Ele deixou o mundo mais bonito. Comunista inveterado, queria ser lembrado como um homem qualquer - pedido que jamais será atendido. Sua genialidade está materializada em 124 cidades espalhadas por 27 países. E não é só por ter revolucionado a arquitetura que ele será lembrado por gerações. Oscar Niemeyer é exemplo de talento, simplicidade, simpatia e longevidade. Aos 104 anos, ele fechou os olhos para sempre, às 21h55 desta quarta-feira, 5 de dezembro, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, onde estava internado desde o dia 2 do mês passado. Mas o olhar do gênio carioca jamais se apagará.
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Nascido em 15 de dezembro de 1907 no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, Oscar Niemeyer Ribeiro de Almeida Soares é filho de Oscar de Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida. A rua em que nasceu, anos mais tarde, recebeu o nome de seu avô Ribeiro de Almeida, ministro do Supremo Tribunal Federal, de quem o arquiteto exaltava a lisura na vida pública. Niemeyer se casou aos 21 anos, em 1928, com Anita Baldo, 18 anos, filha de imigrantes italianos da província de Pádua.
Trabalho incessante
Na penúltima internação, em outubro deste ano, o arquiteto foi enfático com a equipe médica: queria alta hospitalar para continuar o trabalho, ou melhor, os trabalhos. Seria um equívoco dizer que ele queria voltar a trabalhar, pois nunca parou. Durante oito décadas, ele projetou mais de 400 obras, das quais pouco mais de 50 foram executadas com vivo. Mas, certamente, muitas construções com a rubrica do grande mestre ainda serão erguidas.
Uma das obras que Oscar Niemeyer não viu pronta é a Catedral Cristo Rei, que está sendo erguida no Bairro Juliana, em frente à Estação BHBus Vilarinho, na Avenida Cristiano Machado, Região Norte de Belo Horizonte e ocupará 22 mil metros quadrados. A capacidade é para 5 mil pessoas sentadas, com mil vagas de estacionamento.
Quando o projeto da nova catedral foi apresentado, em 2011, o arquiteto disse que ela seria sua última obra. “A Catedral Cristo Rei muito me encanta.
De Beagá para o mundo
Foi justamente em Belo Horizonte que Niemeyer se tornou símbolo da vanguarda. A convite de Juscelino Kubitscheck, então prefeito da cidade, o arquiteto projetou o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, considerado o marco da arquitetura moderna no país. Inaugurado em 1943, ele é composto pelo Cassino, que hoje funciona como Museu de Arte, a Casa do Baile, o Iate Golf Clube e a Igreja São Francisco de Assis, conhecida como a Igrejinha da Pampulha, com traços abstratos e um mural pintado por Cândido Portinari.
Além da Pampulha, a capital mineira tem as curvas do gênio também na Praça da Liberdade. Lá estão o prédio que leva o nome do autor que o concebeu, o Edifício Niemeyer, e a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa. No Centro de BH há ainda o Conjunto JK, inicialmente projetado para ser um museu de arte moderna, mas se tornou um complexo residencial de dois blocos, com 1086 apartamentos, onde moram cerca de 5 mil pessoas, erguido sobre um terminal rodoviário.
Há ainda, também na região central da cidade, a Escola Estadual Governador Milton Campos, mais conhecida como Estadual Central, cujo prédio foi construído no formato de uma régua T, com um teatro em forma de mata-borrão, a caixa-d’água com a forma de um giz de cera e o anexo simulando uma borracha.
BH se consolidou como referência da arquitetura de Niemeyer em 2010, quando foi inaugurada a Cidade Administrativa, sede do governo estadual. Trata-se de uma obra monumental, com curvas mais que audaciosas formando o Palácio Tiradentes, erguida sobre apenas quatro colunas de concreto.
Sobre as curvas, marca inconfundível de toda a sua criação, Oscar Niemeyer celebrava a vida, o Brasil e a ciência. “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”, declarou o gênio..