Jornal Estado de Minas

estampas

Arte inspiradora

Lenço - Foto: Júlia Fontes/Divulgação

Olhar para os desenhos de Júlia Fontes é uma forma de encontrar beleza e alegria nestes dias de isolamento. Com um trabalho totalmente intuitivo, a publicitária e artista plástica autoditata mineira cria estampas marcadas por cores vibrantes e formas inspiradas na natureza. “Principalmente no mundo em que estamos vivendo hoje, com tanto sofrimento, angústia, coração apertado, falta de fé e esperança, uso o desenho como forma de alegrar a vida das pessoas”, aponta.
 
O trabalho de Júlia tem um colorido contagiante. Segundo a artista, as cores representam a sua alegria e transmitem boas energias. “Falo que o meu trabalho tem personalidade forte e carrega tons vibrantes para levar a energia lá para o alto. São desenhos alegres e cheios de vida.”

Júlia sempre esteve próxima do universo das plantas (ela conta que sua tataravó era benzedeira e isso está no seu sangue). Logo que o seu trabalho se definiu como ilustração botânica, veio a vontade de estudar diferentes espécies, em especial do cerrado mineiro. “As plantas me chamam a atenção pela forma, flores, sementes, o fruto.
Gosto muito de estudar a composição inteira delas, bulbo, pistilo etc”, comenta a artista, que nasceu em Mococa, pequena cidade na divisa de Minas com São Paulo.
 
Painel - Foto: Júlia Fontes/Divulgação 
 
Plantas como alfavaca, capim de são pedro, arruda, arueira e macela-do-campo são usadas como referências para os desenhos. Júlia avisa que não tem compromisso com o real, usa sua liberdade criativa para mudar formatos e cores, sempre pensando na melhor composição.
 
Os desenhos da então publicitária ganharam visibilidade em 2013, quando uma emissora de TV encomendou uma tela para decorar o cenário de um programa. Júlia nunca tinha usado tinta, mas, diante deste desafio, acabou descobrindo novas possibilidades. Daí surgiram os convites para pintar muros, murais, painéis e quadros. Nada disso passava pela sua cabeça. Em sete anos, ela já pintou parede de sala e cozinha, fachadas de casas e painéis em espaços comerciais.
 
Pintura - Foto: Júlia Fontes/Divulgação 
 
Júlia fala que os desenhos foram acompanhando o seu amadurecimento como artista. No início, ela desenhava apenas em papel.
Depois passou para telas, muros e chegou aos tecidos. Logo as pinceladas a mão foram substituídas pela estamparia digital. Normalmente, a publicitária elege um desenho (o preferido da série) para desdobrá-lo em várias estampas. “Esta é a minha forma de levar arte para a vida de mais pessoas. Nem todo mundo pode investir em um quadro ou mural, mas muitos conseguem comprar uma almofada, por exemplo.”
 
Pelo menos quatro veze por semana, a jovem (que há cinco anos deixou o emprego em uma agência de publicidade para viver de arte) se dedica à pintura. “Não penso em nada antes, não faço rascunho, não controlo nada. Deixo fluir e vou juntando os desenhos. Quando nasce um que gosto muito, passo para o computador e crio as estampas”, explica.
Deste processo, nascem duas coleções por ano de almofadas, vendidas em dois tamanhos. No ano passdo, ela desenvolveu uma almofada estampada para a Tok&Stok. Em sua loja virtual, há também lenços e cangas.
 
Coleção de roupas desenvolvida em parceria com a loja Papel Craft - Foto: Pedro Scliar/Divulgação 

PARCERIAS O trabalho também envolve muitas parcerias. A loja Papel Craft, que chegou no último mês a Belo Horizonte, desenvolveu uma linha de roupas para o Dia das Mães, com blusa, vestido e macacão, usando uma das estampas botânicas de Júlia. Os desenhos também colorem cadernos feitos pela sua mãe, Lúcia Fontes, da Ludi Encadernações, e já estampou brincos e mochilas.
 
Trabalhar com arte não era um plano nem sonho. Júlia sempre gostou de desenhar. Com 15 anos, ela conheceu uma indiana e ficou impressionada com as tatuagens de henna na mão. A partir disso, começou a desenhar insistentemente traços pretos, mas sem nenhuma pretensão. Estudou publicidade e trabalhou por anos em agência de propaganda. “Nunca fiz aula de artes, mas, com o incentivo de amigos do trabalho e outras pessoas à minha volta, comecei a dar atenção para isso”, conta.
 
 
 
Neste período de quarentena, Júlia tem aproveitado para pintar quadros.
Ela também segue estudando estamparia digital em tecido de algodão para fazer a transição do sintético para o natural. O plano é passar a produzir lenços em seda (hoje é mousseline com toque de seda) e vestidos em algodão. A artista quer, ainda este ano, montar uma equipe interna de colaboradores (a necessidade é urgente, mas o plano teve que ser adiado em função do coronovírus). “Quero crescer com esta arte para que ela possa se espalhar mais e inspirar mais pessoas”, planeja.
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