Marta De Divitiis
Com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a associação Artecer, em Paripueira (AL), há oito anos vem trabalhando ensinando a arte da renda singeleza a moradoras da região. Toda tarde, elas se reúnem no edifício da entidade, onde há uma pequena loja, e trabalham desenvolvendo peças de cama e mesa e, agora, saídas de praia, entre outros itens.
Provavelmente originada de Portugal (a renda foi ensinada a Jeane Valentim dos Santos, que dirige a associação, por sua avó, Luzinete, que, por sua vez, aprendeu com uma babá portuguesa que chegou ao Brasil depois da primeira Guerra Mundial), a renda é feita com uma agulha, um palito e linha. Muito delicada, a renda empresta leveza a jogos americanos e porta-guardanapos. Pode ser matéria- prima de saídas de praia, golas e palas de vestidos e blusas.
As rendeiras, donas de casa que se reúnem diariamente para fazer renda e ensinar àquelas que não sabem e querem aprender, contam que durante a pandemia as reuniões diárias serviram como uma espécie de terapia, uma vez que conversavam entre si e se apoiavam mutuamente.
projeto com as rendeiras Com o objetivo de agregar valores de moda aos itens produzidos, gerando melhor renda e beneficiando a comunidade, o Sindicato do Vestuário de Alagoas (Sindivest), em parceria com o Sebrae e o apoio da Federação das Indústrias de Alagoas e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), está oferecendo aulas gratuitas de costura e modelagem para essas rendeiras da associação Artecer.
Segundo o presidente do Sindivest, Francisco Acioli, as mulheres da região trabalham como marisqueiras, mas de março a novembro, na baixa dos mariscos, não contam com nenhum subsídio. “Desenvolvemos o projeto ensinando não apenas a fazer renda, mas também costura. A ideia é o Sindivest comprar a produção para servir de estoque na loja. É um trabalho conjunto entre nós, a Federação das Indústrias de Alagoas, o Senai e o Sebrae”, explica o executivo.
A partir do curso, a proposta é uma revitalização no espaço da loja. Estão oferecendo treinamento, com 15 máquinas em comodato, para que possam trabalhar. Por enquanto há aproximadamente 10 mulheres que estão fazendo os cursos, mas a ideia é ter 60 mulheres trabalhando, incluindo as marisqueiras. “Pretendemos também catalogar, fazer um livro (passo a passo) e ensinar como se fazer esse tipo de renda, para manter a tradição,” justifica Acioli.
A renda transformando vidas
Cícera Rodrigues, há cinco anos moradora da região, hoje instrutora de renda Singeleza, conta que graças à renda driblou uma depressão. “Longe de minha família, só com meu marido e filhos, fui me entristecendo. Busquei um curso e foi aí que aprendi a fazer a Singeleza,” conta. Segundo Cícera, quando ficou acamada se recuperando de uma cirurgia, aproveitou e fez um estoque de peças de renda. Foi quando passou a vender e ganhar seu próprio dinheiro, percebendo que podia ser independente financeiramente. “Gostaria que todas as mulheres aqui de Paripueira acreditassem na renda, mas muitas ainda não acreditam.” Venho à noite trabalhar aqui e isso tem me auxiliado muito, inclusive na criação dos meus filhos. Já não tenho vontade de me mudar e quero me estruturar e que o Artecer cresça. Sempre tive o sonho de trabalhar com moda; podemos aplicar renda em linho, popeline e outros tecidos”, explica. Mostra a saída de praia que fez para uma turista, que replicou devido ao sucesso da peça, desenvolvida toda por ela.
Já a adolescente Rayane Laís Rosa conta, emocionada, que a renda transformou sua vida. “Durante a pandemia, devido à dificuldade em acompanhar as aulas de modo on-line, tive crises de ansiedade. Minha prima e minha tia me trouxeram para aprender a fazer renda e, a partir de então, me tranquilizei e já voltei a estudar,” conta. De acordo com Rayane, que está no segundo ano do ensino médio, a tranquilidade emocional proporcionou mais compreensão nas aulas. A mãe de Rayane, Rosineide Rosa, explica que há quatro meses voltou a fazer renda (ela faz Singeleza há sete anos), depois de ter pausado a produção durante a pandemia. Segundo ela, as reuniões melhoram o humor, uma vez que as rendeiras conversam entre si, riem e se apoiam mutuamente. Rosineide ressalta a necessidade de valorizar o trabalho manual. “A singeleza é uma arte feita a mão e, como arte deve ser valorizada,” conclui.
Obs: Paripueira é um município da Região Metropolitana de Maceió, em Alagoas. Turístico, o município tem praias com piscinas naturais (são 25 piscinas, a menos de um quilômetro da costa da praia), com duas praias: a Praia de Paripueira e a Praia do Sonho Verde. Ficam na área de capacitação das
rendeiras e promove a preservação da arte e o desenvolvimento de vidas
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