Ela sempre quis ser decoradora, muito antes de saber, exatamente, o que significava a profissão, construiu uma carreira em torno de bons projetos, flertou com a moda, mas foi fisgada pela fotografia, que hoje ocupa um lugar especial na sua vida. Dividindo-se entre as fotos e a decoração de interiores, a luz é fundamental no trabalho de Raquel Coelho, um ponto de partida para ambas atividades. Essa relação começou quando, recém formada, foi contratada pela Iluminar, onde aprendeu todos os segredos da iluminação.A fotografia veio depois, resultado da imersão em viagens ao redor do mundo.
Tocada pelas montanhas longínguas, no seu portfólio sobressaem não só paisagens, mas figuras humanas singulares, que ela explora em fine art, obras que estão presentes em galerias de Belo Horizonte e São Paulo. O primeiro insight aconteceu numa expedição ao Chadar, na fronteira da Índia com o Paquistão, há 16 anos, com uma câmera amadora. As imagens, exibidas em um loft que criou para uma mostra de decoração, em Beagá, emocionaram e foram vendidas. O start para uma nova profissão estava dado. O cinema também é uma referência forte para a decoradora. Para ela, tudo funciona como uma grande mosaico do qual retira influências para seus projetos. O mais recente deles, na área de decoração, é o showroom da Tufi Duek que, agora, está sendo comandado na cidade pelo casal Ana Paola Murta e Vander Martins, nomes também por detrás da Skazi. Guiada pelo conceito de elegância da marca, Raquel transformou um galpão escuro em um ambiente unificado e contemporâneo. Atemporal, ele é aquecido por espelhos, escada instagramável, lustres volumosos que caem do pé direito alto iluminando uma coleção de quadros, e pela poltrona Donna, desenhada por Gaetano Pesce, no final da década de 1960. O móvel faz alusão a uma figura feminina amarrada a uma otomana em forma de bola, simbolizando as correntes que mantém as mulheres subjugadas.A proposta caiu bem com o desejo dos responsáveis de revitalizar uma marca que teve seu auge na primeira metade da década de 2000.
Comprada pelo grupo AMC Têxtil, ficou no ostracismo durante algum tempo. Coube à decoradora traduzir a ideia de novo sopro e energia à ambientação que embala a primeira coleção desse
novo ciclo da label.
Raquel, qual a sua formação?
Sou formada originalmente em decoração na FUMA, mas me especializei em luminotécnica e fotografia.
Qual foi o momento em que você percebeu que havia escolhido esse caminho?
Desde sempre, foi o que sempre quis, tendo vivido, aprendido e trabalhado com esse desejo meu. Queria ser decoradora ainda menina, muito antes de saber o que isso significava. Gostava de mudar móveis e objetos de lugar, transformar os ambientes. Com 16 anos, já morava sozinha e fui eu quem decorou a minha casa, do jeito que desejava viver. Quando me formei, fui trabalhar na Iluminar e esse fato mudou a minha vida. Apaixonei-me por iluminação.
Como isso aconteceu?
A luz é fundamental tanto no meu trabalho de decoração quanto na fotografia, ela tem brilho, mistério, esconde, mostra, empodera, cria atmosfera. E se transformou em um diferenciador em todos os meus projetos.
Como você encara essa experiência de materializar ideias das pessoas em torno de um sonho?
Como uma lapidação de um sonho, como uma tradutora da vontade de alguém, me permitindo editar esse desejo sob meu olhar.
Qual o perfil de clientes que a convidam para trabalhar para eles?
Maioria das vezes são pessoas que se identificaram com a minha visão e com meu histórico de trabalhos produzidos. Você concebeu, recentemente, o showroom da Tufi Duek, uma marca que
ficou, digamos, no ostracismo por algum tempo.
O que os atuais responsáveis demandaram?
Revitalização, sopro novo, energia nova. A marca chega com o olhar da Paolinha (Ana Paola Murta), que está à frente do estilo e tem muito bom gosto, além de uma experiência única. Juntamente com o Vander colocou a Skazi no mercado nacional, principalmente por meio das influencers, como a Thassia Naves, e, agora, a Silvia Braz, que está na atual campanha da Tufi Duek.
O que foi determinante para começar o trabalho em termos de reposicionamento de label?
