Jornal Estado de Minas

Segundo dia do Enem 2018 tem 29,2% de ausências e a correria de sempre

Candidata corre para alcançar o portão aberto na PUC Minas, se desequilibra e é ajudada por colegas - Foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press

Depois de um primeiro domingo de provas com flagrante de tentativa de fraude em Montes Claros, Norte de Minas, a segunda fase do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ontem, transcorreu com tranquilidade em Minas e no país, com um percentual geral de ausência um pouco acima dos testes da semana passada: 29,2%, contra 24,9% no dia 4 – ainda assim as menores taxas desde 2016. O ministro da Educação, Rossieli Soares, avaliou a edição de 2018 como a melhor da história do teste e informou que ontem não houve registro que implicasse reaplicação de provas. Nas avaliações de ontem, 66 pessoas foram eliminadas, a maioria, 64, por descumprimento de regras do edital, uma por ter sido flagrada em revista no detector de metais e outra porque se recusou a coletar dados biométricos. Neste ano, pela primeira vez  alunos que se julgarem prejudicados poderão fazer registro de ocorrência que considerarem relevante durante as provas, até a próxima segunda-feira, por meio da página do participante, no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A divulgação dos gabaritos oficiais deve ocorrer até o próximo dia 14 e do resultado, até 18 de janeiro, com expectativa de antecipação.

Veja o gabarito extraoficial do primeiro dia de provas do Enem 2018

Veja o gabarito extraoficial do segundo dia, parceria do Portal Uai e Chromos 

O segundo e último dia de provas, quando os candidatos resolveram 90 questões de matemática, física, química e biologia, comprovou que o Enem chega aos 20 anos unindo gerações em torno dos estudos e dos desafios da maior avaliação de conhecimento do país. Ontem houve a tradicional correria, os pais que se despediram dos filhos na porta dos locais de prova para desejar boa sorte, mas também aqueles que seguiram para a sala de aula, pois também iriam se submeter à avaliação. Um dos exemplos foram Lucília Lúcia Moreira, de 47 anos, e Fabiana Moreira, de 20, mãe e filha, moradoras do Bairro Pindorama, na Região Noroeste de Belo Horizonte, que fizeram prova na mesma sala de aula, no câmpus da PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico, na mesma região da capital.

Lucília quer fazer pedagogia, enquanto Fabiana, teatro, para ser atriz e diretora. “Há dois anos fiz o magistério, mas o ensino médio já foi há muitos anos.
Estudei mais agora, com ela”, afirmou a mãe, enquanto abraçava carinhosamente a jovem. Pouco antes das 13h, horário de fechamentos dos portões, Fabiana demonstrou confiança: “As provas de hoje não são muito meu forte, mas estou esperançosa”, disse, com um sorriso.

No prédio da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no câmpus Pampulha, também havia integrantes da mesma família encarando o Enem – e, por coincidência, também na mesma sala. Os irmãos Marques Pablo, de 23, e Carolina Thaís, de 17, moradores de BH, dividiram suas escolhas entre gastronomia e medicina veterinária. “Amo cozinhar, esse é o meu sonho, por isso quero fazer gastronomia. Todo mundo precisa comer”, disse Marques. Thaís se mostrou satisfeita pelo fato de, no último dia de prova, ter ciências biológicas. “Das disciplinas, é a que tenho mais facilidade”, observou.

Em busca de uma vaga para se graduar em letras, a estudante Maria Clara Galvão, que tem paralisia cerebral, chegou ao câmpus Pampulha acompanhada do pai, Fernando Queiroga.
“Eu tenho um pouco de dificuldade em matemática, mas pretendo ir bem. Quero me especializar em inglês. Felizmente, o trânsito estava tranquilo hoje”, contou. Fernando, que é pedagogo e professor da rede pública há 20 anos, destacou as dificuldades para dar uma oportunidade à filha. “Consegui um laudo, mas o Inep não atendeu às minhas reivindicações. Queria que ela fizesse a prova em um andar mais baixo, porque tem dificuldade de locomoção. Contudo, não obtive resposta”, queixou-se.

Ouvido candidatos e seus acompanhantes, andar pelos locais de provas é comprovar que elas realmente são um encontro de gerações: tem meninas de cabelos coloridos e jovens tatuados, caminhando ao lado de pessoas que já se graduaram e buscam novos rumos na vida. Formada em letras e professora da rede pública, Cristina Soares, de 32, moradora do Bairro Carlos Prates, na Região Noroeste, quer agora fazer direito.
“Meninada, para mim, é normal, pois trabalho com eles o tempo todo”, observou Cristina, que se declarava tranquila diante do portão da PUC Minas.

CONTEÚDO Embora o gabarito oficial ainda demore uma semana, especialistas fazem suas avaliações sobre as provas. Professora de química do Colégio e Preparatório Chromos, Renata di Blasio considerou a de química como “muito conteudista”, o que se traduz por questões seguindo a tradição de exigir do candidato domínio dos conhecimentos da disciplina. Segundo ela, foi também mais teórica do que no ano passado: “As questões de cálculo estavam mais fáceis e em menor quantidade do que em 2017”, afirmou, lembrando que a maioria tem mais dificuldade em cálculos mais complexos.

