A evolução da lingerie está intrinsecamente ligada à história do feminino e pode ser contada por meio da moda. Foram muitas as transformações ao longo do tempo e não só relacionadas aos hábitos e costumes da sociedade, mas também aos avanços tecnológicos. As maiores mudanças podem ser percebidas a partir do século 20, com o advento do náilon nos anos 1940 - que mudou completamente a aparência e funcionalidade das “roupas de baixo”- seguido pelo surgimento da lycra. Esses fatores, lado a lado com a forte erotização do corpo feminino, fizeram com que a indústria da lingerie se remodelasse para acompanhar uma mulher mais livre, com nova identidade sexual/social.
Neste caminho sem volta, a moda se encarregou de ressignificar conceitos: o que era antes de caráter íntimo e reservado se transformou em algo aparente, para ser visto, apreciado, sensualizado. Surgia o underwear, que vem conquistando mais e mais espaço no segmento fashion. “Antes existia a preocupação de esconder aquela alça do sutiã. Isto caiu por terra e as lingeries estão cada vez mais elaboradas, com rendas e detalhes para ficarem à mostra. A tendência do underwear na composição dos looks é muito forte”, ressalta Grazi Coelho, estilista e consultora de moda, que assina o editorial sobre o assunto nesta edição do Caderno Feminino & Masculino, cujas imagens são da Josef Fotos.
Várias marcas estão seguindo essa cartilha, entre elas a mineira Lav, presente há cerca de dois anos no mercado.
Em suas pesquisas, ela detectou que a lingerie sempre esteve presente na vida da mulher, mas não era tão acessível como atualmente. “A Dior, por exemplo, já elaborava coleções para mulheres das altas classes, em 1950. Aqui no Brasil, começamos a olhar mais para ela a partir da década de 1980. O comercial “Meu primeiro sutiã”, da Valisere, foi um marco.
Nessa trajetória, Lavyne recorda que houve ainda o boom do silicone reafirmando a vontade da mulher de mostrar seu corpo e valorizar sua sensualidade como bem quisesse. E os desfiles da Victoria Secrets, transmitidos mundialmente, supervalorizando as peças que as modelos famosas desfilavam. “Eles também contribuíram bastante para que a lingerie fosse conquistando presença como item de moda, cada dia mais”, pontua. Para completar, a estilista cita o mais recente sucesso comercial, o sutiã Strappy, com elásticos/tiras aparentes. Lançado lá fora em 2014, chegou por aqui em 2016. “Em seguida, vieram os bodies e as hot pants, que viraram febre nos looks de réveillon de todo o país. Hoje, definitivamente, a lingerie segue moda como qualquer outro produto. Grandes estilistas e marcas, como YSL e Stela McCartney, sempre a incluem em suas coleções”.
Grazi Coelho também enfatiza a importância dos bodies nas últimas temporadas.
Júlia Zingoni é outra expert no assunto. Graduada em design de moda, em 2009, e em design gráfico, em 2017, fez cursos e especializações na Suécia e na Itália. Assumiu a direção de marketing e estilo do Grupo Água Fresca imprimindo, no negócio familiar, um toque jovem e contemporâneo. A empresa tem uma linha exclusiva, a Resort, na qual são pensadas as peças para sair de casa.
Ela conta que a ideia surgiu de forma natural, partiu das próprias clientes que viajavam e mandavam fotos das camisolas da marca pelas ruas do Brasil. Nessa linha não são adotados tecidos com transparência e se traz, para a moda de rua, as características da lingerie, particularmente conforto, feminilidade e muito charme. “A lingerie sempre foi uma das grandes aliadas na construção da autoestima feminina. O uso das peças da Água Fresca como outwear hoje representa, para nós, uma aceitação do corpo e do feminino. Assim como nosso modo de pensar a mulher se transformou, a lingerie também segue esses passos.
Dicas
Como adotar sem ficar vulgar? Juliana passa algumas recomendações: “Para as mais ousadas, sutiãs rendados de bojo e bralettes sem bojo podem ser facilmente usados com calças e saias de cintura alta, que cobrem parte da região abdominal. Os bodies valorizam a silhueta e por isso ficam bem por baixo de jaquetas e trench coats trazendo a feminilidade da renda para os looks de couro e pele do inverno”. Quanto às delicadas camisolas de seda com renda, nos comprimentos curto, midi e longo, a estilista aconselha a virem sempre acompanhadas de um tricô ou casaco que cubra a região dos quadris”.
Grazi Coelho também passa algumas dicas. “Opte por peças mais delicadas e com cores neutras que possam fazer uma boa composição com a alfaiataria ou com aquele look para noite. Um truque para não errar e ficar na moda é deixar parte da lingerie aparecendo como as alças ou detalhes de renda, que possam ser vistos junto do decote. Quem quiser um look mais ousado, pode escolher as transparências dos tules, chifons e rendas. Mas o principal é distinguir o que fica melhor com o biotipo de cada uma”.