A tentativa do momento parte do Sindicato da Indústria do Vestuário de Minas Gerais (Sindvest-MG), que tenta emplacar uma edição do Minas Showroom, uma iniciativa voltada para marcas que trabalham exclusivamente com pedidos, a ser realizada entre os dias 13 e 23 de julho. Como o próprio nome diz, ela será realizada nos showrooms das empresas participantes, com agendamento prévio, atendimento individualizado e cumprindo todos os protocolos sanitários para garantir a segurança dos compradores.
O grupo é formado por 25 empresas e cerca de 100 lojistas, selecionados a partir de um mailing comum, foram convidados a vir a Belo Horizonte dentro de um projeto em que serão beneficiados com passagens aéreas e hospedagem. “Temos tradição de receber nossos clientes com acolhimento e vamos preparar ambientes para que eles possam comprar com tranquilidade”, garante Rogério Vasconcelos, vice- presidente do Sindivest.
Desde o cancelamento do BH à Porter e do Minas Trend, ele vem sondando o segmento tentando encontrar uma saída que minimize o prejuízo dos confeccionistas. “Vamos priorizar o momento dos pedidos, já que as feiras e eventos não ocorreram. Em seguida, veremos como contemplar a pronta entrega, provavelmente em agosto”, ele explica, chamando a atenção para o fato que o grande atrativo do Minas Showroom é a qualidade e representatividade do grupo reunido.
Marcas de destaque, conhecidas nacionalmente, estarão presentes. Parte delas é frequentadora do evento Novo Showroom, realizado semestralmente na capital paulista, logo após o Minas Trend, como a Coven, Printing, Essenciale, Nana Kokaev, Village Condotti. Ainda da área de vestuário participarão a 613, Maracujá, Ammis, Apartamento 03, Bella Pelle, Fátima Scolfield, Fedra, M. Rodarte, Marrô, NXT LVL, Patrícia Motta, Plural, R.Vasconcellus, Renata Campos, Unity Seven e Verosenso. O segmento dos acessórios será representado por Débora Germani, Elisa Atheniense, La Spezia e Paula Bahia.
O Sindivest é responsável pela promoção, o que significa execução, apoio institucional e financeiro do evento. Uma das vantagens, segundo Rogério, é que ele terá um custo bem acessível para as empresas participantes, particularmente se comparado ao que elas pagam para participar das feiras em cada temporada. Em um período de caixa em baixa, isso se torna bem importante. Além disso, cada expositor poderá usufruir da infraestrutura de seus showrooms sem necessitar da contratação de funcionários extras, já que os atendimentos serão exclusivos e personalizados.
- Foto: COLEÇÕES
Apesar de todos os problemas e contratempos, os empresários da moda procuram seguir adiante, buscando a sobrevivência de seus negócios. As coleções para o verão’21 estão prontas ou em fase de finalização. Com uma equipe reduzida, que trabalha apenas três vezes na semana, Luiz Cláudio, proprietário e estilista da Apartamento 03, uma das marcas presentes no Minas Showroom, dá os últimos retoques no mostruário.
Para a próxima estação, saem de cena as roupas de festas para dar lugar a peças mais casuais e confortáveis. Os clientes poderão conferir a boa alfaiataria, bem forte no trabalho da Apartamento 03, agora com cara comfy, pronta para sair às ruas e atender às demandas do momento. “Penso que o futuro da moda é oferecer, cada vez mais, roupas atemporais e investir em lançamentos menos datados”, prevê o estilista. Na verdade, quem conhece o seu trabalho à frente da label sabe que a garantia do sucesso é a veia autoral, o que significa menos tendências e mais criatividade.
Enquanto aguarda o lançamento do e-commerce da Apartamento 03, previsto para cerca de 30 dias, Luiz Cláudio tenta se manter otimista, se concentrando nas tarefas a cumprir. “A nossa vantagem é que conseguimos entregar quase todo o inverno no final do ano, particularmente os pedidos especiais, que são feitos para noivas, madrinhas, mães de noivas”. Ele explica que, geralmente, essas demandas são produzidas mais cedo para que a produção flua na fábrica. Mesmo assim, cerca de 30% da coleção ficou em casa e, agora, está sendo negociada, em condições especiais, para os lojistas.
