Jornal Estado de Minas
Destaque

Nome internacional


A arquiteta Juliana Vasconcellos está comemorando a inclusão do seu nome na Elle Decor A-List, lista anual da revista norte-americana que elege os melhores profissionais das áreas de design de interiores, arquitetura e paisagismo no mundo. Para se ter ideia da importância da seleção, o único brasileiro a receber a deferência até então foi o veterano Sig Bergamin, que chegou a morar em Nova York na década de 1990, onde emplacou vários projetos e participou de eventos importantes.

Juliana, no entanto, tem base firme em Belo Horizonte, cidade onde mora e dirige um escritório de arquitetura, dividindo-se entre vários projetos, inclusive o de design de mobiliário, que hoje ocupa grande parte do seu tempo. “Estou muito orgulhosa por estar entre pessoas reconhecidas no mundo inteiro, cujos livros estão na minha prateleira e são verdadeiras referências”, confessa. Talento não se explica, mas ela é, certamente, uma das mineiras mais publicadas no exterior, exemplo que um bom trabalho rompe fronteiras.
Apartamento de Juliana Vasconcellos, no Rio de Janeiro - Foto: André Nazareth
O fato é que, embora atuando em Beagá, Juliana mantém um diálogo constante com os movimentos que acontecem em São Paulo, com participação efetiva em relevantes mostras, feiras e exposições na cidade, como a Made, SP- Arte, semanas de design. Já concebeu projetos para a Mostra Black, no Pavilhão da Oca, no Ibirapuera, junto a um grupo seleto de 14 dos mais conceituados nomes do Brasil, participou dos eventos Modernos Eternos, Viver São Paulo, e criou vitrines para lojas conceituadas, como a francesa Ligne Roset.

“Às vezes, penso que sou mais conhecida em São Paulo do que em Belo Horizonte”, ela pontua, explicando que a evolução do seu trabalho aconteceu de forma natural, impulsionada pela energia e disponibilidade para estabelecer trocas e salientá-lo fora de Minas Gerais. “Conheci os editores das revistas e pude criar uma linha direta de comunicação com eles. Isso foi muito importante para a divulgação do meu nome e do que fazia”.
Juliana Vasconcellos - Foto:
Formada em arquitetura e urbanismo pela UFMG, no início de 2005, a arquiteta sempre teve um lado artístico: pensou em ser pintora, arriscou-se como cantora lírica, aprendeu piano clássico, mas acabou se rendendo à influência do pai, engenheiro, e da irmã, que foi por esse caminho, e de quem seria sócia por curto espaço de tempo.

Em seus primeiros anos de carreira, até 2011, dedicou-se a obras maiores, como centros comerciais, terminais rodoviários, loteamentos, edifícios multifamiliares. Mesmo porque, ainda havia um preconceito dentro das faculdades que considerava a arquitetura de interiores algo menor.
“Sempre gostei de fazer casas e do exterior fui para o interior.” Acertou em cheio.

Suas criações traduzem um toque personal e elegante permeado por formas ao mesmo tempo simples, sofisticadas e atemporais. Misturando cores, texturas, Juliana aposta em referências pré e pós-modernistas, transita fácil entre o clássico e o art déco, aprecia arte contemporânea. O apartamento da família, no Rio de Janeiro, imóvel da década de 1940, é um cartão de visitas dos seus gostos pessoais aliados aos do marido. O projeto foi publicado pela Casa Vogue Brasil em 2014 e, recentemente, ganhou as páginas da Elle Decor norte-americana.

Apartamento Zobaran, em São Paulo - Foto:
MOBILIÁRIO 

Quando entrou no terreno do interior designer, ela encontrou uma grande paixão: o desenho de móveis, que chegou para atender a uma linguagem condizente com os ambientes que projetava, com a estética imaginada; depois, porque dava vazão à sua sede de criatividade e expressão artística. “Eles vinham à minha mente, às vezes até sonhava com as formas que queria”, ela enfatiza.

Depois de alguns anos, decidiu criar peças independentes em parceria com o também arquiteto Matheus Barreto, que trabalhava em seu escritório na época. Assinaram alguns trabalhos a quatro mãos, como a poltrona Galho, lançada em 2017, durante a semana de design de Milão, na conceituada Galeria Nilufar. Reunindo bronze fundido na estrutura e linhas naturais, que lembram galhos de árvore, ela integra a decoração do apartamento do Rio de Janeiro.
Cadeira Girafa - Foto:
Outro destaque na área de mobiliário é a cadeira Girafa, que já faz parte do Museu das Cadeiras Brasileiras, fundado por Zanine de Zanine, em Belmonte, na Bahia.
No momento, o móvel participa da exposição Craft Front and Center do Museu de Artes e Design (MAD), de Nova York, aberta em 22 de maio, fazendo companhia a 70 outras obras. “Os irmãos Campana estão na mostra e outros artistas de destaque, como Cindy Sherman e Olga de Amaral. A Girafa também faz parte do acervo permanente do MAD”, ressalta a arquiteta.

O autodidatismo obrigou Juliana a se aperfeiçoar tanto nos aspectos construtivos do mobiliário quanto no desenvolvimento de materiais. Mas há traços que fazem parte do DNA das suas criações, entre eles a organicidade, as referências geométricas, a predileção por materiais como madeiras, bronze, aço, cerâmica, pedras, fibras naturais de algodão e juta.
Mesa em cerâmica Pele - Foto:
“O público que aprecia meu trabalho é específico, formado por escritórios de arquitetura e por colecionadores, especialmente de Nova York e Los Angeles”, explica. Se, no início, a história girava em torno do design colecionável, agora a arquiteta está consolidando sua marca de móveis com oferta para a indústria. Há cerca de um ano e meio, vem exportando poltronas, sofás e cadeiras, em edição limitada, com mais conforto e funcionalidade. “A maior parte dos lançamentos vai estar atrelado à minha marca, com comercialização feita, no Brasil e no exterior, diretamente por meu estúdio”, revela.

Nos últimos três anos, Juliana avançou bastante nessa expansão internacional por meio de participação em eventos significativos, como o Los Angeles Design Festival, Intersect Chicago, The Salon NY e Milan Design Week, além da Made. Ela acredita que existem boas possibilidades de os produtos alcançarem os mercados asiático, europeu, norte-americano e sul-americano.
Paralelamente, nesse tempo, viu suas propostas serem publicadas pela Elle Decor Itália, Elle Netherlands, Casa Vogue, Interiors Magazine USA. Em julho, elas estarão também na Elle Decoration Espanha e na AD Espanha.

Além do mobiliário, os tapetes são outra paixão da arquiteta. Eles também começaram a serem elaborados para atender à demanda dos projetos de interiores, mas ganharam vida própria. Viraram uma coleção lançada pela Botteh (SP), em 2017, e receberam o prêmio Casa Vogue de design na categoria têxtil. No mesmo ano, ela criou dois modelos de tapeçarias para parede, que foram lançados na Made. “No momento, estou desenvolvendo tapetes em lã produzidos na Índia para minha marca.” Entre os planos para um futuro próximo, estão em estudos projetos de luminárias para a A.de Arte.

Do setor da moda, com o qual sempre flertou, vem outra novidade: será assinado por ela o projeto do showroom/loja da Apartamento 03, uma das marcas de sua predileção e para quem protagonizou, inclusive, um ensaio dramático, na revista Olho Magazine.
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