Os resultados de aprendizagem dos estudantes brasileiros são absolutamente preocupantes. E não se trata de opinião ou de análise de terceiros: a conclusão é do próprio Ministério da Educação (MEC), que escancarou a catástrofe do ensino no país usando termos pesados para caracterizar os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). É ínfima a porcentagem de alunos do 5º e do 9º do nível fundamental com conhecimento adequado em português e matemática. Pior ainda é a situação do 3º ano do ensino médio, série na qual sete em cada 10 jovens não conseguiram sequer aprender o básico. Minas Gerais e Belo Horizonte acompanham a derrocada nacional, com números ruins de uma ponta a outra e um 9º ano merecedor de atenção especial. O momento de transição do ensino fundamental para o médio se apresenta como um divisor de águas turvas, ao mostrar a decadência de aprendizado ao longo das séries iniciais e anunciar um fim desastroso na etapa seguinte.
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MEC divulga nesta segunda-feira índice de qualidade do ensino básicoMaioria dos estudantes não aprende português e matemática nas escolas mineirasEm Minas, escolas particulares também estão abaixo da meta de desempenhoNenhum estado atinge a meta do Ideb para o ensino médio; nota de Minas cai no fim do fundamentalNo 9º ano, a queda no aprendizado impressiona. De acordo com o Saeb, a cada 100 alunos, dois aprendem português de maneira adequada em Minas Gerais e menos de três a cada 100 aprendem matemática como deveriam – mesma proporção para os alunos de BH em relação à língua portuguesa. Na capital, somente 3,1% dominam como desejável a disciplina ligada a contas e fórmulas.
Na última etapa da educação básica, quando os estudantes estão a um passo de entrar no ensino superior, a tragédia se completa: em Minas, 0,84% dos alunos aprendem português como deveriam e 2,1%, a matemática. No país e no estado, cerca de 70%, ou seja, sete em cada 10 estudantes, aprendem quase nada nas duas disciplinas, tendo o conhecimento tido como insuficiente. A rede municipal atende apenas o ensino fundamental, por isso, não há dados da capital.
“O ensino médio brasileiro revelado pelo Saeb 2017 é um desastre. O desempenho insuficiente dos nossos estudantes, edição após edição da avaliação, confirma a importância das mudanças que trouxemos com o novo ensino médio”, afirmou, na coletiva de apresentação dos dados no fim da semana passada, o ministro da Educação, Rossieli Soares. Autora da Matriz de Referência do Saeb na década de 1990 e presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini defende a busca por soluções inovadoras.
Diante desse cenário, a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patricia Mota Guedes, considera urgente a necessidade de um olhar específico para o 9º ano, na tentativa de barrar o que os números mostram. “Temos conseguido uma evolução nos anos iniciais do fundamental, sobretudo em língua portuguesa, mas a matemática é ainda um desafio e um gargalo. Já os anos finais parecem uma etapa esquecida, não tendo recebido atenção de programas nem iniciativas federais e de outros entes públicos”, diz. “Foi elaborado o novo ensino médio, foram pensadas políticas de alfabetização em colaboração com estados, municípios e entidades, mas não houve um olhar específico para o 9º ano, que é uma etapa crítica. Parte dos problemas do nível médio pode ser explicada pelo mau desempenho nos anos finais, quando o aluno não vai bem e, por isso, opta por deixar a escola ou seguir nessas condições”, afirma.
REPETÊNCIA Patricia lembra que as taxas de reprovação, que nos anos finais do fundamental sobem de maneira exponencial e não aparecem no Saeb, são as consequências do mau desempenho. “Os estudantes começam a ser reprovados de forma intensa no 3° ano do fundamental e se intensifica nos anos finais, onde há uma defasagem idade/série muito grande, com alunos que repetiram dois ou três anos.
A gerente do Itaú Social destaca ainda que os dados mostram o nível de comprometimento das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) relativas à qualidade do aprendizado até 2021. “Estamos muito longe e isso é motivo de mais um grande pacto nacional. Não há fórmula mágica e sabemos que tem muitas evidências e convergências que precisam ser feitas no nível sistêmico pelas secretarias de Educação. O desafio é como fazer essa grande mudança”, diz. “A situação é preocupante e é preciso ir além do diagnóstico.”
Uma das saídas, segundo Patricia Guedes, é mapear as redes de ensino que conseguiram avançar, a fim de se reconhecer esforços e trazer luz a quem procura sair do gargalo. Para a especialista, o gargalo no 9º ano é escancarado ano após ano em outros indicadores, entre eles o Censo Escolar, que deixa claro a necessidade de a última série do nível fundamental ser objeto de políticas públicas para consertar a situação e de articulação entre estados e municípios.
ACIMA DA MÉDIA Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) destacou que Minas Gerais melhorou, no geral, no desempenho em matemática e língua portuguesa, em todos os níveis de ensino avaliados, em relação à última avaliação, feita em 2015. “Inclusive, o estado figura entre outros nove da Federação que conseguiram apresentar, em todas as etapas, em língua portuguesa e matemática, proficiência acima da média nacional”, ressalta o texto. A secretaria credita o destaque ao desempenho no ensino médio da rede estadual, cujos estudantes obtiveram nota 268,49 em português, aumento de 5,8 pontos em relação a 2015, a pontuação mineira ficou em 262,96. Já em matemática, a nota dos estudantes do nível médio pulou de 265,2, em 2015, para 271,6, em 2017, aumento de 6,4 pontos.
“Para a Secretaria de Educação, o resultado do desempenho é ainda mais significativo se considerarmos que, de 2015 a 2016, mais de 47 mil jovens que estavam fora da escola retornaram aos estudos, um número recorde.
No ensino fundamental da rede estadual, os resultados também são tidos como significativos. No 5º ano, houve aumento no rendimento em português – passando de 220,54, em 2015, para 225,61, em 2017 – e em matemática – de 230,9, em 2015, a 232,7, em 2017. Houve aumento também em português no 9º ano, que passou de 253,57 pontos para 254,91. A secretaria reconhece o decréscimo de rendimento em matemática, no 9º ano, “o que mostra que precisamos investir nessa área de conhecimento, que é sempre um gargalo para todas as redes”, diz o texto.
Também procurada, a Secretaria Municipal de Educação informou que não teve tempo hábil para analisar os resultados do Saeb..