se responsabilizem pela frequência à escola. Para o Estatuto da Criança e do Adolescente, a matrícula na rede regular de ensino é obrigatória e a falta de frequência é compreendida como negligência dos pais.
Entre os motivos que levam as famílias a adotarem esse método se encontram: desilusão com o sistema educacional público e privado, receio de um convívio nocivo nas escolas ou apenas a intenção de assumir a responsabilidade pela formação dos filhos.
Assim que teve sua primeira filha, Adna começou a ensiná-la através do homeschooling. Leticia, hoje com 11 anos, só começou a ir para escola quando seu segundo irmão nasceu. "Meu filho tinha um pequeno problema na fala e fui aconselhada a colocá-lo na escola. Só depois disso, que decidi que Leticia iria também, mas ela já chegou na instituição alfabetizada". Quando a terceira filha chegou, a dona de casa já começou a ensiná-la na sua própria casa. "Quando comecei a comparar o desenvolvimento de Laís com os mais velhos, percebi que ela estava muito mais desenvolvida.
Tecnologia nunca fez parte da rotina da família, que é cristã e tem a bíblia como base até para os estudos e, por conta disso, o segundo filho de Adna sofria muito na escola. "Ele não conseguia conviver com as outras crianças, que zombavam dele. Era um sofrimento. Depois que percebi essa situação, resolvi que ele seria o próximo a sair da escola". Quando saiu, João estava no terceiro ano do ensino fundamental e as mudanças observadas por sua mãe foram bastante significativas. "A autoestima aumentou muito e ele até se desenvolveu nas matérias que tinha dificuldade", acrescenta.
Hoje, Leticia que é a mais velha dos irmãos, também estuda em casa. "Leticia era a única que ainda frequentava a escola, mas ela ficava muito a parte do que acontecia na nossa família. Por esse motivo, decidi que o melhor caminho seria tirá-la também".
Na pesquisa feita pela ANED, 32% dos pais acham que os filhos terão uma educação mais qualificada fora da escola e 25% declararam problemas relacionados aos princípios de fé da família. Violência e bullying também foram as principais motivações declaradas pelos pais para apostar o ensino doméstico. As famílias que adotam o método garantem que, em casa, as crianças não ficam sem suporte. Elas seguem um roteiro definido, com uso de apostilas e livros baseados no currículo formal escolar.
Ainda segundo dados da ANED, a educação domiciliar proporciona maior amadurecimento, desenvolve a disciplina de estudo e gosto pelo aprendizado, além de gerar adultos seguros e com uma autoestima sólida. Antes de optar pelo ensino em casa, a família precisa saber que o seu papel não é o de um professor, mas de um facilitador entre os seus filhos e o conhecimento.