Diante do elevado número de desempregados do país, a falta de oportunidade atinge de forma desigual diferentes grupos sociais. Ter concluído o ensino superior é um grande diferencial. E, apesar do diploma não trazer a certeza da inserção no mercado de trabalho, ele coloca o trabalhador em uma posição de vantagem salarial.
Segundo dados do estudo feito pelo pesquisador Sergio Firpo, professor do Insper - instituição de ensino superior e pesquisa, um trabalhador com diploma pode ganhar até 5,7 vezes mais do os profissionais com outros níveis de escolaridade. Essa diferença salarial é também consequência dos efeitos provocados pela crise econômica brasileira.
Os números que deram suporte ao estudo foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) e tiveram como base o rendimento mensal habitual do trabalho principal de brasileiros com mais de 14 anos. Hoje, um trabalhador que concluiu a faculdade recebe, em média, R$ 4 mil, enquanto um trabalhador com até um ano de estudo ganha, em média, R$ 850. A diferença entre os dois rendimentos foi de 471% - maior do que no ano passado, quando a diferença foi de 443%.
Segundo afirmações de Sergio Firpo há uma piora nesse quadro, embora ela seja lenta. O especialista salientou que é importante lembrar que esse diferencial já foi maior, sobretudo nos 90 e no início dos anos 2000. Em 2012, esses números também eram negativos. Os mais escolarizados ganhavam em média quase 500% a mais que os que tinha até um ano de estudo.
O que piora ainda mais essas estatísticas é quantidade de pessoas que, por falta de opção, vivem na informalidade. Esse é caso de Elaine Silva, 36 anos, que só estudou até o ensino médio e foi demitida em janeiro do seu emprego como balconista, na empresa em que trabalhou por 12 anos. Elaine está há sete meses procurando por um emprego formal e, assim como Firpo, também acredita que a crise é o principal fator para essas demissões e para a dificuldade de recolocação no mercado de trabalho.
Elaine estava conseguindo se manter por conta do seguro desemprego, mas esse é o último mês que terá direito ao benefício. Para ter como arcar com os seus gastos durante os próximos meses, decidiu partir para a informalidade. "Vou vender roupa infantil. Ainda não pude calcular quanto será a minha renda a partir de agora, mas eu recebia R$ 1.300 de seguro desemprego", assegurou.
Andrey Oliveira, 22 anos, vive uma realidade diferente. Formando desde o início de 2018, o jornalista só levou dois meses para conseguir se inserir no mercado. Trabalhando há seis meses no atual emprego, está satisfeito por estar atuando em sua área. "Fico feliz que tenha dado certo. As coisas não estão fáceis, mas acredito que facilita para quem investe de verdade nos estudos".
Pouca escolaridade X Maior Dificuldade
É fato que os candidatos menos escolarizados enfrentam um mercado mais restrito. Dados da última Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (Pnad) revelaram que, no primeiro trimestre deste ano, a ocupação para os trabalhadores sem instrução ou com menos de um ano de ensino recuou 19,9% na comparação com o mesmo período de 2017. Entre os brasileiros que concluíram o ensino médio, a ocupação cresceu 2% neste ano e, para os trabalhadores com ensino superior, o avanço foi de 5,3%. Os dados apresentados pela Pnad abrangem empregos formais e informais.
Embora, a realidade ainda seja preocupante, no primeiro semestre de 2018, o Brasil criou mais de 340 mil vagas formais de emprego, ou seja, vagas com carteira assinada. Esses dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) da base do Ministério do Trabalho e emprego (MTE). Entretanto, houve uma perda de postos de trabalho formais em todos os níveis de escolaridade abaixo do ensino médio, o que confirma novamente, que quanto menor a escolaridade maior a chance de ficar desempregado.