Além de referência mundial em vacinação, o Brasil é autossuficiente na produção de imunobiológicos, fabricados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, e pelo Instituto Butantan, em São Paulo. Ao todo, são mais de 36 mil salas de vacinação espalhadas por todo o país, onde são aplicadas 300 milhões de doses por ano. O país ainda as exporta para mais de 70 nações.
O processo de produção de uma vacina é complexo e passa por diversas etapas, que podem durar meses. As pesquisas, por sua vez, levam mais de 10 anos para serem concluídas. Cada vacina tem um método diferente de criação, tudo vai depender da tecnologia necessária.
A vacina contra o Influenza — vírus causador da gripe —, por exemplo, tem como base o ovo.
De acordo com o diretor da Divisão Bioindustrial do Instituto Butantan, Mauricio Meros, o planejamento da produção da vacina contra o Influenza começa 18 meses antes da entrega da primeira dose da vacina e a fabricação leva cerca de 9 meses. Só no ano passado, foram produzidas 60 milhões de doses contra a gripe.
“A produção é longa e já estamos trabalhando com as vacinas do Influenza para o próximo ano. Essa cadeia produtiva leva uns 16 meses. Vamos usar ovos selecionados, porque a galinha tem de estar preparada antes de botar esses ovos. É uma ninhagem específica. Trabalhamos com 500 mil ovos por dia”, explica Meros.
Influenza
Os vírus Influenza (H1N1 e H3N2) são produzidos e mantidos a 7° C, dentro de um galão, para depois ser injetado em um ovo embrionado, ou seja, fecundado. O processo é repetido três vezes em cada ovo e, dentro de 72 horas, o vírus se multiplica. Depois, eles passam
por uma máquina para a retirada do líquido, que é filtrado e purificado para, em seguida, receber o vírus fragmentado e ser colocado nos frascos no tamanho ideal da dose da vacina, que é, em média, meio mililitro (0,5 ml).
“A gente produz a vacina com o vírus, depois fragmenta o vírus e, então, é feita a inativação, para garantir que ela não tenha ativação viva”, esclarece Maurício. Ele ainda explica que, quando a pessoa toma a vacina, é como se o organismo estivesse sendo atacado com o vírus. O objetivo é fazer com que o corpo conheça o inimigo enfraquecido e que consiga enfrentar a ameaça se ela aparecer de verdade.
“O corpo entende que tem o ataque e ele começa a ter os anticorpos para a proteção contra o vírus. Nisso, o organismo tem uma resposta imunobiológica que carrega com ele e que o protege caso venha a ser exposto ao vírus de verdade”, complementa o diretor.
Febre amarela
O processo de produção das vacinas contra gripe e febre amarela são parecidos. A segunda
também é feita com ovo, mas o procedimento é mais longo e a vacina é atenuada, ou seja, o vírus dela encontra-se ativo. No entanto, não tem a capacidade de causar a doença. No Brasil, apenas o laboratório Bio-Manguinhos da Fiocruz produz a vacina contra a febre amarela, que é distribuída por todo o país pelo Ministério da Saúde.
Para saber mais: como as vacinas agem
Os microrganismos utilizados nas vacinas podem ser vírus, bactérias, protozoários ou fungos enfraquecidos, mortos ou em pedaços — fragmentados —, como é o caso do vírus Influenza. Ao serem injetados no corpo, o sistema reage e manda glóbulos brancos para atacar os “invasores”. A partir daí, criam a memória de como combater essa ameaça. Caso entre em contato com a doença de verdade, o organismo já sabe como reagir e nem chega a apresentar os sintomas.
Tira-dúvidas
As vacinas causam efeitos colaterais?
As vacinas são seguras e trazem benefícios contra as doenças, no entanto, como qualquer outro medicamento, podem causar reações adversas. Essas reações, de forma geral, são leves e temporárias, como dor no local da administração da vacina ou febre baixa. Eventos graves de saúde são raros e cuidadosamente acompanhados e investigados. É muito mais provável que uma pessoa adoeça gravemente por uma enfermidade evitável pela vacina do que pela própria vacina. A poliomielite, por exemplo, pode causar paralisia; o sarampo pode causar encefalite e cegueira; e algumas doenças preveníveis por meio da vacinação podem até
resultar em morte, como pneumonias.
É verdade que as vacinas podem deixar a criança autista?
Não há nenhuma evidência científica de relação entre as vacinas e o autismo/transtornos autistas. O estudo apresentado em 1998 e publicado na revista The Lancet, que levantou preocupações sobre essa possível relação, foi posteriormente considerado seriamente falho e o artigo foi retirado pela revista. Além disso, seu autor foi impossibilitado de exercer a medicina.
Infelizmente, sua publicação desencadeou um pânico que levou à queda das coberturas de vacinação, expondo a população a subsequentes surtos de sarampo.
Eu devo repetir a dose para reforçar a imunização?
Cada vacina foi criada em um regime vacinal específico, de acordo com a idade, quantas doses, o intervalo entre elas e, eventualmente, reforço. Não há problemas em tomar mais de uma dose de uma mesma vacina, pois nem toda vacina gera proteção permanente com uma única dose, necessitando de administrações subsequentes ao longo da vida para que os anticorpos (agentes de defesa do organismo), continuem em níveis adequados. Em caso de vacinas em que só é necessária uma dose, tomar mais uma não traz benefícios e não vai trazer mais prevenção ou menos.
A vacina comprada em clínicas particulares é “mais forte”?
Não. As 19 vacinas que compõem o Calendário Nacional de Vacinação são iguais às dos países desenvolvidos e sua segurança aprovada pela Anvisa e Instituto Nacional de Controle de Qualidade INCQS/Fiocruz. Em termos de qualidade de imunização, é igual.
É seguro vacinar crianças com menos de 6 meses de vida?
Depende da vacina. As crianças pequenas são as mais suscetíveis às doenças, uma vez que suas defesas imunológicas ainda não estão bem formadas. Logo, quanto mais cedo for iniciada a vacinação, mais cedo elas ficarão protegidas. Algumas são aplicadas nos primeiros dias de vida, outras, nos primeiros meses. O mais importante é que a população esteja atenta ao calendário nacional de vacinação e seguir da forma que está lá.
Vacina contra gripe causa gripe?
A vacina contra a influenza (gripe) é inativada, contendo vírus mortos, não podendo, portanto, causar gripe. Quadros respiratórios simultâneos podem ocorrer sem relação causa-efeito com a vacina. Na época em que a vacina é aplicada, circulam diversos vírus respiratórios diferentes – que não estão incluídos na vacina e as pessoas podem adquiri-los, pois estão sendo imunizadas especificamente para os três vírus que estão contidos na vacina.
Por que o braço dói depois da vacina?
É uma reação que pode acontecer aos componentes da vacina que, quando inoculados, podem originar dor ou inflamação no local, porém são temporárias e, em cerca de um ou dois dias, desaparecem. Há uma pequena fração de pessoas que podem ficar mais tempo com o sintoma, mas é a minoria.
Existem vacinas para todas as doenças?
Ainda não, mas instituições do mundo inteiro vêm investindo cada vez mais nos processos de pesquisa e desenvolvimento de novas vacinas.
Contra que doenças as vacinas protegem?
As vacinas previnem diversas doenças causadas por vírus e bactéria, tais como sarampo, rubéola, difteria, febre amarela, tétano, meningites , pneumonias , hepatites A e B, entre outras.