Não tem jeito. O primeiro domingo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é de muito texto e muita leitura. Além da redação, a avaliação visita a história, geografia, filosofia e sociologia, na prova de ciências humanas, e o português, literatura e inglês ou espanhol no teste de linguagens. Um dia pesado, bastante cansativo e que exige preparação física para dar conta dessa maratona. Capacidade de análise, conhecimento de mundo e interpretação dos mais variados gêneros linguísticos são alguns dos requisitos em jogo logo na estreia da maior avaliação do país.
Professores esperam provas sem surpresas, seguindo os mesmos padrões das edições anteriores. A prova de ciências humanas é considerada um teste de habilidade. Ela cobra do candidato a capacidade de interpretar e ter uma boa visão de mundo. Assim, análise crítica e conhecimento sobre o que está por trás de textos e charges, por exemplo, mostrando que sabe interpretar fontes diversas de informação, são essenciais. “O conhecimento memorizado é mais um instrumento para análise”, avisa a professora de história Marisa Ribeiro Silva, assessora da área de história do Colégio Loyola, no Bairro Cidade Jardim, Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
O teste dialoga com a prova de português, com questões atuais sobre direitos humanos e cidadania. Alguns conteúdos, segundo a professora, são bem recorrentes. Brasil República, com destaque para a ditadura militar de 1964, bem como assuntos relacionados à mulher. Marisa chama a atenção, este ano, para efemérides importantes de eventos históricos significativos: 130 anos da escravidão; 70 anos do aniversário da Declaração dos Direitos Humanos; 100 anos do fim da 1ª Guerra Mundial; 50 anos do movimento de Maio de 68 e do AI-5. “Há muita chance de cair, até levando para proposta de redação”, avalia. Na geografia, Marisa ressalta que a abordagem recai muito sobre problemas urbanos, agroindústria, tecnologia e energia, dialogando com temas atuais.
Ela destaca ainda uma característica da prova que pode levar o candidato ao erro: questões voltadas para interpretação, sem qualquer afirmativa historicamente errada, mas com apenas uma mais adequada ao texto. “Sempre tem uma muito próxima, chamada de distrator. Para isso, o aluno deve ter calma. Não dá para fazer a prova com pressa ou nervoso, senão não consegue interpretar e fazer a relação. Capacidade de leitura e interpretação é fundamental”, enfatiza.
Para esta semana que antecede o Enem, a dica da professora é revisar, produzindo mapa mental, além de refazer provas de edições anteriores. “Organizar conceitos ajuda na análise e interpretação. Não é semana para morrer de estudar. Tem que revezar bem entre alguns momentos de estudos e relaxamento para ir calmo para a prova.”.
De olho numa vaga no curso de direito, Luisa Sousa Lima Leite, de 17 anos, acha a prova de ciências humanas a mais tranquila do primeiro dia. Embora saber o conteúdo seja determinante em algumas questões, a jovem diz que se não estiver tão familiarizada com a matéria pode tentar interpretar para encontrar a resposta. Luisa já está seguindo a dica da professora e reduziu a carga de estudo para desacelerar. Na escola, ela aproveita os aulões descontraídos e outras atividades propostas pelo colégio para os estudantes relaxarem. “Não vou parar de estudar, mas não quero ficar tão sobrecarregada perto da prova”, diz.
HABILIDADES E RESISTÊNCIA
Na prova de linguagens, manda a habilidade de leitura, combinada com conteúdos, mas sem matérias extremamente dominantes. Há coincidência de uma ou outra ter sido mais cobrada em edições anteriores, mas nada que se reverta em tendência, conforme o professor de língua portuguesa Carlos Antônio Simões, do Colégio Santo Antônio, na Savassi, mesma região da capital. “Isso é 50% do que é necessário. Os outros 50% contam com resistência física, porque é uma prova demorada, com textos longos, e requer habilidades de leitura e interpretação de textos. Há mais cuidado em não fazer prova com todos os textos longos, mais equilibrado, próprio da evolução da prova, mas continua sendo muito desgastante”, avalia.
O professor ressalta que as atividades cobradas pelo teste são construídas ao longo dos anos, não sendo possível adquiri-las no curto prazo. “Em relação aos vestibulares antigos, o Enem evoluiu muito ao valorizar o que o ensino fundamental e médio fizeram pelo aluno ao longo do processo de aprendizagem e não uma prova para a qual se prepara ao longo de um curso intensivo”, diz. Por isso, ele é enfático: “Véspera da prova é dia de descanso.”
A aluna Ana Clara Minardi Castro, de 17, concorda que a esta altura não há mais nada a fazer. A partir de amanhã, a ordem é relaxar. “Não tem como aprender mais nada. A prova de linguagens é tranquila, mas pode pegar o cansaço, pois os textos são grandes”, diz a candidata a uma vaga em medicina. Familiarizada com o exame por causa das revisões de edições antigas e por ter feito como treineira em 2017 e 2016, Ana Clara só pensa num ponto: “Ter confiança e tranquilidade.”
Não perca, neste domingo gabarito extra-oficial das provas do Enem 2018, parceria Chromos/Portal Uai