Jornal Estado de Minas

entrevista/Liliane Carneiro Costa - 53 anos Engenheira/Empresária

Novos rumos

 
A engenheira e empresária Liliane Carneiro Costa se preparou para dirigir a empresa familiar, a Construtora Líder, que marcou época em Minas. Dedicou grande parte da vida a essa função, que desempenhou com maestria ao lado do pai, seu grande exemplo. Porém, depois de duas décadas de dedicação, preferiu fazer outras escolhas, abriu mão da estabilidade e partiu para a carreira solo. Hoje, atua no mercado com sua empresa imobiliária e leva uma vida mais equilibrada, sabendo tirar o máximo proveito do trabalho, mas também dos momentos de lazer, ganhando em qualidade de vida e se dando o direito de desfrutar dos seus hobbies que ficaram, por muito tempo, “guardados”.
 
Sempre quis ser engenheira ou pensava em ser outra coisa quando era pequena?
Não, pensava em outras profissões, como o jornalismo, porque sempre gostei da comunicação, e pensei em administração de empresas também.

A influência profissional veio de seu pai, por causa da empresa?
Sim, fui convivendo com a engenharia e projetos em casa desde pequena e isso me influenciou.

Gostava de estudar?
Muito, desde pequena sempre gostei de estudar, tanto que passei em quarto lugar no vestibular para engenharia civil na UFMG.

Depois da faculdade, quais os outros cursos que fez?
Como disse, me graduei em engenharia civil na UFMG, depois morei um ano em Zurick, na Suíça, onde fiz um MBA em marketing, e um intensivo em alemão. Fiz também alguns cursos na área de comunicação, um deles no Rio de Janeiro, próprio para televisão, na empresa No Ar Comunicação, e cursei dois anos de jornalismo na PUC, na época do meu programa Momento de decisão. Participei de diversos programas e treinamentos para executivos, como o My globe, este pela Fundação Dom Cabral em parceria com o Insead. Por ter morado fora, falo fluentemente o inglês e o alemão, e tenho uma noção básica do francês.

Com quantos anos começou a trabalhar na Construtora Líder?
Comecei a trabalhar na Líder aos 18 anos. Fazia de tudo.
Passei por todas as áreas. Era uma faz- tudo, para aprender tudo, e visitava as obras com meu pai.

Era seu desejo ou foi um caminho natural?Um caminho natural. Como foi ser uma executiva mulher, tão jovem, em um meio tão masculino?
Por incrível que pareça, nunca me senti discriminada. Acho que convivia tanto com meu pai e o acompanhava em tudo, que talvez isso tenha me dado um respaldo e eu nem percebia que quase sempre eu era a única mulher nos grupos. E nunca me incomodou ser nova e estar junto com ele ou com grupos de empresários com muito mais experiência que eu. Sempre gostei de aprender e crescer como ser humano e como profissional. Sempre gostei muito de tudo que fiz na Líder e sempre me orgulhei dos resultados: participei do planejamento, do desenvolvimento e da entrega para os clientes de prédios maravilhosos, verdadeiras obras de arte.

Quantos anos atuou na empresa?
Fiquei lá por 22 anos.
Saí em 2006, para montar a minha empresa de consultoria, a LCC. Depois virou imobiliária.
 
Por que decidiu sair?
Na época, eu já havia participado ativamente da concepção e do lançamento com sucesso do Grand Lider Olympus e talvez seria uma boa hora para ser feita uma transição e eu mudar de posição. Achei que já tinha cumprido meu papel até então. É muito bom quando um profissional tem a oportunidade de enxergar o seu negócio do outro lado da mesa.

Como foi essa ruptura para você?
Foi uma ruptura muito difícil, um dos momentos mais difíceis da minha vida. Foi um grande desafio.

Durante muito tempo, você fez um programa de entrevistas na televisão chamado Momento de decisão. Esse foi o seu momento de decisão? 
Se eu for pensar em nível de desafio, sim. Apesar de que, na vida, tomamos decisões todos os dias: algumas boas e outras ruins. E quando eu pensei em fazer o programa Momento de decisão, pensei justamente nisto, em como as decisões são um desafio para as pessoas e como mudam o destino delas e, muitas vezes, do mundo ao seu redor.
E quis deixar um registro de alguns cases de sucesso. Realizei 100 entrevistas com empresários de sucesso na Rede Minas de televisão, e aprendi muito com eles. Alguns desses cases estão no meu livro Momento de decisão. Então, naquele dia em que decidi que deveria sair um pouco da empresa do meu pai e ter uma trajetória minha foi um ‘momento de decisão’ importante sim.

Como foi recomeçar, descobrir em quê trabalhar?
Na verdade, não foi um recomeço. Foi uma continuidade de parte do que eu fazia na empresa. A diferença foi que eu estava sozinha, sem um time do meu lado, e também que fui me encontrar muitas vezes do outro lado da mesa. Como eu fazia o lançamento de todos os prédios e fui diretora de marketing, além de trabalhar na área comercial, então sempre fui nestes segmentos multifunção. Assim, quando me vi sozinha, consegui montar uma imobiliária de luxo para atender os mesmos clientes e investidores para os quais antes eu desenvolvia produtos imobiliários na Líder. Gosto de atender os clientes no seu sonho de morar bem e gosto de ver as pessoas felizes. Quando passei a vender as unidades do Grand Lider Olympus, por exemplo, e atender os clientes diretamente em vez de ter uma equipe vendendo, não tive problema.
Para mim, todo trabalho dignifica o ser humano e, às vezes, fazer uma mudança de posição, mesmo que seja um degrau abaixo, faz parte da vida e do aprendizado. É a chamada experiência que só se aprende fazendo.

