Parte da história do vôlei brasileiro e, de quebra, mineiro, esteve reunida ontem no Cemitério Bosque da Esperança, na Região Norte de Belo Horizonte, na despedida da ex-jogadora e campeã olímpica de vôlei Walewska Oliveira.
A cerimônia foi restrita a familiares e amigos particulares e do mundo esportivo. Walewska, que tinha 43 anos, morreu quinta-feira, ao cair do 17º andar do prédio onde morava, em São Paulo. As causas estão sendo investigadas pela Polícia Civil.
Nos cavaletes, muitas coroas de flores, entre elas do Minas Tênis, onde iniciou a carreira, do Praia Clube, onde encerrou, da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Federação Mineira de Vôlei (FMV) e uma que chamava a atenção, das jogadoras companheiras da conquista da medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney’2000.
Em um dos bancos do lado de fora do velório 6 estavam três companheiras de Seleção Brasileira, a ex-líbero Fabiana, a ex-levantadora Fofão e a ex-oposta Sheilla. As três mantiveram as mãos, o tempo todo no rosto, os olhos marejados. Não pararam de chorar um minuto sequer.
“Inimaginável”, disse Fabi. “Não é possível”, falou Fofão. As duas seguiram juntas, chorando muito, para o velório e o último adeus à amiga e companheira. Sheilla, estava arrasada e não conseguia falar.
"Me diz que é mentira. Estou passada. Não durmo há dois dias. É inacreditável. Que Deus dê muita força para os pais e o irmão dela"
Hilma Caldeira, ex-jogadora de vôlei
Também presentes Renatinha, Fabíola, Juliana, Nair, Rafaela, colegas do primeiro time de Walewska, em 1992. Outras jogadoras, de gerações posteriores à de Walewska, como a oposta Lyra Ribas e Fatão, também estiveram presentes no velório e enterro.
A tristeza estava estampada no rosto da treinadora Yara Ribas, que comandou Walewska no Minas, no início da carreira. Ela chegou de mansinho, mas bastou ver Renatinha, que é casada com o ex-volante Marcos Paulo, do Cruzeiro, uma das melhores amigas de Walewska, para se abraçarem. Logo as duas foram rodeadas por outras ex-jogadoras.
Ao lado do caixão estavam os pais de Walewska, Geraldo e Maria Aparecida, e também o irmão, Wesley, piloto de avião, comandante da Latam. Seu Geraldo se mostrava calmo, assim como a mãe, e dizia que muito da força que tinha naquele momento era devido à sua fé no catolicismo.
“Sou grato a todos que aqui vieram se solidarizar com a gente e também grato a Deus por nos dar força neste momento”.
A ex-levantadora Renatinha era a melhor amiga de Walewska. Desde que soube da morte, ela praticamente se mudou para a casa dos pais de Walewska. Sua intenção, segundo contam as amigas, era tentar diminuir a dor dos pais.
Aposentada desde 2022, a campeã olímpica vinha divulgando seu livro, a biografia “Outras redes”.
Dor dos amigos
O ex-ponteiro Anderson, hoje técnico do Sesi-SP, era um dos melhores amigos de Walewska. “Estou incrédulo até agora. Acho que não vou superar esse golpe, nunca. Fica até difícil falar. Meu sentimento é de devassa”.
"Estou incrédulo até agora. Acho que não vou superar esse golpe, nunca. Fica até difícil falar"
Ex-ponteiro Anderson, atualmente técnico do Sesi-SP
Outro ex-jogador que foi se despedir de Walewska foi o ex-oposto Gustavo, ex-Olympico e Minas. “Não, isso não pode estar acontecendo. A gente nunca esperaria uma coisa dessas, principalmente por ser a Walewska, que sempre foi alegre. Ela estava sempre sorrindo”.
Hilma Caldeira, uma das maiores opostas da história do vôlei, com grande passagem pelo Minas, estava inconformada. “Me diz que é mentira. Estou passada. Não durmo há dois dias. É inacreditável. Que Deus dê muita força para os pais e o irmão dela.”
A líbero Suellen não se conformava. Ela está no Praia desde 2016 e sempre esteve junto com Walewska. “É muito difícil. A gente estava junta, e agora não a verei mais”.
Heron Brito, o técnico que a descobriu e levou para o Minas, entregando-a a Yara Ribas, era só tristeza, e recordava a primeira vez que viu Walewska.
“Eu era professor de educação física do Colégio Pampulha. Era o técnico de vôlei da escola. Quando a vi, logo pensei: Essa menina, alta desse jeito, vai jogar vôlei. Então a chamei para o time da escola. Com o passar do tempo, chamava a atenção a vontade dela em aprender. Estava evoluindo. Conversei com uma professora amiga e ela me colocou em contato com a Yara Ribas. Conversei com o Seu Geraldo, pai dela, que no princípio, não queria ela fosse fazer o teste, mas consegui convencê-lo, e o Brasil ganhou uma campeã”.
O cortejo fúnebre começou às 10h e terminou por volta de 10h30. Foi seguido por todos que lá estavam. Na hora do caixão descer, uma salva de palmas para Walewska, que entrou para a história do vôlei como uma das maiores jogadoras de todos os tempos.