Jornal Estado de Minas
Semana de moda

Balenciaga está de volta



Cristóbal Balenciaga marcou o século 20 e ficou conhecido como "o arquiteto da moda" por explorar diferentes formatos com suas roupas e apostar em silhuetas verdadeiramente esculturais, como os ombros largos e as peças oversized que até hoje fazem parte do DNA da marca que leva seu nome. Os anos 1950 foram a era de ouro do estilista, que emplacou diversos hits inovadores que traziam uma modelagem solta e faziam um contraponto com o New Look de Christian Dior, que resgatava o visual feminino com saia volumosa e a cintura bem marcada. Tendo nascido na Espanha e se mudado para Paris, na França, durante a Guerra Civil espanhola, o estilista se inspirava na cultura ibérica e encantava a indústria com suas criações nada convencionais.
 
- Foto: Balenciaga/divulgação 
 
Em contraponto ao look ultrafeminino e acinturado de Christian Dior, Cristóbal optava por construções mais estruturadas, ombros e silhuetas mais largos e formatos realmente esculturais, que o levaram a ser chamado de “o arquiteto da moda”. Nos anos 50, a Balenciaga vive sua era de ouro, sendo reverenciada, aclamada e lançando alguns de seus modelos mais icônicos, lembrados até os dias de hoje. Em 1955, ele criou o vestido-túnica, que posteriormente ficou conhecido como o vestido Chefies; em 1957, novas criações se tornam grandes sucessos para o designer, como o vestido saco, o vestido camisa e o vestido baby-doll.
 
- Foto: Balenciaga/divulgação 
 
Como grande inovador que era, Balenciaga não limitou suas inovações às roupas, mas também à forma de apresentar suas coleções. Em 1956, Cristóbal começou a apresentar as suas coleções depois das temporadas de moda, ganhando espaços exclusivos nas principais revistas de moda da época, sem dividir a atenção com seus concorrentes, e ainda proibia fotos dos desfiles. Apenas a revista Vogue tinha permissão para publicar fotos pré-aprovadas por ele.
 
- Foto: Balenciaga/divulgação 
 
Nos anos 60, com as diversas mudanças estruturais na moda e no comportamento da mulher moderna, Cristóbal Balenciaga, bem como diversas outras casas de alta-costura, sentem o impacto da diminuição de suas vendas. Acompanhar o recém surgido modelo de prêt-à-porter não era tarefa fácil para os criadores.
Com isso, a Balenciaga foi perdendo fôlego até que, em 1968, fecha seu ateliê e decide se aposentar, vindo a falecer alguns anos depois, em 1972, com 77 anos. A marca ficou fechada até 1986, quando foi comprada pelo The Bogart Group. Hoje, o grupo Kering, proprietário das marcas Gucci e Saint Laurent, é o dono da grife. Desde a sua retomada na moda, nomes como Nicholas Ghèsquiere e Alexander Wang passaram pela direção criativa da empresa até chegar aos dias de hoje, com o designer Demna Gvasalia, criador da marca bombada do streetwear Vetements, à frente do negócio.
 
- Foto: Balenciaga/divulgação 
 
Desde que assumiu a direção criativa da Balenciaga, em 2015, Demna uniu a sua visão disruptiva ao legado inovador de Cristóbal e levou a marca a um outro patamar, transformando-a em um fenômeno entre os jovens e criando várias peças e acessórios que viralizaram no streetwear. Sob seu comando, a marca passou a trazer questionamentos importantes sobre a época em que vivemos, como a destruição ambiental e até a nossa relação com a tecnologia, como aconteceu no desfile de primavera/verão 2022, em que o designer apresentou uma série de clones digitais desfilando as peças da coleção.
 
- Foto: Balenciaga/divulgação 
 
O burburinho tomou conta da moda internacional, quando Demna anunciou que estaria lançando uma nova coleção da grife, o que aconteceu no início  deste mês de julho. Segundo palavras do próprio estilista, durante o anúncio que revelou a retomada da linha, "a haute couture é a base da criação dessa casa, então é a minha obrigação criativa e visionária trazê-la de volta. Para mim, couture é um modo inexplorado de liberdade criativa e uma plataforma de inovação.
Ela não só oferece um outro espectro de possibilidades na criação de roupas, como traz a visão moderna de Balenciaga de volta às suas origens."
 
- Foto: Balenciaga/divulgação 
 
 
O retorno
 
Demna escolheu como locação para apresentação da coleção, o recém-restaurado salão original de couture de Cristóbal, onde o arquiteto da moda mostrava suas coleções há meio século. A apresentação, que parece simples e até causa incômodo pelo silêncio e barulho ambiente, também é proposital: os desfiles de moda não tinham som ou música até meados dos anos 70. Nesse sentido, a era de ouro da Balenciaga foi apresentada sem som ou música ambiente e era possível ouvir o som que os diferentes tecidos faziam quando em movimento.
 
- Foto: Balenciaga/divulgação 
 
Eliza Douglas, musa do designer, abriu o desfile carregando uma rosa vermelha e vestindo um conjunto de terno de ombros estruturados, seguida por uma sequência de looks em alfaiataria unissex em preto e já dando sinais de qual seria a nova proposta de estilo de Demna para sua diversa clientela. Alguns looks fizeram claras referências a criações icônicas de Cristóbal Balenciaga, como o casaco vermelho, o vestido de flor e a reverenciada noiva com vestido túnica de Cristóbal. O designer, extremamente ligado ao mundo do streetwear e do jeans, também traz esses elementos para a passarela criando looks de couture inspirados no ready-to-wear, de forma surpreendente e irônica: foi justamente o surgimento do prêt-à-porter um dos principais motivos para o fechamento do ateliê de Cristóbal Balenciaga.
 
- Foto: Balenciaga/divulgação 
 
Outro ponto alto ficou por conta da imagem e styling de alguns modelos arrematados com um grande chapéu oval desenhado pelo chapeleiro inglês Philip Treacy, que por muitos anos desenhou chapéus para diversos estilistas. Após 53 anos, a grife Balenciaga retornou à haute couture em grande estilo pelas mãos do atual diretor criativo, Demna Gvasalia. A maison não apresentava coleções de alta-costura desde o fechamento do ateliê de seu criador, Cristóbal Balenciaga, em 1968. Dos números nas mãos das modelos durante o desfile, ao local e o silêncio, a apresentação foi toda uma ode à alta-costura e uma homenagem ao trabalho de Cristóbal Balenciaga – e não poderia ser diferente.
As técnicas e o trabalho artesanal de altíssimo nível dos ateliês de alta-costura são uma das poucas coisas que não poderão ser substituídas pela tecnologia. 
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