Por que escolheu o ramo imobiliário?
O ramo imobiliário como disse é uma continuação do que sempre fiz na Construtora Líder. E agora, com mais conhecimento do mercado, posso oferecer um bom aconselhamento para quem me procura sobre as melhores opções de investimento.

Com a pandemia, chegou a temer a paralisação do mercado?
A pandemia foi algo inesperado, mas para o mercado imobiliário as procuras aumentaram, pois o imóvel significa sempre segurança, e com os juros baixos é a melhor opção de investimento.

Parece que teve uma grande procura por terrenos em torno da cidade para  casa de campo. É verdade?
Tanto a procura por terrenos em torno da cidade para a construção de casas como o mercado de segunda moradia, ambos cresceram muito. Sendo assim, estou planejando um desenvolvimento de loteamento com terrenos e casas em uma região de praia, que nós de Minas Gerais amamos. Sem falar que o potencial turístico das praias do Brasil é enorme e quem se interessar nesse sonho a hora é esta.

O que mudou na mulher e na executiva nesta nova fase de vida?
Atualmente, estou mais consciente das boas escolhas que devo fazer em todos sentidos: mais focada em qualidade do que quantidade. Como mulher, busco colher os frutos da boa mãe que fui e ainda sou, porém, agora, com essa missão bem cumprida, posso dedicar mais tempo pra mim. Como executiva, tenho mais liberdade.
 
Por falar em mãe, seus filhos Ludmila e Carlos Eduardo (Cadu) escolheram profissões 
completamente diferentes do ramo de 
atuação da família. Como foi isso para você? Aceitou bem a escolha deles?
Fico feliz com as boas escolhas que fizeram, pessoal e profissionalmente. São duas opções lindas de vida: a Lud, médica pela UFMG, agora residente no Hospital João XXIII, e o Cadu, seminarista.
Aceitei muito bem e me orgulho dos dois. Estão bem criados e prontos para seguir a vida deles com todos desafios, missões e propósitos de cada um. Foram escolhas diferentes sim do nosso ramo, o que é bom, porque indica verdadeira vocação.

Durante a pandemia, você retomou o programa de entrevistas com lives semanais. Fale um pouco sobre isso.
Na pandemia, retomei sim minha paixão por entrevistas, com lives todas as quintas-feiras, às 20h. Está sendo legal, é um approach mais pessoal e informal, mais leve, o que combina com minha fase de vida. Como diz minha amiga Leila Ferreira, a vida leve é bem melhor. Quando chegamos aos 50, queremos viver só o que nos pertence. Quero uma vida leve, emocional e espiritualmente.

Você sempre gostou de cantar, era um hobby, chegou a fazer shows e até a gravar discos. Como é este lado artístico da Liliane?
A música é minha eterna paixão. Gravei dois CDs. Imaginem, daqui a uns anos ninguém mais vai saber o que é um CD. Isso é mais uma prova de que quando a pessoa tem um sonho deve tentar realizá-lo. Sempre falei isso para meus filhos: ‘Busquem o que realmente lhes trará a felicidade e lembrem-se da parábola dos talentos. Deus quer que cada um use seus talentos para o bem. Quem faz o bem colhe o bem’. Então, essa é minha filosofia de vida.

Atualmente mora no Alphaville, os filhos já estão fora. Como está esta nova fase de vida? Mudou muito?
Tenho um lado artista muito forte, esse eu peguei da minha mãe, Scheila, grande apreciadora das artes plásticas de Minas Gerais. E tenho também o lado de engenheira, e esse agradeço ao meu pai, Carlos Carneiro Costa, que é realmente o ícone da construção em Minas Gerais. O meu lado artístico me dá a sensibilidade para fazer o equilíbrio entre o raciocínio lógico da engenheira e o dia a dia da mulher que sou, cheia de sonhos como toda mulher é. Por isso, gosto de cantar e voltei até a tocar violão, uma paixão antiga. Agora que meus filhos não moram mais comigo, e cada um tem sua vida, posso morar um pouco mais distante do Centro de BH. Assim sendo, moro desde o ano passado no Alphaville Lagoa dos Ingleses. Desenvolvi no ano passado, aqui no loteamento Costa Laguna, o primeiro projeto chamado Líder Casas. É um projeto de desenvolvimento de casas que leva a minha assinatura, em parceria com alguns arquitetos. Esse é o conceito que pretendo levar para alguns loteamentos. Entendo que quando pensamos no sonho de ter uma casa, temos que avaliar vários fatores. Sendo assim, acredito que posso somar muito com meus clientes em planejar o projeto ideal da casa de cada um. Sim, minha vida mudou muito. Está mais simples, leve e bem melhor. Só tenho a agradecer a Deus. 
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