A professora Renata disse ainda que houve, na prova de química, questões com característica de interdisciplinaridade com a biologia, por exemplo: “Esse aspecto, com artigos científicos, exigiu interpretação e conhecimento”. Sobre as demais provas, embora não sejam do campo de estudo da professora, ela disse que estavam dentro do esperado: ondas eletromagnéticas, na física; geometria, na matemática; e DNA, na biologia.

DOIS LADOS Se havia familiares fazendo provas, duplas de amigos e amigas também encararam a última etapa da maratona deste ano. Larissa Bartolini, de 20, moradora do Bairro Padre Eustáquio, e Yasmin Leite, de 18, do Glória, ambos na Região Noroeste, estão certas de que o momento é de acreditar. “Gosto de química e biologia, então espero me sair bem”, planejava Larissa, que pretende cursar gastronomia. Yasmin, que escolheu direito, está no segundo Enem e se mostra cheia de esperança. As duas lembraram que, no segundo dia, a animação não é a mesma do início. “Cai um pouco”, disse Larissa.

Não muito longe, a cena era diferente, com cara de desânimo. Andreza Stephanie, de 19, moradora do Conjunto Filadélfia, na Região Noroeste, contou não ter se saído bem no primeiro dia.
Interessada em cursar biomedicina, revela que, se não passar, vai procurar uma faculdade particular. A amiga Giovana compartilha da ideia e vai fazer publicidade em escola privada. Na saída do câmpus da PUC, Débora Evelyn, de 22, moradora do Bairro Caiçara, na Região Noroeste, saiu sorridente e se mostrou confiante. “Sou como todo brasileiro, não desisto nunca “, afirmou. Ela considerou a prova de matemática muito difícil, mas não deixou nada em branco.

Fazendo o Enem pela primeira vez, como treineiro, Bruno Maia de Oliveira Peixoto, que quer ser médico, gostou da experiência. “Achei a prova de química complicada, mas deu pra fazer bonitinho”, brincou. Primeiro estudante a deixar o câmpus da PUC Minas, às 15h35, Richard Murilo Ferreira Silva, de 22, contou que já fez a prova duas vezes buscando o curso de direito. Das 90 questões, respondeu a 60 “com certeza”, mas, nas demais 30, admitiu: “Chutei”. Morador do Bairro Salgado Filho, ele acredita que poderia ter se preparado melhor. Mas, como serviu o Exército, deixou um pouco de lado os estudos.

 

 

Rolou nas redes


» Desespero
Uma estudante que fez a prova na Universidade Estadual do Piauí (Uespi) estava tão apreensiva com um possível atraso que largou sua moto no meio da rua com a chave na ignição.
O veículo foi encontrado por policiais do 9º Batalhão da PM do estado, que pesquisou pela placa no sistema e descobriu que a motocicleta pertencia a João Evangelista, marido da aluna. A PM precisou contatar a candidata apressada dentro da sala, para que ela autorizasse a entrega da motocicleta ao seu companheiro.

» Assalto
Em Macapá (AP), um aluno de 21 anos foi assaltado e agredido a caminho da prova. Ele passava pelo Centro da cidade quando dois ladrões o abordaram. Eles roubaram um relógio e um celular da vítima, além de lançar uma pedra contra o jovem. O estudante precisou ser socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

» #ShowdosAtrasados
A popular hashtag criada para zombar de quem atrasa para fazer as provas ontem foi dedicada a quem esqueceu o documento de identificação. “Palmas para quem ria dos atrasados do Enem e hoje (domingo) esqueceu a identidade”, lamentou uma usuária. Assim como no primeiro dia de provas, a internet lamentou os poucos memes gerados durante o exame.

» Sinceridade
“Nada que estudei caiu, chutei 80% da prova”. Foi assim que a estudante Suellen Lopes, de 25 anos, definiu seu desempenho nas avaliações de matemática e ciências da natureza. Ela foi a primeira a sair da Universidade Paulista (Unip) Vergueiro, no Centro de São Paulo. Também disse que estava zonza e com dor de cabeça por causa do desgaste causado pelas provas.

A maratona dos atrasados


Tanto na PUC Minas quanto na UFMG, a cena dos atrasados se repetiu e muita gente se atrapalhou com o tempo para entrar nos locais de prova. A estudante Sara Santos, moradora do Bairro Bonfim, chegou 30 segundos após o portão da PUC fechar. Ela disse que o ônibus atrasou, mas reconheceu que poderia ter saído mais cedo de casa, em vez de ao meio-dia. No mesmo local, uma outra aluna foi salva por uma amiga. Ela caiu duas vezes correndo em direção à universidade e foi auxiliada pela colega. Conseguiu entrar, nos últimos momentos.

 

A carteira de identidade foi vilã na Fafich. Duas alunas esqueceram o documento e não puderam passar pelos portões. Uma das atrasadas deixou o registro em um carro de transporte privado, contatou o motorista, mas não conseguiu entrar a tempo. A outra candidata cometeu a desatenção em casa e foi advertida pelo pai. “Isso é para ela ver que a vida é um pouco mais séria”, lamentou.

Atrasado em edição anterior, Wallace Militão chegou com antecedência neste ano. “Quando cheguei atrasado, nem fui pra grade tentar entrar. Tem gente que fica igual zumbi de The Walking Dead (série televisiva exibida pelo canal por assinatura Fox). Agora, estou fazendo o Enem para ingressar no curso de Cinema via ProUni”, contou.

- Foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press
Apesar do percalço, ela conseguiu entrar para fazer as provas - Foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press

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