Os 70 anos chegaram e Sonia Pinto dá uma pausa para celebrar e refletir sobre a vida. “É tempo de repensar o que vale a pena, buscar um pouco mais de paz e alegria, saborear mais a vida, buscar uma leveza que nunca tive.” A estilista aproveita este momento, em que também completa 45 anos de criação, para repensar os negócios e reestruturar toda a empresa, que tem se renovado com a chegada de uma turma jovem na equipe de estilo. Mas isso não significa parar de trabalhar.
A nova idade chamou a atenção da estilista, que se vê diante de sete décadas de tentativas, erros e acertos, perdas e ganhos. Para Sonia, é um prazer ter chegado até aqui e ela quer celebrar o máximo que puder. As comemorações começaram em Belo Horizonte, passaram por São Paulo e no dia 4 de junho chegam ao Rio de Janeiro. “Perdi tantos amigos do coração, como Mabel Magalhães e Carico, gente tão jovem que se foi, que fico avaliando a oportunidade de chegar aos 70 e fazer o que acredito. Então, é uma vitória, uma grande benção e estou em um momento de muita gratidão.”
A estilista aproveita o momento para parar um pouco, olhar para a vida, ver quais são as possibilidades daqui em diante e planejar o futuro. “Estou me reestruturando primeiro por dentro, para saber qual caminho seguir, estabelecer novas regras, repensar a empresa de uma forma geral.
Sonia está formando uma nova equipe de criação, da qual faz parte a sua filha, que já trabalha na empresa há 10 anos.
Branca nasceu no meio dos panos e foi manequim da marca, então tudo se deu de forma natural e espontânea. “O que puder ensinar e compartilhar para este equipe vou fazer com o maior carinho. Falo para eles sobre a poesia da vida, que não pode se perder, a fagulha no olhar, a atenção e o carinho para este trabalho. Estou tentando, tomara que consiga.”
Aos poucos, a marca vai rejuvenescendo, mas Sonia cuida para não perder de vista qualidade e poesia, itens que para a estilista são “imperdíveis”. Um sinal desse novo caminho é a escolha das cores. As coleções sempre foram bem neutras, com foco em preto, off white e blé (um azul noturno), mas hoje estão surgindo tons diferentes.
Sonia está amando acompanhar o rejuvenescimento da marca, e ela tem notícia de que os clientes também. Até porque a estilista reconhece que, ela mesma, não consegue fazer o que o público quer. Faz as roupas e procura donos, mas eles estão sempre por aí. Em geral, são pessoas que têm coragem de ser diferente, ter personalidade e atitude própria. “Apesar de o jovem de hoje estar muito igual, não sei se para ser aceito ou não, acho que, com esta turma nova, vamos buscando outra direção.”
Mesmo com todas as mudanças, a roupa continua sendo arrojada, minimalista, o mais atemporal possível, porque Sonia não gosta de trabalhar com nada descartável. “A nossa roupa é feita com muito amor, não envolve trabalho escravo, não facciono nada, tudo é feito dentro da oficina, não tem uma grande produção, mas ela continua sempre impecável, pela qualidade, modelagem e matéria-prima.” A estilista se orgulha de suas parcerias com artesãos para fazer tecidos especiais. Dublagens, lavagens, pinturas, bordados, uma série de trabalhos manuais vão compondo a coleção.
Particularmente, Sonia ama o inverno.
NOVO OLHAR Depois de 45 anos de criação, Sonia fala com propriedade que não tem mais o que inventar, não existem mais formas inusitadas, tudo já foi feito. É preciso recriar as roupas com a sua própria poesia, o seu próprio olhar, com outro enfoque. No caso dela, sempre houve a preocupação com o conforto. “Deixo espaço entre a roupa e o corpo, a meu ver muito necessário. Um lugar onde cada um expressa a sua atitude, o seu jeito de ser, a sua beleza, um espaço para o corpo se mostrar, se locomover.”
Sobre o futuro da moda, ela até acha que pode ser utopia, mas espera que as pessoas procurem cada vez mais ter atitude própria, de acordo com as suas possibilidades e com o que acreditam. “Ter dinheiro não significa andar na moda, sem julgamento nenhum, porque cada ser humano é único. Acho que as pessoas deveriam se comportar dessa forma, serem únicos, com as suas possibilidades, e não tentar ser cópia. O mundo está cheio de cópias”, observa.
A estilista considera um grande privilégio estar ao lado dos filhos.
Sonia não pensa em parar de trabalhar, só quer mesmo diminuir o ritmo. Às vezes, ela chega a trabalhar 18h por dia. “O meu trabalho é a minha força, alimento da minha alma, amo o que faço.” A estilista está gostando de trabalhar junto com essa turma mais jovem, cheia de energia, e sempre aprende muito com eles. “A gente morre aprendendo e não sabe nada.”