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Estado de Minas Moda

Identidade e propósito

Em apresentação comemorativa de formatura, novos profissionais de moda da Fumec mostram que não querem só fazer roupa, estão disposto a oferecer algo a mais


02/01/2022 04:00

Norberto Resende
Norberto Resende (foto: Alon Production/Divulgação)


Moda não é mais só vender roupa. As marcas hoje precisam ter identidade, propósito e oferecer uma experiência diferente para o seu público. Em sua 31ª edição, o Fumec Forma Moda mostra que os novos profissionais estão antenados com os desejos do mercado. As apresentações, que pela segunda vez teve ser virtual, reuniu trabalhos com características marcantes e conceitos bem definidos.
 
Ana Cardoso
Ana Cardoso (foto: Plínia Brandão/Divulgação)
 
 
Para o coordenador do curso de moda da Fumec, Antônio Batista dos Santos, que também é o responsável pela concepção do evento, o isolamento imposto pela pandemia ajudou na construção de coleções que não são mais do mesmo. “Por terem ficado muito tempo isolados, os alunos conseguiram colocar muito deles nos trabalhos. Vemos traços fortes e uma identidade muito própria”, analisa.
 
Luiza Viana
Luiza Viana (foto: Luiza Viana/Divulgação)
 
 
No total, foram 13 apresentações, entre desfiles, fashion films e editoriais. Como exemplo de trabalhos com identidade, o coordenador cita a aluna que vem de família nordestina e fez uma coleção valorizando as festas populares do Nordeste; roupas no estilo country contemporâneo desenhadas por uma formanda envolvida com equitação e peças com materiais, cores e volumes dos anos 1980 que representam a personalidade da criadora, bem festiva.
 
Izabella Soalheiro
Izabella Soalheiro (foto: Ana Luísa Arrunátegui/Divulgação)
 
 
Com a coleção de acessórios Herança, Ana Cardoso faz uma homenagem à sua mãe, que morreu quando ela estava no meio da faculdade. “Vivi um período bem difícil, mas foi quando tive mais força para seguir o que queria. Ela sempre me apoiou e amava as peças que eu criava”, conta a designer, que vende pulseiras desde a época de colégio.
 
Desfile Fumec
Nayara Fernandes (foto: Ana Luísa Arrunátegui/Divulgação)
 
 
A cerâmica plástica foi escolhida para dar forma às peças. Ana descobriu o material na faculdade, mas ainda não tinha usado na sua marca, Ana Cardoso Acessórios, que já tem quatro anos. A vantagem dele é ser bastante maleável, o que amplia sua liberdade criativa. “Quero ter uma linha só com esse material na minha marca para me diferenciar e reforçar a minha identidade. Vão ser peças exclusivas.”
 
Ana aproveitou a oportunidade para desenvolver o máximo de experimentações com o novo material. Fez bordados, uniu várias cores para formar uma estampa e misturou folha de ouro para criar detalhes metalizados. Além disso, em um trabalho totalmente manual, moldou a cerâmica plástica para virar uma flor e outras formas orgânicas.
 
Estilista
Bruna Barreto (foto: Ana Luísa Arrunátegui/Divulgação)
 
 
Segundo a designer, a peça que mais representa a sua mãe é o brinco com ponto cruz. “A minha mãe sempre gostou de bordar, fuxico e outros trabalhos artesanais. Herdei dela essas habilidades manuais.” Ana fez furinhos na base de cerâmica plástica para passar os fios. Para complementar, franjas de linha em carmim, a única cor de batom que a mãe usava.
 
O depoimento de uma pessoa com deficiência falando que o mercado de moda não a enxerga como consumidora mexeu com Bruna Barreto, que decidiu fazer uma coleção de moda inclusiva. Para desenvolver as peças, ela conversou com cerca de 30 homens e mulheres que vivem essa realidade. A maior dificuldade é sempre ter que fazer adaptações nas roupas. “Cada um tem necessidades específicas e é difícil para o mercado da moda atendê-las. Isso exige estudos.”
 
A coleção se voltou para cadeirantes e pessoas que usam próteses e órteses. Bruna trabalhou modelagens amplas e ajustes fáceis de manusear. O vestido tem fechamento de velcro na parte da frente e se transforma em um quimono, se for usado aberto. A estampa, desenvolvida em parceria com a grafiteira Flô, exibe palavras como superação, visibilidade e orgulho, levando mais cor e personalidade à peça.
 
No outro look, a saia tem zíper com puxador maior e o blazer pode ser aberto até acima dos cotovelos. “Muitos cadeirantes falam que não conseguem usar manga comprida porque a roupa suja na hora de pegar na roda. A abertura também facilita para quem usa órtese e prótese.”

ERGONOMIA A calça segue a mesma lógica e tem zíperes nas laterais que vão até acima dos joelhos. Para abrir ou fechar, basta puxar a argola de tecido na ponta. Bruna também estuda design de produto e diz que o conhecimento do outro curso a ajudou bastante. “Tenho que pensar em ergonomia, o que não se fala muito na moda.” Futuramente, ela pensa em lançar uma marca de moda inclusiva.
 
Norberto Resende está no mercado há quatro anos com a marca Norb e, de volta à faculdade, dá sequência ao trabalho que já o levou ao Minas Trend. Nesta coleção, ele reforça seu conceito da moda agênero. Em vez de usar formas indefinidas e tons neutros, explora cores, estampas e modelagens que mudam de acordo com a necessidade de expressão de quem usa. “A minha visão de roupa sem gênero é aquela que te possibilita ter o seu gênero, independentemente se é calça, vestido ou saia.”
 
Algumas peças podem ser usadas do lado direito ou avesso e outras permitem inverter frente e costas. “Como designer, entendo que cada pessoa é única e, por mais que esteja usando a mesma peça do outro, vai fazer uma leitura diferente”, opina.
 
Os tamanhos são sempre ajustáveis, já que Norberto também defende a diversidade de corpos. Para fazer o vestido branco de tela, ele usou o tecido na largura inteira. “Tenho a possiblidade de vestir alguém com 1,5m de circunferência. Ao mesmo tempo, os reguladores podem ser ajustados para o manequim 36, de forma que não fique sem design”, explica.
 
As estampas se conectam com o tema da coleção, que discute a quebra de padrões. Para representar a desconstrução proposta pela Norb, vários metais, materiais altamente rígidos, aparecem sem formas definidas. Na outra estampa, um rosto, que pode ser de homem ou mulher, representa a ideia da moda agênero e de ser múltiplo. Bolsas, joias e calçados também são assinados por Norberto.


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