Tânia Fagundes se destacou na cidade por sua elegância, criatividade e força. Criou a Condotti, que no ano que vem completa 40 anos, agora com novo nome, Village Condotti, e sob a batuta das irmãs Cláudia e Danielle, que aprenderam tudo com a mãe. Muito mais do estilo, elegância e modelagem impecável, Tânia foi exemplo de força, garra e determinação. A empresária e estilista ensinou as
filhas a superar qualquer adversidade e seguir sempre em frente, pois passou 20 anos de sua vida enfrentando diversos tipos de câncer e não parou de trabalhar nem um dia sequer.
Como foi a infância de vocês?
Nossa infância foi muito bacana. Somos três irmãos, eu (Cláudia), Flávio (do meio) e Danielle. Morávamos na Pampulha, perto de nossos avós paternos, então vivíamos na casa deles. Lá, na época, as casas eram quase sítios. Na casa dos meus avós tinha campo de futebol, uma piscina enorme, duas araras (uma azul e outra vermelha), jabuti, papagaio, dois cachorros (um boxer e um dálmata), horta, um pomar enorme. Meu avô tinha um viveiro de pássaros que dava para andar dentro dele, com uma centena de espécies. Como sou a filha mais velha, acredito que aproveitei mais essa época. Brincávamos de faroeste, onde eu era ou a cacique ou a xerife, tinha cocar e tudo mais. Danielle e Flávio eram os forastei- ros. Outras brincadeiras eram polícia e ladrão e esconde-esconde. Caçar jabuti, que nunca achávamos, porque o terreno era enor- me. Foi uma infância que as crianças de hoje não têm, subíamos em árvore e brincávamos de Tarzan. Enfim, eu era uma “capeta” nata, sempre envolvia meus irmãos em confusão; então, eu mandava e os meninos obedeciam.
Eram muito unidas?
Mamãe sempre fez questão de que fôssemos muito educados, arrumados e tal. E eu sempre aparecia com um arranhão ou sujava os meninos com terra e ela ficava maluca e brava. Já papai sempre me chamava na responsabilidade de ser a irmã mais velha. Quando saíamos para o parque Guanabara ou o Mineirão, ele sempre dizia: “Minha filha, olho nos meninos junto com o papai”. Nessa hora eu me esquecia do mundo e focava nisso. Até hoje é assim. Sempre fomos todos muito unidos, mas acho que por Danielle ser um ano mais nova que meu irmão Flávio, eles sempre foram mais próximos. Mas sempre estivemos juntas em tudo. Nunca ficamos brigadas nem um dia sequer.
E os estudos?
Lá em casa quem mais gostava de estudar era a Danielle. Ela sempre teve paciência de sentar, fazer exercício tudo certinho e tal. Eu nunca tive muita afinidade com estudos. Ia para o Colégio Zilah Frota, no Mangabeiras, olhava pela janela as montanhas e ficava pensando o que eu estava fazendo ali e que devia estar no Minas Tênis Clube com minha turma. Porém, adorava as aulas de inglês, português e ciências. Sou muito imediatista, curiosa e sociável, gosto de aprender e aplicar imediatamente o que aprendi. Talvez por isso tenha me enveredado pelos cursos de marketing, aliados aos das novas mídias que surgem a cada momento. Amo! Adoro também conversar com pessoas mais jovens, pois aprendo muito e com isso fico atualizada. Para ter uma ideia, minhas fontes são meus sobrinhos Maria Eduarda, de 10 anos; João Lucas, de 9, e Pedro Henrique, de 10. Eles fazem com que eu perca totalmente a noção de quantos anos tenho e isso é muito bom, porque fico solta para testar tecnologias na hora de gravar vídeos.
Quando pequenas, o que queriam ser quando crescessem?
Lembro-me de que queria ser de tudo um pouco, desde que tivesse ação e aventura no meio: astronauta, policial, atriz de filme de ação, detetive, surfista, versão feminina de Indiana Jones. Danielle já era mais pro lado artístico como bailarina e atriz de Hollywood.
Como nasceu a Condotti?
Mamãe começou a empresa em 1981, eu tinha uns 9 anos e Danielle uns 4 anos. Nossa mãe sempre foi muito chique, usava sempre o que já era moda antes de chegar ao Brasil, mas sempre com o toque dela. Seja com um lenço diferente, um chapéu, uma gola. Ela era diferente. Nunca precisou fazer esforço para ser quem era. Sabe as influencers de hoje? Era ela antigamente. Sua postura falava por si. Mamãe sabia olhar para um tecido, uma linha ou material de bordado e passar para o papel o que havia imaginado com uma facilidade muito grande. Sabia construir e desconstruir um estilo, transformando em arte com maestria. Soube aproveitar tudo isso e junto com seu tino para negócios, começou a fabricar as próprias roupas e usá-las em eventos da alta sociedade mineira, chamando a atenção dos colunistas sociais da época e das melhores lojas de Belo Horizonte, que nos anos 1980 se localizavam na chiquérrima Savassi. Vieram os pedidos dos lojistas e posteriormente solicitação de reposição e de novos modelos. Assim nascia a Condotti, hoje Village Condotti.
