No início da década de 1930, na Espanha, havia uma ebulição política: esquerda e direita estavam fervilhando e o caldo em breve entornaria. Uma violenta guerra civil eclodiria.
A direita, organizada em torno dos nacionalistas e conservadores, incluindo as Forças Armadas, a Igreja Católica, os grandes proprietários e os demais setores que, de um modo geral, possuíam em comum o ódio às esquerdas. À frente desse ódio, estava o general Francisco Franco.
A esquerda agrupava-se em torno da frágil República. Eram os sindicalistas, comunistas, liberais, democratas e os anarquistas. O apoio da União Soviética, de Stálin, deixava bem claro, para a oposição direitista, o rumo que a Espanha deveria tomar com os republicanos.
Partida, seccionada pelas ideologias conflitantes, a Espanha e seu povo caminhavam para o genocídio.
Os anarquistas, por exemplo, atuantes desde o século XIX, almejavam um governo sem Estado, baseado no esforço coletivo e comunitário dos trabalhadores. Durante a Guerra Civil, que explodiu em 1936, os anarquistas chegaram a organizar governos anárquicos em algumas partes do país, tomaram fábricas e propriedades que foram entregues à gestão dos trabalhadores. Em vão!
Francisco Franco venceu. Os conservadores nacionalistas venceram e empreenderam uma “faxina” ideológica no país.
A imagem de Guernica, imortalizada na obra de Picasso, é um retrato da destruição que provocou tantas mortes. Os fascistas, com apoio de Hitler e de Mussolini assumiram o poder. Franco governou a Espanha até o ano de sua morte, 1975.
Na União Soviética, que estava sob o regime totalitário de Stálin, o Estado oprimia e expurgava a oposição. O povo, a quem o governo representava, era massacrado e obrigado a cultuar o ditador.
É isso, esquerda e direita, quando radicais, oferecem uma panaceia política, sob um argumento ideológico questionável, que produz regimes execráveis.
Fica o registro de versos de Garcia Lorca, poeta morto pelos partidários de Franco.
“Eu tenho sede de aromas e de sorrisos,
sede de cantares novos
sem luas e sem lírios,
e sem amores mortos.”
Quantos amores morreram na Guerra Civil? Quantos mortos não puderam amar?
Talvez, a morte seja o resultado lógico das disputas ideológicas.
Newton Miranda, Arquiteto e professor de História do Percurso Pré-Vestibular e Enem.
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