Nessa etapa em que os contatos presenciais estão mais difíceis, o estilista olha com boas perspectivas para o comércio on-line, que se torna mais tangível quando se leva em conta a história emocional que a Apartamento 03 construiu ao longo do tempo e com a qual os consumidores se identificam. “Penso que, daqui pra frente, serão feitas escolhas na hora das compras, os clientes pensarão nessas histórias”.
ESFORÇO
Valéria Lemos, proprietária e estilista da Essenciale, marca que estará nesta edição do Minas Showroom, passou a última semana fotografando a coleção verão’21. Foram três dias de sessão de fotos, já que ela pretendia obter um material extenso, que será usado para o e-commerce. A loja on-line funciona há quase dois anos e, antes da pandemia, tinha uma representatividade na receita financeira da empresa em torno de 20%. Nos últimos três meses e meio, essa representação cresceu entre 10% a 15 % em função do bazar que a empresária lançou tão logo o isolamento social começou, como estratégia de sobrevivência.
“Embora isso esteja longe do necessário para a manutenção do negócio, foi a forma que encontrei para dar seguimento ao trabalho, já que a loja física da Essenciale está fechada há mais de 100 dias”, explica Valéria. Acrescente-se o fato de que as feiras de lançamento não foram realizadas. Preocupada com os funcionários, desde o início da crise ela tem se movimentado como uma leoa para manter seus empregos. Cerca de 50 famílias dependem deles para viver.
Low profile por natureza, a empresária decidiu passar por cima da discrição, que sempre caracterizou seu comportamento, e mostrar a cara nas redes sociais para divulgar a marca e os produtos. “Sempre tive muito cuidado com a minha intimidade, mas, agora, pensei que esta seria uma forma de me engaja r com os clientes. Então, saí dos bastidores. Sinto que sou referência em termos do que faço para muitas pessoas que valorizam o meu bom gosto, as roupas que faço, o estilo da Essenciale. Acho que essa é uma forma de me comunicar com os que convivem comigo e com aqueles que não me conhecem”, pontua. Por outro lado, Valéria avalia que esse momento é de verdade e transparência, de validar um trabalho construído ao longo de 25 anos.
“Apesar do sofrimento, dos ajustes que temos feito, percebo que a gente estava vivendo numa correria esgotante, sem tempo para respirar, trabalhando sem emoção. E, agora, veio esta pandemia e fomos obrigados a parar, a ter solidariedade, pensar no outro, porque o mundo, em sua maioria, é de pessoas desfavorecidas, pessoas que precisam de atenção e afeto”, ressalta.
A maneira que ela encontrou de contribuir foi não demitir ninguém e afastar os colaboradores do grupo de risco. Depois de 20 dias de fábrica fechada, a equipe voltou ao trabalho em horário especial e começou a fabricar máscaras para doação. “Fiquei preocupada também com as facções que trabalham para a Essenciale com exclusividade, que ficariam sem trabalho. A forma que encontrei de ajudar as costureiras foi enviar as máscaras já cortadas, com todo o material necessário, para que elas costurassem, vendessem e obtivessem alguma renda nesse período.”
Sempre movida pelo apelo de dar conta do recado, Valéria embarcou no projeto do Minas Showroom para viabilizar a venda do verão’21 da marca. “O Rogério Vasconcelos conversou sobre a ideia de termos marcas que representassem a moda mineira juntas, mas separadas, cada uma em seu showroom, devido à pandemia. A condição era que tivessem mais de 10 anos de mercado e que não trabalhassem com pronta entrega. A data é boa para entregarmos os pedidos em setembro”, garante a empresária. Com seu olhar realista otimista, ela acredita que conseguirá comercializar 40% da coleção no modo presencial e o outros 60% por meio das vendas on-line.
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