Pouco divulgado por aqui, o estilista Yohji Yamamoto é tão respeitado no mundo dos criadores originais de moda que sua carreira mereceu um filme sobre moda e cinema, encomendado pelo Centro Georges Pompidou, de Paris, ao talentoso cineasta Wim Wenders. Realizado em 1989, o filme continua atualíssimo, porque explora muitas vertentes de uma vez, entre cinema, design de moda, Tóquio e Paris. Além disso, distingue a linguagem mutável do cinema de Wenders e a da moda de Yamamoto. Instigante, o diário cinematográfico impressionista “Notebook on cities and clothes”, em exibição na MUBI, plataforma de streaming e curadoria de filmes, revela o processo criativo de duas mentes brilhantes: o ícone da alta-costura Yohji Yamamoto e o próprio diretor, Wim Wenders.
É tão atual que acaba de ganhar nova divulgação em Paris. Ao longo das entrevistas e cenas, filmadas em vídeo e câmera de 35mm entre Paris e Tóquio, com tomadas externas e no ateliê de Yamamoto, o documentário revela um estilista de pensamento profundo sobre a vida, as pessoas e sua identidade. “Fazer moda implica pensar nas pessoas, com quem falo e encontro”; “Sou um costureiro”; “Ao começar um trabalho, penso talvez no tato, depois na tela, no material e nas formas, não necessariamente nessa ordem”, diz Yamamoto em suas conversas com Wim Wenders.
Nascido em Tóquio, em 1943, Yamamoto se graduou em direito na Universidade de Keio, em 1966.
Desistiu da carreira legal para auxiliar sua mãe em seu negócio de moda, onde aprendeu suas habilidades de costura, refinadas no curso que fez na Faculdade de Moda Bunka e lançou sua primeira coleção prêt-à-porter em 1972. Época em que lançou, em Paris, sua etiqueta, Y'S. Sua primeira coleção foi mostrada em Tóquio, em 1977, e em Paris, em 1972. Comentando seus lançamentos, alguns jornalistas de moda analisaram suas criações como “ vestimentas que se parecem a mulambos que escaparam de uma explosão atômica e que evocam o fim do mundo”. Só que suas coleções, assim como a de outro japonês, Rei Kawakubo para a grife Comme des Garçons, foram consideradas como uma sensação de novidade, um choque emocionante contra o pobreza da época. Criadas com base na costura ocidental, Yohji apresentou um estilo de roupa ao mesmo tempo altamente sofisticada e cotidiana. Graças ao seu trabalho com os tecidos, sempre davam impressão de conforto, de roupa que já tinha sido usada.
Em uma entrevista para o New York Times, em 1983, Yamamoto avaliou suas criações: "Eu acho que as minhas roupas masculinas são tão boas quanto as da moda feminina. Quando comecei a criar, queria fazer roupas masculinas para mulheres." E ainda: "Quando comecei a fazer roupas para a minha linha Y's, em 1977, queria que as mulheres vestissem roupas de homem. Me joguei na ideia de desenhar casacos para mulheres. Significava algo para mim – a ideia de um casaco guardando e escondendo o corpo de uma mulher. Queria proteger o corpo feminino de algo – talvez dos olhos masculinos ou de um vento frio."Em suas criações, era fácil notar que evocavam antigas roupas de trabalhadores europeus. Yamamoto ficou conhecido por ter um espírito avant-garde em suas roupas, frequentemente criando obras distantes das tendências atuais. Suas características silhuetas grandes, geralmente, incluem drapeados em texturas variadas. As coleções de Yohji são predominantemente feitas em preto, uma cor que ele descreve como "modesta e arrogante ao mesmo tempo. Preto é preguiçoso e fácil – mas misterioso. Mas, acima de tudo, o preto diz: "Eu não importuno você – não me importune".
Suas linhas principais mais bem-sucedidas comercialmente, Yohji Yamamoto e Y'S, são especialmente populares em Tóquio. Essas duas linhas também estão disponíveis em suas flagship stores em Paris e em lojas de departamento de luxo ao redor do mundo. Outras linhas importantes incluem Pour Homme, Costume d'Homme e a Coming Soon. Yohji Yamamoto Inc. relatou em 2007 que as vendas nas duas linhas principais são de por volta de US$ 100 milhões anuais. Seu trabalho também conquistou consumidores através de suas colaborações com outras marcas de moda, incluindo Adidas (Y-3), Hermès, Mikimoto, Mandarina Duck e New Era Cap Company.
Decisões equivocadas de administradores financeiros empurraram a empresa para dívidas de mais de US$ 65 milhões em 2009, o que irritou Yamamoto e levou a uma reestruturação da empresa de 2009 a 2010. O capital privado integral Corp foi identificado como a empresa japonesa que reestruturou a Yohji Yamamoto Inc. e em novembro de 2010, quando a empresa saiu das dívidas, evitou o risco de falência.
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