A confiança e liberdade de conceber a partir de uma nova visão mais contemporânea. Eu criei para o casal vários outros projetos, entre eles os apartamentos residenciais, o showroom da Skazi e da SClub. Como já conhecem o meu trabalho, me dão muita liberdade e têm confiança no resultado. No caso do showroom da Tufi Duek, quebrei todo o galpão para dar uma cara de um imenso lobby e fiz as subdivisões por meio dos móveis. Ao mesmo tempo que é tudo funcional, a ambientação é impactante, com destaque para o pé direito alto, a escada, os lustres volumosos. Tudo é muito instagramável.
Como foi a concepção do projeto?
Logo me veio à cabeça o conceito de elegância e de uma marca para mulheres seguras de si mesmas. Originalmente, o local era escuro e com subdivisões. Imediatamente, pensei em unificar os espaços e criar um conceito atemporal como a marca sempre se apresentou. Com relação aos materiais usados, o pensamento foi em raw seco, sem interferência nas coleções e nos tecidos. Os espelhos com o dourado fosco das araras trazem a sofisticação do antigo com uma leitura contemporânea. A realeza é sutilmente pontuada nesses acabamentos assim como no tecido do lavabo e no ouro da cuba e torneira. No meu conceito de projeto tem que haver personalidade e desapego ao medo de ousar: pensando nisso, pontuamos no design da cadeira Donna, metáfora da luta das mulheres de ontem e de hoje. Por fim, minha intenção foi criar um ambiente lúdico com as plantas, tendo dimensões dobradas com os jogos de espelhos e um teto preto para criar um infinito, pois a imaginação é positivamente aparentada com o infinito...
Quem influencia você na decoração de interiores? Tem mais projetos em execução?
David Collins, sem dúvida! Tenho projetos em execução sim, em especial uma espetacular casa em arquitetura brutalista, no Clube dos Caçadores, e a nova loja Doux, no Belvedere.
Você tem uma pegada forte com a moda e teve, inclusive, uma loja em sociedade com a Aninha Magalhães. Como entrou nesse universo?
A loja era a Calixto, constelação da Ursa Maior, que significa muito belo. Entrei nesse universo pela afinidade com a moda e o desejo de expandir minha criatividade combinado com o encontro com uma amiga, a Aninha, com quem havia, naquele momento, uma conexão de gostos e ideias.
Qual é o seu estilo?
Livre
No seu instagram, você se autodenomina como artista...
Sim, há em mim uma busca de expressão artística por meio de várias linguagens, fotografia, arquitetura, dança, cinema, tudo expresso na produção e fruto de um olhar crítico a partir de uma estética pessoal.
Como é sua relação com a fotografia?
Expressão de meu código visual, muito além de um click, a eternização de modo de ver e sentir o mundo através de suas imagens, no tempo pontuado por emoções pessoais.
Como começou essa história e onde ela se situa, atualmente?
Começou com minhas visitas às montanhas ao redor do mundo, onde o desejo de registrar momentos, sentimentos e imagens tornou-se uma necessidade. Um desejo que realizei fotografando, que me proporcionou expressar e compartilhar o meu olhar.
Você fez algum curso ou é intuitiva?
Fiz cursos, sim, e através deles entendi que fotografar artisticamente é muito mais que apertar o click da minha câmara com técnica...entendi que ter um lápis nas mãos e saber escrever está longe de se conseguir produzir algo significativo. Aí entra a intuição que leva você à produção de algo sensível.
Quem são os fotógrafos que merecem s ua atenção?
Miguel Rio Branco, Bresson Cartier e Leni Riefenstahl, dentre outros tantos.
É uma profissão ou um hobby?
Tornou-se absolutamente profissão, tenho fotos em galerias e projetos em andamento.
Quem compra fine art?
Quem procura fotografia com qualidade.
Essa expertise a afastou um pouco da decoração?
Na verdade, essa profissão não excluiu a decoração da minha vida, apenas me permitiu ser mais seletiva na escolha de projetos.
Você é uma viajante...como as vivências pelos países que visita inspiram seu trabalho?
Todos estamos viajando por esse mundo e conhecer por onde estamos passando amplia a visão do nosso mundo.
Quem é a Raquel e como ela se relaciona com as pessoas e com o mundo?
Difícil eu mesma responder essa pergunta, mas recebo um retorno muito grande das pessoas ao meu redor pela alegria e leveza com que levo minha vida. Amigos são a minha riqueza e procuro respeitar o mundo em que vivo de uma maneira muito integral, seja no meu amor e respeito pelos animais, seja na minha dedicação aos amigos e pessoas com quem convivo. Sou uma legítima canceriana e tenho a verdade e sinceridade como essenciais e fundamentais em minha vida. Amo meu marido Denio e minha filhinha, a Bolinha, uma maltês muito gulosa.