Jornal Estado de Minas

JOGOS PAN-AMERICANOS

Mineiro é esperança de ouro na maratona



Pedro Bueno e Sofia Cunha

Aos 33 anos, Johnatas Cruz está preparado para um dos maiores desafios da carreira: correr a maratona no Pan-Americano de Santiago, amanhã. O que torna o momento ainda mais especial é a trajetória. A vida do mineiro natural da pequena São Pedro dos Ferros nem sempre foi focada no atletismo. Há um ano e meio, ele não corria só na pista de treinos. Também se dedicava na rua, como coletor de lixo.





Johnatas Cruz viveu até os 12 anos na cidade natal. Foi quando se mudou para São Paulo. A partir dali, mudança de realidade. A começar pela magnitude do novo destino, povoado por mais de 12 milhões de pessoas. Para se ter uma ideia da discrepância, atualmente, pouco mais de 7 mil pessoas habitam São Pedro dos Ferros, no interior de Minas Gerais.

Mesmo a quase 800 quilômetros de distância, ele lembra com carinho da origem e espera orgulhar ainda mais os parentes que ficaram. "É uma honra representar a pequena cidade de São Pedro dos Ferros, que é um mini povoado. (Lá tem) muitos lugares bonitos. Relembrar as bagunças, meu Deus do céu", disse ele, empolgado.

Adaptado depois de algum tempo na maior cidade do Brasil e na companhia dos pais, Johnatas arrumou emprego como gari na Zona Leste de São Paulo para sustentar a família. Também conseguiu se inserir no esporte. Portanto, precisou conciliar, por algum tempo, o labor com o atletismo. De certa forma, a profissão o ajudou fisicamente e, agora, ele é destaque entre os corredores do país.





"A coleta me ajudou muito a ser forte no atletismo. Você trabalhar atrás do caminhão faça sol ou faça chuva, a sua cabeça fica forte. Qualquer evento futuro você acaba tirando de letra. Eu passei 10 anos na coleta. Foi uma fase do que eu tenho hoje, do que eu conquistei hoje”, diz o maratonistas Johnatas Cruz.

Dedicação

Consolidado na modalidade, há mais de um ano Johnatas não precisa se desdobrar para dar conta de mais de uma função. O pai de quatro filhos consegue amparar a família por meio do atletismo. Atualmente, ele representa o Praia Clube, de Uberlândia. A dedicação exclusiva deu resultado. O mineiro vive sequência especial. Em 2022, foi o quarto colocado no Campeonato Sul-Americano de Meia Maratona.

Neste ano, vive calendário lotado. Ele conquistou o ouro no Sul-Americano de Meia Maratona. Também terminou o Campeonato Mundial de Maratona como o melhor  sul-americano do evento. Ainda participou do Campeonato Mundial de meia maratona. Nesta edição do Pan-Americano, ele acredita ter chances de medalhar: “Estou muito ansioso, muito empolgado. A gente vai fazer boa competição”.





Competições

Johnatas Cruz vai correr os 42,125 quilômetros amanhã, na Explanada do Campo de Marte, em Santiago, no Chile. Além dele, Paulo Roberto de Almeida Paula, Valdilene dos Santos Silva e Andreia Aparecida Hessel vão representar o Brasil na modalidade. A largada masculina está marcada para às 7h. As mulheres, por sua vez, saem às 7h15.

O atletismo no Pan-Americano não dá vaga direta para a Olimpíada de Paris, em 2024. No próximo ano, os competidores precisarão alcançar o índice olímpico ou recorrer ao ranking da modalidade. Mesmo assim, o Pan-Americano é um caminho preparatório para chegar ao maior evento multiesportivo do mundo.

Johnatas Cruz carrega dentro de si o sonho olímpico: "Todo atleta que quer chegar no nível máximo tem que almejar a Olimpíada. Nosso foco está voltado para isso. Começar o ano que vem, conseguir entrar numa maratona para tentar alcançar o índice olímpico. Vamos treinar para isso. Vamos correr atrás".





Medalhistas

A delegação do Brasil nos Jogos Pan-Americanos de Santiago vai contar com atletas que já conquistaram medalhas em Olimpíada. São 20 atletas que integram o Time Brasil no Chile e já subiram ao pódio em Jogos Olímpicos. Eles estão divididos em 12 modalidades, sendo que o judô tem três representantes. Do total, 12 atletas conseguiram medalhas em Tóquio, na competição disputada em 2021. O nadador Fernando Scheffer e a tenista Luisa Stefani, medalhistas na Olimpíada mais recente, foram os porta-bandeiras do Time Brasil na cerimônia de abertura dos Jogos. Rosângela Santos, medalha de bronze no Atletismo em Pequim’2008, pediu dispensa do Pan. Ela divulgou a decisão ontem, em publicação nas redes sociais. “Na vida de um atleta vão ter alguns momentos em que vamos ter que sacrificar algumas competições em prol de outras e devido a algumas questões pessoais pedi dispensa da minha convocação para os Jogos Pan-Americanos”, disse.