Quando você e sua irmã perceberam que gostavam de moda?
Sempre fui fascinada por moda. Amava ver minha mãe se arrumar. Desde uns 7 anos fuçava o guarda-roupas dela e me “fantasiava” de adulta. Mas não era só brincadeira de criança. Pegava as joias, bijuterias, casacos, sapatos, bolsas, etc., colocava em cima da cama dos meus pais e ficava admirando detalhes, cores, brilhos, texturas, tudo ao meu modo. Minha mãe ficava louca, porque além de fazer isso eu também produzia meus irmãos com as coisas que eu “garimpava” dela. À medida que fui crescendo, acho que fui absorvendo muito do feeling da minha mãe, do olhar clínico. Sabe aquele sentimento de que só de bater o olho você sabe se é bom ou não? É isso. Danielle herdou a garra e a habilidade de desenhar, da técnica e da inspiração para construir uma coleção. Ela é puro business, que mamãe tinha muito.
Quando começaram a trabalhar na empresa?
Comecei a trabalhar com minha mãe aos 17 anos arrematando roupa. Dentro da fábrica só não cheguei a desenhar, porque não tenho essa habilidade. No mais, passei por todos os setores até me estabelecer no marketing e novas mídias. Danielle começou a trabalhar aos 16 na loja com vendas e também passou por todos os setores da empresa, porém, ela se estabeleceu na parte criativa e administrativa. Tudo sempre foi muito natural pra gente dentro da empresa, mamãe sempre nos guiou no que fazíamos. Tivemos a melhor professora do mundo. Ela era firme, mas também sabia reconhecer as habilidades de cada filha e foi primordial para que escolhêssemos em qual área teríamos mais êxito por afinidade.
Tânia adoeceu por muitos anos. Vocês assumiram a empresa?
Mais ou menos. Muita gente não sabe, mas mamãe teve cinco tipos de câncer durante 20 anos, mas nunca deixou de trabalhar nem um dia sequer. Fazia quimioterapia e ia direto pro escri- tório. Impressionante que não sentia dor e nem passava mal. Dávamos apoio, mas ela estava sempre presente. Ela já vinha há alguns anos se permitindo descansar mais um pouco, coisa de três anos pra cá. Não deixou a empresa de lado, mas na parte de estilo vinha na época de criação de coleção para dar consultoria e assegurar que a modelagem e a qualidade dos produtos não se perdessem. No final de 2018 para 2019, tomou a decisão de se reinventar e estava criando uma linha de homeware, que não teria nada com a empresa de moda. Não deu tempo. Seu estado de saúde se deteriorou muito rápido de julho de 2019 até dezembro, quando partiu. Ainda assim, até sua última semana de vida ela estava me dando orientação de como queria que nossa casa estivesse arrumada para o Natal e fazendo planos para 2020.
Vocês sempre fazem coleções grandes?
Todas as nossas coleções são profundamente estudadas e pesquisadas de acordo com tendências e comportamentos e muitas vezes temos como inspiração cidades, elementos da natureza, letras de poemas e músicas, escritores, artistas e etc. A coleção de inverno 2020 foi subdividida em três temas bem distintos: Flamenco, composta por modelos mais teatrais e fortes; Poema, com todo o encanto do romance e leveza dos tecidos; e a Valsa, com seu gingado e sedução. A Village Condotti continua com sua essência: alfaiataria impecável e festa, reconhecidas em todo o Brasil pela sua beleza, qualidade e modelagem. Conquistamos ao longo dos anos uma clientela exigente e fiel que nos requer dedicação integral. Saber escutar e interpretar o que realmente o consumidor quer é um exercício diário e gratificante, tornando nosso processo de trabalho a cada dia melhor.
Mudou alguma coisa com a pandemia?
A vida continua. Já estamos a todo vapor pesquisando tendências de moda, formatos e datas de lançamento para 2021. Tudo é novidade agora, o que o setor podia fazer no ano passado, como eventos para lojistas e atendimento presencial em loja, está restrito e incerto. Neste primeiro momento, as medidas que foram tomadas e que são necessárias para a segurança de todos, tiveram um efeito negativo. Mesmo com toda a tecnologia que está aí para facilitar a vida de todos, o contato humano (seja por video-chamada, telefone ou presencial) nunca será posto de lado. O ser humano é feito para receber ca- rinho. A relação de confiança que temos com nossas clientes tem feito toda a diferença neste momento em que quase toda a estrutura comercial, hoje, está em home office, e-commerce e Instagram.
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