A grande escola que Rita Valladares frequentou foi o escritório da mãe, Beth Valladares, uma das pioneiras da decoração profissional de Belo Horizonte, dona de gosto apurado e de uma clientela abastada para quem se sentia à vontade para executar projetos poderosos. Ainda adolescente, aos 16 anos, a acompanhava por todas as mostras decorativas importantes do setor, como a Kips Bay Decorator, High Point Market, Salone del Mobile Milano, Maison & Objet ...
Tudo isso, além de uma formação encaminhada para o desenho artístico, no qual é graduada pela Fundação Clóvis Salgado, e de um curso de decoração no Inap. Abrigada pelo background cultural familiar, pelas oportunidades de viagens ao exterior e de enxergar o mundo muito além das montanhas mineiras, não é novidade que hoje esteja à frente da Scatto Lampadário, uma empresa de iluminação decorativa do mercado de luxo em que, como a própria Rita afirma, o “não” é palavra quase inexistente. Trata-se de um trabalho em que a criatividade é inspirada pelos desafios de fazer a luz cada vez mais bela e glamourosa.
“Minha mãe me incentivou a viajar e pesquisar. Não guardávamos revistas velhas para ter sempre referências novas nas estantes. Assim, fui educada no quesito pesquisa, a inovar sempre através do ‘ver’ e sentir’. Por isso, sempre gostamos de estar fisicamente nos locais de informação”, relembra Rita. A parceria entre Beth e a filha era simples: além de participar dos projetos, ficava a seu cargo captar o público jovem. Frequentadora da sociedade belo-horizontina, com muitos contatos e amigas, a tarefa não se tornava difícil para a jovem que ainda buscava sua própria voz, a vontade de encontrar algo que fizesse seu coração bater forte. Em resumo: uma paixão pessoal hoje materializada na Scatto.
Esse caminho chegou, inicialmente, por meio da moda, com a qual a hoje empresária Rita mantinha relações e colhia referências. Desfilou para algumas marcas, como a Chopper no Naum Gorestein, para quem trabalhou três anos, dividindo-se entre o escritório de decoração e a passarela. Em uma oportunidade de viagem, comprou tecidos de costureiros famosos, como Ungaro, Valentino, Dolce & Gabanna, Pucci, Lacroix, Oscar de la Renta, Dior, com o objetivo de confeccionar algumas roupas com eles. “Tinha visto, em uma feira de decoração no exterior, uma empresa de abajures que mostrava cúpulas bem exóticas e, então, resolvi fazer alguns modelos com pegada de moda. Fui na Interpam, a quem sou muito grata por me ajudar no início da minha carreira, e encomendei 10 bases iguais. Além dos tecidos, comprei broches e passamanarias. Comecei a desenhar minhas ideias, fiz uma exposição na House & Garden, e vendi todas as peças para amigos e decoradores”, revela.
Estava dada a partida para a embrionária Scatto, embora ela, certamente, não soubesse disso ainda. Grávida, deu um tempo no trabalho com a mãe, para ter o próprio horário e dedicar-se à nova atividade. Rita conta que nessa fase fez um pouco de tudo – reformas de cúpulas, cúpulas novas para peças que as pessoas já tinham , além da própria coleção. “Minha casa virou uma loucura, cheia de tecidos, abajures, aviamentos. Tive que pedir emprestada uma sala na revenda de carros do meu ex-marido para ter meu primeiro escritório. E contratei minha primeira funcionária, a Michele, que está comigo até hoje é meu braço direito e toma conta de toda a fábrica. Hoje, somos 90 pessoas e uma produção bem diferenciada, pois customizamos, executamos desenhos de outras pessoas, e temos uma gama enorme de fornecedores de várias matérias e acabamentos”.
