Caeté – A casa que era um marco para a comunidade foi esquecida entre esqueletos de estufas para hortaliças e sombras de três caixas d’água com capacidade para 20 mil litros – todas secas. Da janela da moradia simples, a dona de casa Zenaide Fernandes Barbosa, de 55 anos, avista o abandono causado pela dificuldade de conseguir água para as plantações que brotavam nas fazendas da região do Ribeirão Ribeiro Bonito, em Caeté, na Grande BH. “A água tá muito pouca. Nos dois últimos anos, piorou demais. Muita gente foi abandonando as hortas. Gente que morava aqui foi embora. Outros, que vinham de fora porque as roças davam muito serviço, não ficaram. Só estamos meus dois filhos e eu”, lamenta. A vazão reduzida do manancial e o consumo desordenado de suas águas prejudicaram não apenas os produtores rurais: se alastrou aos moradores da cidade. Por causa de manifestações que tomaram as ruas para cobrar solução, fiscais do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) chamaram a Polícia Miitar do Meio Ambiente nas últimas duas épocas de estiagem. Estabeleceram que a irrigação só poderia ocorrer duas horas por dia. A restrição dizimou os cultivos
Só o Ribeirão Ribeiro Bonito precisa suprir cerca de 34.400 habitantes de Caeté com os 80 litros por segundo que o Saae tem outorgados. Mas, no último ano, a vazão do manancial foi tão pequena que a captação não atingiu 60l/s, deixando cerca de 8.600 pessoas desabastecidas, parte delas submetidas a sistema de rodízio: água, só a cada três dias. O resultado foram dois bloqueios por manifestações em rodovias que dão acesso a Caeté, a BR-262 e a MG-435. “Sofreram mais os bairros altos, como o Campo do Miranda, o Cidade Jardim e o Europeu. Fomos até os produtores com a polícia e os órgãos ambientais, primeiro para garantir o abastecimento da cidade e depois para conscientizar, mas a situação chegou ao limite. É imprescindível uma solução”, disse o superintendente do Saae, Almiro Castro.
O comandante do 5º Pelotão da PM, que faz o policiamento de Caeté, tenente Guilherme Pereira de Mendonça, disse que o pior da crise foram as manifestações. Para ele, neste ano a situação pode se agravar. “Durante a fiscalização, vamos até as lavouras e fazemos a mediação, obrigando os produtores a liberar a água que estão segurando, para quem está embaixo usar. Mas, se a água do Saae deixa de chegar às comunidades, as pessoas ficam revoltadas e vão para as ruas, porque ficar sem água por três dias é uma situação difícil. Acho que também falta investimento do Saae”, afirma. Na área urbana, o desabastecimento levou a cortes de fornecimento entre as 10h e as 20h. A multa por desperdício foi de R$ 130.
Na avaliação do biólogo e consultor em recursos hídricos Rafael Resck, um dos problemas revelados por situações como a da cidade da Grande BH é o acesso a técnicas de irrigação que consumam menos água. Nas lavouras de Caeté, por exemplo, o uso de aspersores – dispositivos que lançam água em jatos até as plantas – não é o mais adequado. “Vemos que falta conhecimento aos produtores, e mesmo aqueles que o têm não reúnem condições econômicas para obter equipamento adequado. Seria preciso que o poder público desse incentivos, como ocorre com o agronegócio, que tem financiamento”, afirma.
Segundo o superintendente do Saae de Caeté, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) prestou esclarecimentos e deu apoio aos produtores da bacia do Ribeiro Bonito. “Mas a resistência é grande. Muitos produtores dizem que a água que retiram volta para o rio, mas isso não é verdade. Além de a quantidade de água ser menor, a qualidade também é pior, porque vem com implementos agrícolas dissolvidos, agrotóxicos e tudo isso faz nosso tratamento sair mais caro”, disse Almiro Castro.
Eucalipto e o cicloda escassez
Quando a equipe do Estado de Minas esteve na região de Caeté, o nível do Ribeirão Ribeiro Bonito estava tão baixo que muitas captações nem sequer alcançavam a água. “Tinha uma cachoeira linda no rio. Muita gente se juntava para se divertir nela e nadar, mas, com a estiagem, a queda d'água nunca mais voltou a ser a mesma. Não dá mais para nadar”, conta a dona de casa Zenaide Barbosa. “Quem mora na cidade está sofrendo também. Fica sem água e nem tem onde buscar. A gente aqui na roça ainda pode procurar outro córrego para matar a sede”, considera. Um de seus filhos, o motorista Renato Fernandes dos Santos, de 33 anos, culpa também as plantações de eucalipto da região, que já foi polo siderúrgico, portanto grande consumidora de carvão. “Não são só as hortas. Muita mata foi devastada para virar plantação de eucalipto e depois disso o rio ficou muito mais baixo”, conta. O irmão dele, o auxiliar administrativo Roni Fernandes dos Santos, de 30, cobra mais investimentos em preservação. “Não protegeram as nascentes e muitas delas secaram. Com isso, menos água entrou no ribeirão. Não dá para dizer que a culpa é só dos produtores”, afirma.
