O emocionante documentário “Vidas barradas” concorre ao prêmio internacional do Festival Cine Del Plata, na Argentina, na próxima semana. O documentário foi produzido pela agência Clara Digital, que tem como diretor o publicitário mineiro Cid Faria, que dá voz aos milhares de familiares das vítimas da tragédia da Vale em Brumadinho. O trabalho também foi finalista do prêmio Guarnicê, um dos mais antigos e prestigiados do Brasil, e recebeu o título de melhor filme de 2020 na categoria Voto popular.
DENÚNCIA
O festival argentino é um dos mais conceituados da América Latina. Na seleção da obra, os jurados entenderam o documentário como uma retratação e denúncia artística do triste drama que atingiu a população daquela cidade mineira em 25 de janeiro de 2019. Sem fins lucrativos, o documentário, de 80 minutos, foi assistido em primeira mão pela população de Brumadinho, tão logo ele foi produzido, mesmo porque a obra contou com a participação de muitos moradores da cidade. É um completo registro dos fatos ocorridos naquele dia e do que acontecia quase um ano depois da tragédia na vida de familiares, moradores e dos poucos que sobreviveram ao desastre com a barragem da Vale.
ALMAS MARCADAS
Permeados de depoimentos emocionantes de pais, filhos, irmãos, familiares e amigos das vítimas da tragédia ocorrida pela negligência e ganância. Cid Faria explica que a data 25 de janeiro de 2019 “está marcada na memória e na alma dos moradores da cidade mineira, que diretamente ou indiretamente dependiam financeiramente da empresa Vale”.
O diretor ressalta que a multinacional brasileira é uma das maiores empresas de mineração do mundo e a maior produtora de minério de ferro. “Apesar de todo o investimento tecnológico e dos milhões ou bilhões de reais de faturamento, um instrumento simples de segurança não funcionou, a sirene de alarme. O alerta, que poderia ter salvado vidas, ficou calado naquele dia. Exatamente às 12h28, a barragem da Mina do Córrego do Feijão ruiu”, denuncia.
Naquele momento, os funcionários da mineradora almoçavam no refeitório, que foi o primeiro a ser atingido. Com a violência de um tsunami, a onda de barro engoliu prédios, vagões de trem, veículos e vidas. Em minutos, arrasou comunidades rurais inteiras.
ESQUECIDOS
O filme mostra ainda o relato de um grupo de vítimas quase esquecido pela mídia, mas que sofre com a tragédia de Brumadinho – os índios pataxós da aldeia Naô Xôhã. O vídeo dá voz ao povo que viu a lama destruir o seu “deus rio”, a entidade da natureza que dá vida e alimento para a aldeia. Hoje, o grupo depende de caminhões-pipa para beber, cozinhar e lavar tigelas.
O ritual da Festa da Água, cultura ancestral dos pataxós, corre o risco de se perder com o tempo, isso porque eles não podem mais chegar perto do rio contaminado e morto.
Assinam a produção, além da Clara Digital, também a Comissão Internacional de Juristas Independentes. O documentário, que pode sair vencedor do Festival Cine Del Plata, pode ser visto pelo link encurtador.com.br/cfk57.