Movida a desafios
A Scatto, segundo a empresária, tem em seu DNA um desafio a cada projeto. Só se diz não na empresa quando a concepção é realmente inviável; caso contrário, a ordem é acatar todos os projetos. Essa filosofia trouxe premiações importantes no mercado do luxo. “Recebemos prêmios também pela qualidade do trabalho, nosso material é nobre, pois detestamos a ideia do retrabalho, assim como os acabamentos oferecem garantia eterna”, ela diz. Entre as matérias-primas usadas destacam-se o aço inox para as armações, cristais tchecos, folhas de ouro, prata, madrepérola, seda pura, pedras. A fábrica, por sinal, é um grande orgulho: bonita, limpa, está aberta à visitação, os funcionários trabalham uniformizados e com material de segurança necessário.
Um local propício para a execução de ideias brilhantes. A maioria delas são idealizadas por Rita. Agora, a filha Victoria, sua nova parceira, também está assinando algumas coleções. A criação parte de um estudo de tendências e as peças são inspiradas nas artes, design, moda e joalheria. “Como gostamos de mostrar nosso lado fabricante, estamos sempre abertas a executar desenhos de outras pessoas. Começamos a fazer isto com joalheiros, como Ara Vartanian, Silvia Furmanovich, depois passamos aos arquitetos e vários já desenharam para a Scatto. Entre eles, João Armentano, Roberto Migotto, Debora Aguiar, Raquel Silveira, João Mansur, Rui Otake. No momento, estamos abrindo a fábrica para designers, como Zanine de Zanine, e com uma coleção em andamento com Debora Vitoriano. Nosso próximo projeto será com Arthur de Mattos Casa.”
Outro braço forte da empresa tem sido no segmento de hotelaria, com execução de projetos para grandes redes no Brasil e no exterior. Nada mal para quem começou com um escritório emprestado, em seguida passou para uma portinha alugada no Bairro de Lourdes, aí já com uma nova funcionária encarregada das vendas. “Depois dessa loja, comecei a viajar para todo o Brasil mostrando o trabalho, oferecendo para outras lojas, o que foi importante, porque divulgou muito a marca”.
Após cinco anos de atividades em Belo Horizonte, com uma estrutura apropriada e qualidade comprovada, as tentativas de entrar no mercado de São Paulo começaram. A Firma Casa foi a primeira a comprar, embora ainda com volume pequeno. “Considerei esse contato interessante, porque trata-se de um local que comercializa outros produtos, além da iluminação. Sou muito grata à Sônia Diniz (dona da Firma Casa) pela oportunidade. Logo em seguida, passamos a vender também na Wall Lamp, que é especializada na área”.
Porém, Rita sentia necessidade de mostrar um conjunto das suas peças, ter um espaço em que pudesse oferecer mais possibilidades de escolha. Nasceu desse desejo a abertura da loja de São Paulo, na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, Jardim Paulistano, um polo de design, decoração e arquitetura. “Meu dinheiro dava para bancar apenas três meses de funcionamento, mas me arrisquei. Lembro-me de que, na inauguração, os convidados diziam que eu era corajosa e não entendia bem o motivo, porque me sentia segura com o projeto. Tinha produto, tinha certeza de que iria dar certo, porque tudo já estava muito sólido. As vendas do primeiro mês foram muito boas e confirmaram minhas previsões”.
A entrada da filha no negócio foi propícia em todos os sentidos, inclusive para os planos de retomada da loja de Belo Horizonte, fechada tempos atrás. Rita conta que, com tantas demandas, inclusive revendas na Bolívia e Assunção, foi obrigada a fechá-la, já que, sozinha, estava difícil administrar tantas pessoas. “A chegada da Victória facilitou demais e a Scatto pôde se fortalecer também no quesito exportação. Ela é formada em administração de empresas e esse conhecimento empresarial, além de uma visão descansada e jovem, trouxe uma nova perspectiva de negócios”, avalia a mãe, orgulhosa.
A Scatto marca presença em mostras de decoração brasileiras conceituadas, como a Mostra Black, Artefacto, e internacionais, como a High Point Market. Sua linha de produtos inclui abajures, arandelas, pendentes, plafons, sousplats e spots, que são exportados para vários países.