Talvez eu esteja utilizado a expressão paradigma de modo exagerado, mas creio que é a expressão que melhor se aplica ao tema que abordarei neste artigo. Existem certos paradigmas, que são desastrosos para a educação. Quando definimos e conceituamos algo de forma dogmática, por tabela, limitamos aquilo que foi definido. Retiramos do objeto da definição a liberdade de ser outra coisa. Algumas frases que ouvi ao longo de meu trabalho como professor, em escolas públicas e privadas, são prova desses paradigmas.
No meio educacional é comum afirmar-se que “tal classe é muito ruim”. Os professores, de pronto, passam a considerar que os alunos daquela classe não são bons. E excluem a possibilidade de ela ser boa. Para que gastar sal com carne podre?
Ao embarcar no (pré) conceito de que uma classe é ruim, o professor retira de sua ação pedagógica a possibilidade de interferência positiva para o ensino-aprendizagem e, naturalmente, compromete seu trabalho. O docente olha para os alunos – ruins – como um monte de gente amorfa com a qual não vale a pena lidar.
Outra frase, comum nas escolas, é uma das maiores e piores pérolas da educação. “O professor fulano dá aulas para quem sabe a matéria”. Eu sempre achei que o professor era necessário para quem não sabe e precisa saber alguma coisa. Essa é a grande questão da educação.
“A escola privada é melhor do que a escola pública. ” Quanta bobagem! A sociedade precisa parar de fazer essa comparação rasteira. Existem escolas boas e escolas que não são boas. Os pais e a comunidade devem possuir meios para aferir se a de seus filhos é boa.
“Prefiro pecar pelo excesso a pecar pela omissão”. Ouvi essa afirmativa de um professor que justificava o volume excessivo de conteúdo ministrado aos seus alunos.
Certa feita, um aluno de classe média me perguntou o porquê do estudo sobre o marxismo já que ele e seus colegas não eram proletários e, portanto, não necessitavam daquela matéria que, a princípio, cheirava a proselitismo. Gostei da pergunta e percebi, diante da postura ideológica do meu aluno, que ele havia compreendido o tema. Ao dizer que não fazia parte do proletariado, assumiu consciência de sua posição social e percebeu a questão da luta de classe tratada por Marx. De uma forma curiosa, entendeu o marxismo, e sua reação mostrou seu posicionamento na sociedade e no contexto no qual vivia. Isso é educação. O que meu aluno fez com o marxismo, eu não sei.
Mudando radicalmente de assunto, os ambientalistas que me perdoem, mas continuarei dando descarga em minha privada. Digo isso porque li, uma vez, que uma personalidade defensora da natureza, e radical na preservação do meio ambiente, afirmava que, na sua casa, todos estavam proibidos de acionarem a descarga quando fossem urinar. Se for amarelo, dizia o distinto, nada de descarga.
Sou do tempo em que a descarga era acionada imediatamente após o uso da privada. Não tenho paciência com radicalismos de qualquer espécie, mas, nesse ponto, sou radical. Creio que há água suficiente para isso. Posso diminuir o tempo no banho, evitar lavar o carro. Mas sou irredutível quanto à descarga. Aciono a descarga e ponto final. Principalmente, quando vejo flutuando na água da privada as expressões:
“Dou aula para quem sabe”; “Prefiro pecar pelo excesso a pecar pela omissão”; Tal classe é muito ruim”; Escola privada é melhor do que escola pública”.
Newton Miranda é Arquiteto e professor de História do Percurso Pré-vestibular.
.