Jornal Estado de Minas

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Racismo se aprende na Escola

A educação é aliada poderosa para consolidar o estado democrático, reforçar valores de solidariedade e de respeito ao próximo. A educação é um instrumento muito eficiente para incutir nos indivíduos uma postura ambientalmente responsável. Ah! A educação é a responsável pelo sucesso de povos, pela ascensão social de tantos ... Ah! A educação.

 

O poder da educação é o problema.

 

Da mesma forma que induz as pessoas para uma postura, digamos, correta e cidadã, a educação pode, também, ser o caminho certeiro para o preconceito fincar raízes inamovíveis.

 

Um triste exemplo, entre tantos, é o caso da escravidão negra no Brasil. Até hoje, quando pergunto em sala de aula por que os portugueses optaram pela escravidão dos negros africanos no Brasil, em detrimento da escravidão dos índios, escuto respostas terríveis e demonstradoras de uma ignorância enorme ... e perigosa.

 

Vamos lá. Quando questionados sobre o porquê da opção portuguesa, muitos respondem que o negro já era adaptado à escravidão, que o indígena resistia e fugia, que os nativos não sabiam trabalhar na lavoura, que a Igreja protegia os indígenas .... Quanta bobagem junta.

Mas, se fosse somente bobagem, menos mal. A questão, é que essas bobagens foram ensinadas nas escolas, foram eivadas de um verniz de sabedoria e fincadas na cabeça dos alunos. Esse é o problema maior, pois cria-se o preconceito com uma aura de verdade, com uma tatuagem de ciência e ... pronto, nunca mais o aluno esquece e, o pior e mais grave, perpetua esse saber adquirido incorretamente na sua família, no trabalho e na vida.

Foto da Fazenda Quititi, no Rio de Janeiro, 1865. Observe o impressionante contraste entre a crianc%u0327a branca com seu brinquedo e os pequenos escravos descalc%u0327os e aos farrapos. - Foto: Georges Leuzinger - Acervo Instituto Moreira Salles 

 

E a pergunta continua sem resposta. Por que os portugueses optaram pela escravidão negra africana no Brasil? Em primeiro lugar, a exploração da plantation e da mineração aurífera exigia braços em grande quantidade, o que não era possível arregimentar na Europa. Assim, na dinâmica da colonização, a escravidão tornou-se o tipo de trabalho economicamente mais adequado.

 

E por que o negro foi a opção? A pergunta ainda continua sem resposta.

 

Havia um negócio muito rentável para a burguesia portuguesa: O tráfico negreiro. Esta atividade gerava lucros fantásticos para os lusitanos.

Assim, a venda de escravos negros para a grande lavoura e para as minas, representava mais um negócio na engrenagem da colonização do Brasil. A escravidão do indígena (que ocorreu em escala pequena) não gerava lucros para a metrópole, à medida que o lucro da comercialização dos cativos locais ficava no Brasil.

 

Portanto, os lucros do tráfico negreiro foram a causa fundamental para que os portugueses optassem pelo escravismo negro aqui em Pindorama.

 

Ora, tanto os indígenas quanto os negros fugiam, resistiam, lutavam contra a escravidão. O trabalho braçal, ao qual foram sujeitos, não exigia conhecimento técnico prévio, qualquer um poderia ser escravo. A posição da Igreja, por sua vez, pouco interferiu, pois, na América Espanhola, os nativos foram barbarizados no trabalho compulsório diante dos olhos da Igreja Romana ... e ficou por isso mesmo. Então, os argumentos que são apresentados em muitas escolas por professores sem conhecimento, não se sustentam à luz de um estudo mais cuidadoso da História do Brasil.

 

 

E, retornando ao ponto de partida, verificamos que a educação equivocada contribui para solidificar posturas racistas, entranhadas num suposto saber científico. Ainda estudamos nas salas de aula que os negros eram adaptados à escravidão e, por isso, foram escravizados.

 

Esse é o grande problema de um País como o Brasil. Até hoje, em alguma escola, muitas crianças, brancas, negras e mestiças estão aprendendo, pela voz sábia de um professor, que o negro é inferior.

E vão crescer e virar adultos preconceituosos.

É assim que o racismo se impõe. E é na educação séria e comprometida que ele deve ser combatido, a fim de que a primeira lição a ser aprendida na escola seja a de que não existe raça adaptada à escravidão. A raça humana, isso sim, nasceu para ser livre.

Newton Miranda é arquiteto e professor de História do Percurso Pré-vestibular e Enem

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