Jornal Estado de Minas

BASTA

Racismo no futebol: especialistas discutem soluções após insultos a Vini Jr



Os recentes ataques racistas sofridos pelo jogador do Real Madrid Vinicius Júnior, no dia 21 de maio, geraram indignação mundial e levaram a uma discussão sobre o problema do racismo no futebol. Dirigentes esportivos enfrentam pressão para encontrar soluções efetivas contra essa questão, que é estrutural nas sociedades ocidentais e se tornou intrínseca ao esporte. 





Vinicius Júnior vem sendo alvo de ofensas racistas desde outubro de 2021, um ano após sua chegada ao clube espanhol. Em 26 de janeiro, um boneco representando o atleta foi pendurado por uma corda no pescoço em uma ponte de Madri, simulando um enforcamento. Na quinta-feira (25), um tribunal espanhol responsabilizou quatro torcedores, acusados de crime contra a integridade moral e crime de ódio, determinando que eles fiquem a pelo menos um quilômetro de distância de qualquer estádio de futebol na Espanha em dias de jogo.

Em resposta aos ataques, a imprensa europeia e brasileira, juntamente com esportistas e políticos, pedem ação.

No jogo entre o Real Madrid e o Rayo Vallecano, no estádio Santiago Bernabéu, em Madri, os jogadores de ambos os times exibiram uma faixa com a frase 'Racistas, fora do futebol'. A equipe do Real Madrid entrou em campo com camisas número 20, estampadas com o nome Vini Jr. No vigésimo minuto do jogo, os torcedores também cantaram em apoio ao brasileiro. A Federação Espanhola de Futebol decidiu fechar uma seção do estádio do Valência por cinco partidas e aplicar uma multa de € 45 mil. 

A ONU condenou os ataques racistas e anunciou a elaboração de um relatório sobre o racismo no esporte. A Liga afirmou não ter poder de sanção, mas disse ter encaminhado oito denúncias de ataques contra Vinicius Júnior à Justiça. Especialistas entrevistados pela RFI manifestaram ceticismo em relação às medidas já adotadas contra o racismo, a maioria sem efeito significativo.



Em entrevista à Rádio França Internacional - RFI, Marcel Diego Tonini, cientista social e pesquisador do Museu do Futebol, não acredita que multas, banimentos e perdas de mando de campo trarão resultados concretos. Segundo Marcel, outras ações incluem reconhecer a existência do problema, apoiar as vítimas e promover a inclusão de pessoas negras em posições de liderança no futebol.
Ele também defende medidas educativas para esportistas brancos e agressores, como ações em programas de entidades governamentais ou não, para reeducá-los. A psicóloga Lia Vainer Schucman, especialista em estudos sobre branquitude, concorda. Ela acredita que prender autores de ataques racistas não é efetivo e sugere buscar a justiça restaurativa, considerando a opinião da vítima sobre o que seria reparação.

Recentemente, autoridades e especialistas têm pedido a identificação e punição imediata dos autores dos ataques racistas. A justiça espanhola parece estar ouvindo essas demandas, com a prisão de pelo menos sete jovens para interrogatório. O sociólogo francês William Nuytens, professor da Universidade de Artois e diretor do laboratório Sherpa, que pesquisa a violência no esporte, explica à RFI a importância da ação rápida. Segundo ele, agir rapidamente aumenta as chances de efetividade e ajuda a combater agressões banalizadas no futebol.