Quem passa pelo prédio da via estreita, mais afastado da efervescência da avenida principal em frente à Reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não imagina o que há por trás daquela entrada aparentemente comum. São 5 mil metros quadrados de trabalho nas mais relevantes áreas da saúde e de meio ambiente, entre outras. Não por acaso, o Instituto de Ciências Biológicas (ICB), um dos principais centros de ensino, pesquisa e extensão do país, faz quase 25% de toda pesquisa produzida na UFMG.
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Uma sombra que se ergue sobre as carreiras de 4,6 mil alunos de graduação e mais de 1,2 mil estudantes de mestrado e doutorado, cujo futuro passou a ser incerto, além de um sem número de professores, pesquisadores e servidores.
No centro da edificação há laboratórios que foram todos reformados e equipados com maquinário moderno. Nas periferias, salas que precisam de revitalização urgente e também de insumos básicos têm problemas de umidade.
Em um dos laboratórios da unidade, onde ocorrem pesquisas sobre esquistossomose que avaliam o ciclo do caramujo e do rato há 26 anos ininterruptos, está o auxiliar de agropecuária José Carlos Reis dos Santos, de 52 anos, servidor por mais de duas décadas e meia. Dos cinco funcionários, sobrou só ele. A lupa que usa está remendada por esparadrapos. Os nichos onde estão caramujos hospedeiros do Schistomosa mansoni, feitos de madeira, são os mesmos de décadas atrás.
“Desse trabalho do José dependem várias teses. É uma cepa isolada há 60 anos, um patrimônio da universidade”, alerta o professor Vasco Ariston de Carvalho Azevedo, chefe do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da UFMG e do laboratório de Genética Celular e Molecular. Ele conta que seu departamento tem dinheiro somente até o fim do ano. Um dos maiores impactos pode recair sobre o biotério: o criadouro de animais para pesquisa pode parar.
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