Uma nova casa, um novo desafio. Depois de 22 anos, Cláudia Narciso se despediu do grupo Arezzo&Co e começou um outro ciclo na Constance Calçados. Com entusiasmo, energia e um certo friozinho na barriga, que antecede toda estreia, assumiu a Diretoria de Produtos na marca mineira, que vai crescendo sem muito alarde e tem, atualmente, 185 lojas no Brasil.
Comandada pelos irmãos Breno e Alessandra Noronha, filhos de Eduardo Noronha, a dupla deu continuidade aos negócios do pai no ramo do mobiliário, com a Prima Línea, durante vários anos. A história com os sapatos começou em 2003, adotando o conceito de self shoes e o sistema de franquias. “A Constance sempre me chamou a atenção e o modelo de negócios me atraiu. Acredito que ela tem muito potencial e penso que vou contribuir com minha experiência e aprender muito”, explica Cláudia, que já está mergulhada no novo universo e com vários compromissos e viagens agendados.
Para os que desejam saber o motivo de deixar um emprego seguro em uma empresa na qual gozava de prestígio e confiança, ela esclarece: há muito tempo, projetava dar uma desacelerada na agitada vida profissional, que exigia viagens nacionais e internacionais constantes e uma responsabilidade de vulto. Para se ter ideia, estava sob sua competência todo o trabalho de pesquisa e as apostas dos produtos para as várias marcas da Arezzo&Co – Arezzo, Schutz, Alexandre Birman, Ana Capri, Fever e Alma – a cada temporada. Atuava também na área de comunicação e marketing da empresa, com participação nas campanhas das labels.
A pandemia, segundo ela, contribuiu para que seus planos se materializassem. “Meu contrato venceu em maio, fiz a última viagem ao exterior e, em seguida, a apresentação da coleção de verão, agora nas lojas. O que estava acontecendo no mundo, como consequência da Covid-19, me sensibilizou demais. Fiquei muito impactada no dia em que vi a Oscar Freire toda tapumada, o comércio fechado, a rua vazia. Foi uma sensação de estar em uma guerra. E esse impacto me fez questionar o que valia a pena.”
O resultado dessa reflexão foi a opção por se dedicar mais à família e ter uma rotina em Belo Horizonte, onde passava pouco tempo. As atividades do grupo Arezzo se concentram, principalmente, em São Paulo e Campo Bom, cidade do Rio Grande do Sul onde a empresa tem um QG local e onde se concentram os ateliês de matérias-primas e fábricas que terceirizam a produção para ela. “Nunca quis me mudar, sempre preferi enfrentar os aeroportos, porque gosto de morar em Belo Horizonte. Aqui tenho médico, dentista, cabeleireiro”, ressalta a consultora. Na tarde em que conversou com o Caderno Feminino, por exemplo, cumpria o horário de almoço em casa, algo rotineiro, mas que, para ela, ganha um novo sabor.
No campo Por outro lado, Cláudia pretende também se dedicar aos próprios negócios. A vida simples do campo, o contato com a natureza, a sustentabilidade já fazem parte do seu lifestyle há certo tempo, desde que começou a investir em pousadas situadas em locais privilegiados. A última delas é a Raiz Parque, área de preservação ambiental e de patrimônio histórico, cultural e étnico, próxima a Diamantina. Um dos compromissos assumidos, quando adquiriu o terreno de mil hectares, foi o de zelar pelas nascentes, fauna e flora do local.
É nesse paradise, com direito a cachoeiras, que ela recupera as energias. Lá tem horta, tem jardim, tem cavalo, galinhas e cachorros, um cotidiano de “roça”, mas com todos os refinamentos para os hóspedes: culinária deliciosa e mesas preparadas com peças garimpadas mundo afora, além de talheres de prata, louças especiais e guardanapos de linho. No modelo boutique, a capacidade de ocupação da pousada é de apenas 12 pessoas por vez.
Além de ajudar a receber e conviver com os hóspedes, Cláudia tem realizado projetos com a comunidade e se deleitado em descobrir, incentivar e ajudar a vender a produção de artesãos – bolsas e roupas de camas bordadas, trabalhos em crochê feitos pelas mulheres da região. Isso se aplica também a outros produtos, como o requeijão do seu Guido, ovos e hortaliças dos locais, que são vendidos na pousada.
Além disso, ela é dona também de outro empreendimento, a Estância Lomba, que fica na zona rural de Novo Hamburgo, e que encontrou, por acaso, em suas andanças pelo Rio Grande do Sul. Como o Raiz Parque, trata-se de uma área de preservação ambiental permanente – são 350 mil metros quadrados de mata atlântica virgem, com nascente, riacho e cachoeira privativa, lago e praia.
Foi nesse lugar que a ex-modelo Gisele Bündchen, naturalista de carteirinha, aportou, em 2018, para fotografar o editorial Raízes para a revista Vogue. Levou consigo o marido, filhos e a mãe para usufruírem da natureza e de todos os confortos e luxos campestres que a pousada oferece e que também só podem ser curtidos por grupos de 10 pessoas de cada vez. “Sou apaixonada por esse paraíso. Fiz uma reforma geral na propriedade quando a comprei e, com o tempo, resolvi abrir para as pessoas se hospedarem”, explica Cláudia.
História Se depender da dedicação que sempre teve com o grupo Arezzo, o resultado do seu empenho aparecerá em breve na Constance. “Ainda estou me inteirando sobre o funcionamento da empresa, mas percebo que ela traz para o mercado produtos atraentes, femininos e, principalmente, com muita informação de moda. E que se trata de um negócio sólido”, enfatiza.
Sapatos fazem parte do DNA da consultora estratégica de moda, branding e varejo. Afinal, são mais de 30 anos atuando no setor calçadista e uma carreira sólida, repleta de cases de sucesso. Nascida em Montes Claros, trabalhar fazia parte dos seus planos desde que era menina. Queria ser moça do Bradesco ou vendedora de loja para ganhar dinheiro e ser independente. Fascinada por moda, comprava revistas especializadas e, por meio dos moldes oferecidos pela Manequim, se aventurava na confecção das próprias roupas.
Sua porta de entrada no fashion começa em 1987, com a Getúlio, uma grande escola, como ela define. Depois, seguiu para a Júlia Mezzeti para atuar como estilista e diretora de Marketing. Nos anos 1990, sem dúvida, essa era uma das marcas mais badaladas do setor. Com estandes sempre lotados nas principais feiras do país, a label ainda estampava todas as mídias off-line da época. Tornou-se uma febre entre o público jovem com sua linguagem contemporânea, solados e saltos arrojados e construções atrevidas.
Foi após arriscar na criação e no comando da Narciso que Claudia se viu em um dos grandes desafios da carreira: o convite para assumir a direção de estilo da Arezzo. Por lá vivenciou as diferentes áreas da empresa e chegou a assumir o cargo de CEO da marca Arezzo. Agora, sua meta é fazer com que a Constance seja objeto de desejo de todas as brasileiras, lançando mão da enorme experiência adquirida ao longo dos anos.
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