A pandemia veio como um furação. Abalou estruturas, colocou certezas em xeque, mudou rumos. Mas, por outro lado, deixou de pé uma nova Arte Sacra, pronta para enfrentar os desafios de um mundo que vive constantes transformações. A marca, conhecida e reconhecida pelas roupas de festa, está de volta ao segmento de moda casual. Além disso, passou a trabalhar com pronta entrega, deixando de atender exclusivamente ao atacado, e se abriu para o varejo, tanto com loja física quanto com e-commerce.
Marcela Malloy, que divide a direção criativa com a irmã gêmea Carolina, conta que a força para enfrentar o furacão e se reinventar veio da palavra propósito. “Foi um momento de autoconhecimento, de reafirmar nossos objetivos como empresárias e pessoas, saber que trabalhamos para eternizar sorrisos, seja em festas, momentos mais casuais, comemorações com mesa posta.” Como uma empresa que gera muitos empregos, não dava para parar, então a solução foi inventar moda, literalmente.
A moda casual não é novidade para a Arte Sacra. Dos 30 anos da marca, 20 foram divididos entre casual e festa. A decisão de focar em roupas de gala só veio em 2010, quando as filhas sucederam à mãe, a artista plástica Maria Rita Malloy, no comando da empresa. Com a mesma coragem, elas agora fazem o caminho inverso. “Não podíamos ficar parados esperando a pandemia passar. Voltamos para o casual, pois precisávamos participar de outros momentos das nossas clientes”, pontua Marcela.
Já na quarta coleção casual, a marca venceu o desafio de se colocar para o mercado de um novo jeito. “Conseguimos fazer as pessoas enxergarem a Arte Sacra em momentos cotidianos, mas sem perder o nosso DNA, muito ligado ao handmade.” As irmãs querem mostrar que, com a mesma roupa, dá para usar rasteira e ir para a praia ou calçar uma sandália de salto e participar de comemorações mais intimistas, como noivados e aniversários.
A coleção mais recente se chama Azo, palavra que significa motivo, ocasião, pretexto. A marca quer dar um pretexto para a mulher estar bem-vestida, nem que seja para ficar em casa – a percepção é de que todo mundo se cansou de usar pijama. As estilistas miraram em uma cliente worker. “Enxergamos a consumidora no início deste ano trabalhando. Ela está casual, mas impecável, confortável, chique, elegante e contemporânea, pronta para ir direto para um momento comemorativo”, descreve.
Marcela e Carolina contam com a ajuda do estilista Bruno Nascimento (Skunk e DBZ Jeans) para voltar o olhar para o casual. As matérias-primas são completamente diferentes do que elas estavam acostumadas a usar na linha festa. Na coleção Azo, há muitos tecidos naturais, com destaque para o linho de viscose, que, por sua elasticidade, dá um conforto a mais e não amassa tanto.
O mix de produtos teve que aumentar. Festa se resume a vestidos, basicamente. Mas, quando se fala em casual, abre-se espaço para peças como calça, colete, blazer e macacão. A marca investiu em uma alfaiataria mais leve, representada, por exemplo, por vestido chemise estampado e colete de malha.
Os vestidos ainda são maioria no catálogo. Acompanham as mulheres em momentos casuais, mas também podem fazer parte de encontros festivos. Os comprimentos mídi e maximídi foram escolhidos por ser coringas, já que passeiam pelo dia e pela noite. Alguns modelos são amplos e fluidos, enquanto outros se ajustam mais ao corpo (tendência identificada pela equipe de estilo).
Detalhes fazem com que as roupas sejam bem femininas, como as mangas, amplas e chamativas, que dão mais importância ao look. O decote ombro a ombro em camisas também entregam feminilidade, assim como as fendas nos vestidos. Faixas e cintos ajudam a marcar a silhueta.
JARDIM A coleção combina a elegância de tons terrosos e neutros (preto, off white e areia) com pontos de laranja, verde e vermelho mais fechados. As estampas são inspiradas em papéis de parede. “Na hora de criar a coleção, pensamos muito em arte e decoração. Como viemos de um ano em que as pessoas ficaram em casa, quisemos trazer jardins e flores.” Interessante o composé com um dos florais, que aparece na mesma peça com fundos diferentes, um no off white e o outro no tom cúrcuma.
A decisão de focar em pronta entrega também fez a marca voltar ao passado (no início, essa era a única modalidade de vendas). Os clientes, diante da impossibilidade de fazer planos a longo prazo, preferem comprar o que já está pronto. “O nosso desejo é voltar a fazer pedidos, isso é muito bom para toda a cadeia, o fornecedor de tecido, quem produz e o lojista, mas não vamos deixar a pronta entrega.”
A necessidade de ter um e-commerce, que foi lançado em novembro, levou ao entendimento de que era a hora de se abrir para o varejo. O showroom agora tem uma sala especial para atendimento, com hora marcada, do consumidor final. Além disso, a marca lançou na loja virtual uma coleção cápsula de produtos para casa, incluindo guardanapo, porta-guardanapo, jogo americano e toalha de lavabo. “Todas as nossas mudanças são permanentes: varejo, casual e pronta entrega. Somos uma nova empresa, inclusive com nova logo”, destaca.
Desenvolvida pela Greco Design, a nova logomarca tem cara mais clean e contemporânea. Representa as mulheres em toda a sua diversidade e imperfeição (a letra “s” é falhada intencionalmente).