Ou encontrava uma solução ou decretava falência. Da noite para o dia, Claudia Chilaze descobriu que o importador onde comprava a maior parte das peças para revender ia abrir uma loja do seu lado. Certa de que o caminho era se diferenciar, ela partiu para a fabricação própria, desenvolvendo um trabalho autoral com resina. Hoje, a Atelier Chilaze, do Rio de Janeiro, é uma das grandes marcas de acessórios do Brasil.
Até então, Claudia seguia os passos do avô (sírio) e do pai, que a vida toda revenderam bijuterias no mercado do Saara. Quando precisou se reinventar, foi atrás de um fabricante de resina que estava prestes a encerrar as atividades. A fábrica não só sobreviveu, como passou a produzir, com exclusividade, todos os produtos da Atelier Chilaze.
“Se isso não tivesse acontecido, não teria saído da zona de conforto e não estaria desenvolvendo as minhas peças”, comenta Claudia, fundadora e diretora de estilo da marca. No ano anterior à pandemia, ela vendeu sete toneladas de resina.
Nem a fábrica consegue acompanhar o ritmo de Claudia. Ela tem mil ideias e quer levar todas adiante. Sempre fora do comum. “Feijão com arroz todo mundo tem, quero a farofinha e o bacon”, brinca.
A diretora de estilo aprendeu a se interessar pelo diferente, pelo que ninguém está fazendo, e tira proveito disso. Atrai os clientes com um mix de produtos que não se encontra em qualquer esquina. Sua inspiração é o pai, hoje com 92 anos, que sempre esteve à frente do tempo com os seus desenhos. Ele continua ativo e trabalhando.
Claudia tem um carinho especial pelo colar Babilônia, seu primeiro lançamento autoral. Ninguém na empresa acreditava que aquilo faria sucesso, mas ela insistiu e o modelo virou hit. Também foi o mais copiado na época. A peça, que mistura resina, corda de algodão e metal, virou um clássico da marca e é sempre reeditada com cores diferentes.
O ateliê desenvolve anéis, brincos e pulseiras, mas são os colares que chamam mais a atenção. São peças que não passam despercebidas, seja pelo tamanho, cores e/ou formatos inusitados. “Admiro quem tem personalidade e faço moda para essas pessoas”, pontua Claudia. Ela conta que muitas clientes escolhem primeiro o colar e depois pensam na roupa.
Com a resina, Claudia tem a possibilidade de colocar em prática tudo o que imagina e desenha. “Posso brincar com o que quiser, usar a imaginação, acho que isso é o que me faz ser diferente.” O material pode ser moldado de infinitas formas. Um dos colares exibe uma peça de resina em formato de sabonete. Tem também um pingente sextavado, parecendo pedra, e um com textura de ondas. Várias bolinhas juntas dão a ideia de miçangas.
Outra vantagem, segundo Claudia, é não precisar de metal. Para fazer o colar de elos, seu carro-chefe, ela recorre apenas à resina. “Você pode ir à praia, entrar na piscina e não tem que se preocupar com o suor.” Ao mesmo tempo, ela diz que a resina é curinga, porque combina com os outros materiais que usa, como cordas de algodão e de garrafa pet, couro e madeira.
CORES
A resina permite trabalhar com variadas cores, que estão muito presentes no trabalho da Atelier Chilaze. “Gosto de colorir a vida das mulheres. Acho que cor dá uma alegria e muda o astral”, comenta. Mesmo que o colar esteja por cima de uma roupa preta básica. O acabamento das peças pode ser fosco ou brilhante. Claudia também utiliza resina colorida com uma leve transparência.
O uso de cores e formatos diferentes faz com que o colar de bolas da Atelier Chilaze não seja um simples colar de bolas. Os círculos são cortados ao meio e intercalados com pequenos discos. O resultado é uma peça moderna, nada óbvia e supercolorida, que virou outro sucesso da marca. Esse colar reaparece em todas as coleções, sempre com novas combinações.
Para evitar o descarte de resina, Claudia descobriu uma maneira de reaproveitar as sobras. Na fábrica, eles trituram todas as cores juntas e depois colocam os caquinhos dentro de uma resina incolor. A peça fica colorida, mas com um visual que surpreende. “Conseguimos dar um sentido para o nosso descarte e ele não vai mais para o lixo.”
Há dois anos, a marca, que tem sede no Centro do Rio de Janeiro, abriu uma loja-conceito em Ipanema. O novo formato já é um teste para a expansão através de franquias. A pandemia deu uma freada no projeto, mas Claudia conta que tem cliente mineira interessada no negócio. Atualmente, as peças da Atelier Chilaze podem ser encontradas em 150 pontos de venda em Minas Gerais.