Jornal Estado de Minas

Novos estilistas

Alunos de moda buscam inspiração no passado para criar coleções de estreia na passarela

Anum (Renê Benjamim) - Foto: Bruna Corrêa/Divulgação

Nunca esteve tão na moda reviver o passado. Mesmo quem acaba de chegar ao mercado, cheio de criatividade e ousadia, sabe da importância de resgatar memórias para construir o futuro. No desfile coletivo da 17ª edição do UnaTrend, com o tema “FuturAção”, os alunos mostraram que a busca por inspiração em décadas e séculos anteriores resultam em roupas que contam histórias.
 
Mi Alma (Mirella Muñoz) - Foto: Bruna Corrêa/Divulgação 
 
Coincidência ou não, a maioria dos estilistas buscaram inspiração no passado, seja no folclore brasileiro, na mitologia grega, na história da moda ou na trajetória da própria família. Para o diretor criativo do desfile de formatura, Aldo Clécius, esta é a prova de que não existe futuro sem passado. “Estamos num momento da história com um acúmulo grande de memórias e as pessoas estão tentando ver o que fazem com esse tanto de imagens de moda. Reciclam, recriam, mas não querem jogar fora. É este acúmulo que dá sentido para a nossa existência”, observa.
 

Samile Fernandes - Foto: Bruna Corrêa/Divulgação

 

Representante da moda masculina, Renê Benjamim traz para o presente várias referências do seu passado, a começar pelo nome da marca, Anum, que é um pássaro comum na sua região (ele vem de Tarumirim, no Vale do Aço). Na coleção de estreia, ele mistura o folclore brasileiro, que permeou sua infância no interior, com o movimento literário cyberpunk, ligado à ficção científica.
 
“É uma imersão na cultura brasileira e nas minhas origens.
Quis trabalhar com tudo o que me inspira e achei interessante unir dois mundos que adoro, um rural e outro urbano”, justifica.
 
Afetiva Dress (Vanessa Souza) - Foto: Bruna Corrêa/Divulgação 
 
O resultado não é nada óbvio. Isso porque o estilista não trabalhou os temas de forma tão literal. No caso do folclore, ele estudou as lendas, principalmente mula sem cabeça, lobisomem e boitatá, e delas extraiu cores e formas para criar as estampas. Por outro lado, levou para a modelagem referências do cyberpunk, criado nos anos 1980, que sempre fizeram parte da sua ima- ginação. “Nós jovens gostamos de reviver o passado, é um vício voltar às origens, buscando um local de segurança, um refúgio.”
 

Olímpia (Christiane Olimpia) - Foto: Bruna Corrêa/Divulgação

 

Folclore e cyberpunk são sempre associados à escuridão da noite, por isso o preto foi escolhido para ser protagonista da coleção. As estampas também unem os dois universos: natureza e tecnologia se encontram em uma animal print com cores saturadas e um desenho psicodélico baseado no movimento do fogo e dos espíritos das lendas. O universo cyberpunk inspira diretamente a modelagem das roupas, mais geométrica, com cortes quadrados.
Capuzes e bolsos utilitários reforçam este conceito.
 
Albertina Josefa (Tassio Rander) - Foto: Bruna Corrêa/Divulgação 
 
Apesar do uso predominante de poliamida e neoprene, a moda da Anum não é esportiva. Renê define a sua roupa como casual noturna. Uma das apostas do estilista é a jaqueta cropped, que, além da modelagem inovadora e ousada, resume bem o conceito da coleção. A peça em poliamida preta carrega detalhes na estampa psicodélica, zíper, capuz e alças que remetem ao uniforme de astronauta. No desfile, a jaqueta estava por cima de um macaquinho de sarja.
 
Paula Veloso Exclusive - Foto: Bruna Corrêa/Divulgação 
 
Ainda no século 20, a francesa Madeleine Vionnet revolucionou a alta-costura ao desenvolver técnicas de moulage e o corte em viés. Ana Paula Veloso buscou inspiração neste passado para criar os cinco looks da sua coleção. “Todo mundo que se forma em moda quer ser estilista, mas as confecções demandam todo tipo de profissional. Pensei em seguir outro caminho, que ninguém quer, e me apaixonei pela modelagem”, conta a formanda, que há 10 anos trabalha com roupas sob medida.
No seu ateliê de costura, Ana Paula sempre usou técnicas de Vionnet, em especial a moulage.
“Roupa de festa pede mais moulage, porque ela tem que ficar mais perto do corpo. Dessa forma, consigo mais perfeição”, informa. Então, não poderia ser diferente na hora de desenvolver a coleção de formatura, com quatro vestidos e um macacão. “Hoje está tudo tão fast, já tem tudo pronto na loja, que percebo que as pessoas estão valorizando o que é feito a mão. É um resgate do passado.”
 
Gene (Camila Lopes) - Foto: Bruna Corrêa/Divulgação
 
LOSANGOS Para montar o vestido vinho de um ombro só, bem justo ao corpo, Ana Paula foi costurando em camadas tiras de crepe cortadas a laser. Assim, criou um efeito 3D interessante, semelhante a escamas. Em outro vestido, com decote canoa, formou losangos com as tiras do tecido. “Vionnet era alucinada com losangos, ela usava muito a geometria nos bordados e recortes, e quis homenageá-la”, conta.
 
A costureira ainda usou uma técnica de volumetria da francesa para fazer vestido curto com mangas bufantes, abusou de recortes característicos de Vionnet em um vestido com babados e montou o macacão com pregas cortadas no viés.
 
 
 
Histórias antigas sempre encantaram Vanessa Souza. Em sua coleção de noiva, ela volta ao passado para buscar referências de deusas gregas e princesas. “Tenho uma personalidade mais romântica e, quando fui me aprofundando no tema dos contos de fadas e da mitologia grega, vi que poderia uni-los para criar os vestidos”, destaca.
 
Em cada look, revela-se um paralelo entre duas personagens femininas marcantes, como Branca de Neve e a deusa da primavera Perséfone.
“As histórias são antigas e uma pode ter sido inspirada na outra, porque são muitas coincidências. As duas são amantes dos animais, foram envenenadas por fruta (uma com maçã e a outra com frutas vermelhas) e têm personalidades muito parecidas”, detalha.
 
Enquanto as saias fluidas lembram as deusas gregas, as capas são elementos retirados dos contos de fadas. Em comum, os vestidos têm cintura marcada e decote profundo, seja na frente ou nas costas. Por ser uma coleção de noivas, o branco predomina. Em segundo lugar está o nude, que entra para não deixar a coleção monótona. Os tecidos variam entre musseline, crepe, renda e tule.
.