De caneta a automóvel. Ingrid Peixoto foi fisgada pelo design em razão da possiblidade de desenhar todo tipo de produto. Depois de anos trabalhando exclusivamente com iluminação, ela expande sua criatividade e lança coleção de objetos de mesa. “Tinha muito certo na minha cabeça que queria atuar em várias áreas diferentes. Sou muito inquieta.” As peças, decorativas e também funcionais, são um convite para quebrar a monotonia. Nesta nova fase, ela resgata sua história afetiva com a pedra-sabão.
O novo momento da carreira se deve a uma mudança de vida. Há sete anos, Ingrid voltou a morar em sua cidade natal, Mariana, na Região Central de Minas Gerais, e começou a pensar em desenvolver coleções próprias. Ela continua como designer da empresa de iluminação Interpam, de Belo Horizonte, só que trabalha a distância. “Sempre tive muita vontade de voltar para o interior. Morar aqui abriu meu leque de oportunidades e me permitiu fazer o que sempre quis: trabalhar em áreas diferentes”, pontua.
Ingrid decidiu começar por uma linha de decoração. Pensou em peças para casa e chegou aos vasos e centros de mesa. “Queria objetos que fizessem parte da vida das pessoas. Acho muito interessante pensar que as peças só ganham vida quando estão na casa de quem comprou, sendo utilizadas.” A primeira criação é um trio de vasos em pedra-sabão, com acabamento em latão. A inspiração vem de três formas básicas: triângulo, curva e quadrado. Podem ser posicionados juntos ou separados.
Cada uma do seu jeito, as peças da designer se mostram sempre mutáveis. Ingrid brinca que elas são antimonotonia. “Amo que a pessoa utilize o objeto da forma que quiser, não precisa ser de um jeito só. Quase todas as minhas peças são bem versáteis.” Arlecrim, por exemplo, é um produto que funciona como vaso de flor e castiçal (basta tirar a parte de cima e usá-la como suporte para vela).
Isso também vale para os centros de mesa. As fases da Lua estão representadas pelo Lunar, peça redonda, dividida ao meio, com abertura para encaixar um cilindro de vidro. O formato varia de acordo com a posição das metades. O jarro transparente, oferecido em dois tamanhos pode ser um vaso de flor ou um apoio para pães e frutas, caso o centro de mesa seja usado como tábua. O Plano segue a mesma lógica, mas é ovalado e com partes assimétricas.
Quem eleva ao máximo o conceito de versatilidade é o centro de mesa Dominó. Assim como no jogo, as peças vão se encaixando e o centro de mesa ganha formatos variados. Todas são quadradas, sendo que um modelo é inteiriço e outro tem um furo no meio, que pode receber ou não o cilindro de vidro. As combinações são infinitas e o uso depende da criatividade da pessoa.
Ingrid se inspira em outro brinquedo, o pião, para criar um objeto (centro de mesa ou fruteira) que chama a atenção por ser esteticamente interessante e divertido. A haste que atravessa a base redonda deixa a peça instável e a falta de equilíbrio provoca movimentos inesperados.
A escolha da pedra-sabão envolve memória, sentimentos e homenagem. Isso porque Ingrid tem uma relação afetiva com o material. Seu avô fundou a primeira loja de pedra-sabão em Ouro Preto, onde o pai, José Alberto Peixoto Ferreira, trabalhava. “Eu cresci na fábrica, no meio de torno, poeira de pó de pedra-sabão, e o meu pai fazia todos os desenhos técnicos a mão. Lembro-me de que ficava ao lado dele vendo aquilo tudo admirada. Ele era um desenhista industrial autodidata”, conta.
RAÍZES Ingrid não chegou a trabalhar na fábrica da família, que foi vendida quando ela ainda era adolescente, e muitos anos se passaram até a pedra-sabão voltar a fazer parte da sua vida. O retorno a Mariana acabou por levá-la, inconscientemente, a resgatar suas raízes. “A primeira vez em que coloquei os pés em uma fábrica de pedra-sabão, depois que meu pai faleceu, saí de lá chorando. Lembrei-me da fábrica dele, da história toda, de brincar em blocos de pedra grande, e pensei: Nossa, como a vida dá voltas.”
Fora o lado afetivo, a designer considera a pedra-sabão um material fantástico. Ela destaca a beleza, com seus veios naturais (“cada lote é uma surpresa”). Fala também sobre a facilidade de corte e torno, por ser relativamente “macia”, além da versatilidade. “Existem muitas possibilidades, desde que você saiba utilizar o material. O meu pai fazia desde banheira, piso, torneira, balaustrada, chafariz até objetos de adorno. Ele tinha em casa uma ladeira em pedra-sabão.”
Por ser a favor da mistura de materiais, Ingrid não se limita à pedra-sabão. Você vai observar que as peças têm acabamento em latão e algum elemento de vidro. “Sempre busco o equilíbrio, então o vidro traz leveza e transparência e o latão deixa as peças mais requintadas. Acho que os materiais se complementam”, justifica. Há também versões dos objetos em madeira.