A grife mineira Libertees foi criada em 2017 por Daniela Queiroga e Marcella Mafra, com um forte propósito e um belíssimo trabalho de reinserção social. Além disso, a dupla faz uma moda sustentável, confortável e de qualidade. Merecidamente, foi uma das oito marcas convidadas da edição internacional do Brasil Eco Fashion Week, em parceria com o Fashion Vibes, para desfilar a coleção em Milão. O show foi um grande sucesso.
O tema foi o café e suas flores, e, sem dúvida nenhuma, foi a coroação de uma história recente, mas já repleta de significados e mudanças na vida de dezenas de mulheres, além de um recomeço para a grife, que por pouco teve que fechar durante a pandemia.
A preocupação das sócias-fundadoras e criativas da label sempre foi fazer uma moda sustentável, que transbordasse personalidade, com peças confortáveis, tecidos ecológicos e estampas exclusivas que viraram marca registrada.
A Libertees apresentou a coleção “O café e suas flores”, inspirada na flor do café, que, com sua delicadeza e potência, inunda os campos de colheita, evocando a sutileza do feminino, a resiliência perante a vida e, sobretudo, a libertação por meio do trabalho, que está em seu DNA. A grife nasceu com o propósito de alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) 5 (Equidade de gênero) e 8 (Trabalho decente e crescimento econômico) da ONU. Para isso, a marca decidiu trabalhar com a mão de obra de detentas, criando oportunidades de mudança na vida delas. Em parceria com o sistema prisional de Minas Gerais, a grife já ofertou mais de 134 mil horas de profissionalização, com remunerações às detentas que chegam a quase R$ 1 milhão, e mais de 5,5 mil dias de remissão de pena garantidos por lei.
As diretoras já marcaram para outubro um desfile aqui no Brasil. Para a confecção das peças, a Libertees conta agora com uma parceria com a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) Feminina de Belo Horizonte. Para isso, a marca já está realizando um treinamento com cerca de 20 recuperandas, em um espaço que foi totalmente reformado para receber a produção. “A Libertees está aí para mostrar que somos úteis sim, capazes de um recomeço. Basta termos oportunidade e aproveitar esta chance”, resume M. S., ex-detenta, aluna, artista e costureira da marca.
A COLEÇÃO Em parceria com as diretoras criativas da marca, a estilista Ana Sudano desenvolveu peças versáteis e confortáveis, que acompanham mulheres diversas em seu dia a dia. Para o fashion show, a marca desenvolveu uma linha exclusiva de calçados em collab com a sapateira Virginia Barros, que utilizou sobras de tecidos da coleção, além de materiais naturais e biodegradáveis, como a palha de milho e de buriti nos solados. A proposta foi apresentar um calçado totalmente natural, produzido artesanalmente e que pode ser integrado à natureza quando descartado. Os acessórios do desfile foram assinados por Gissa Bicalho Brand. Com styling de Juliano Sá, foram apresentados 15 looks na passarela, além de um mix de aproximadamente 30 itens no salão de negócios durante os dois dias do evento.
A alfaiataria na malha vem com códigos masculinos dentro de um contexto de extrema feminilidade. Traduzidos por meio das técnicas dos bordados em linha da designer Dunya Azevedo, do bordado em paetês, à estampa autorretrato com os desenhos realizados na penitenciária feminina da capital mineira. A novidade da coleção foi o uso dos tecidos planos, na camisaria em linho e nos vestidos em seda orgânica estampados com obras da artista e fotógrafa Lu Matosinhos.
A assimetria dos shapes presente na marca permanece e transita com outras formas para a construção de uma imagem atualizada, com a presença de sobreposições, bolsos utilitários e capuz.
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