Só o Ribeirão Ribeiro Bonito precisa suprir cerca de 34.400 habitantes de Caeté com os 80 litros por segundo que o Saae tem outorgados. Mas, no último ano, a vazão do manancial foi tão pequena que a captação não atingiu 60l/s, deixando cerca de 8.600 pessoas desabastecidas, parte delas submetidas a sistema de rodízio: água, só a cada três dias. O resultado foram dois bloqueios por manifestações em rodovias que dão acesso a Caeté, a BR-262 e a MG-435. “Sofreram mais os bairros altos, como o Campo do Miranda, o Cidade Jardim e o Europeu. Fomos até os produtores com a polícia e os órgãos ambientais, primeiro para garantir o abastecimento da cidade e depois para conscientizar, mas a situação chegou ao limite. É imprescindível uma solução”, disse o superintendente do Saae, Almiro Castro.
O comandante do 5º Pelotão da PM, que faz o policiamento de Caeté, tenente Guilherme Pereira de Mendonça, disse que o pior da crise foram as manifestações. Para ele, neste ano a situação pode se agravar. “Durante a fiscalização, vamos até as lavouras e fazemos a mediação, obrigando os produtores a liberar a água que estão segurando, para quem está embaixo usar. Mas, se a água do Saae deixa de chegar às comunidades, as pessoas ficam revoltadas e vão para as ruas, porque ficar sem água por três dias é uma situação difícil. Acho que também falta investimento do Saae”, afirma. Na área urbana, o desabastecimento levou a cortes de fornecimento entre as 10h e as 20h. A multa por desperdício foi de R$ 130.
Na avaliação do biólogo e consultor em recursos hídricos Rafael Resck, um dos problemas revelados por situações como a da cidade da Grande BH é o acesso a técnicas de irrigação que consumam menos água. Nas lavouras de Caeté, por exemplo, o uso de aspersores – dispositivos que lançam água em jatos até as plantas – não é o mais adequado. “Vemos que falta conhecimento aos produtores, e mesmo aqueles que o têm não reúnem condições econômicas para obter equipamento adequado. Seria preciso que o poder público desse incentivos, como ocorre com o agronegócio, que tem financiamento”, afirma.
Segundo o superintendente do Saae de Caeté, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) prestou esclarecimentos e deu apoio aos produtores da bacia do Ribeiro Bonito. “Mas a resistência é grande. Muitos produtores dizem que a água que retiram volta para o rio, mas isso não é verdade. Além de a quantidade de água ser menor, a qualidade também é pior, porque vem com implementos agrícolas dissolvidos, agrotóxicos e tudo isso faz nosso tratamento sair mais caro”, disse Almiro Castro.
Eucalipto e o cicloda escassez
Quando a equipe do Estado de Minas esteve na região de Caeté, o nível do Ribeirão Ribeiro Bonito estava tão baixo que muitas captações nem sequer alcançavam a água. “Tinha uma cachoeira linda no rio. Muita gente se juntava para se divertir nela e nadar, mas, com a estiagem, a queda d'água nunca mais voltou a ser a mesma. Não dá mais para nadar”, conta a dona de casa Zenaide Barbosa. “Quem mora na cidade está sofrendo também. Fica sem água e nem tem onde buscar. A gente aqui na roça ainda pode procurar outro córrego para matar a sede”, considera. Um de seus filhos, o motorista Renato Fernandes dos Santos, de 33 anos, culpa também as plantações de eucalipto da região, que já foi polo siderúrgico, portanto grande consumidora de carvão. “Não são só as hortas. Muita mata foi devastada para virar plantação de eucalipto e depois disso o rio ficou muito mais baixo”, conta. O irmão dele, o auxiliar administrativo Roni Fernandes dos Santos, de 30, cobra mais investimentos em preservação. “Não protegeram as nascentes e muitas delas secaram. Com isso, menos água entrou no ribeirão. Não dá para dizer que a culpa é só dos produtores”, afirma.
Plantações de hortaliças sugam água da região de Caeté