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Estado de Minas entrevista/Ana Gutierrez Faria - 47 anos, empresária

Sonho realizado


13/03/2022 04:00

Ana Gutierrez Faria
Ana Gutierrez Faria (foto: Arquivo pessoal)
 
A empresária Ana Gutierrez tinha tudo para curtir a vida na tranquilidade, mas ao contrário do que todos esperavam, abriu mão da estabilidade na empresa da família e foi atrás do seu sonho de abrir um negócio seu, e conseguir sucesso com muito trabalho e dedicação. Quebrou paradigmas no que diz respeito a academias de ginástica, mudando o conceito de malhar para ter um corpo sarado para exercitar o físico em busca de saúde e qualidade de vida. A abertura da academia virou case de sucesso. Hoje, além de possuir quatro unidades no estado, se tornou sócia e acionista da holding BodyTech no Brasil. Não abre mão de tempo de qualidade com a família e tem como hobby o prazer em viajar, seja apenas com o marido, Dhiego, e a filha Maria, ou com o grande grupo de amigos que tem.
 
Em que você se formou e como foi o início da sua vida profissional?
Formei-me em administração, na PUC Minas. Comecei como estagiária e depois fui contratada na Andrade Gutierrez. Passei por todas as áreas da empresa, fui para obra, participei da construção da ponte Rio-Niterói, atuei na área de concessões e depois fui para Novos Negócios.

O que a levou a sair da empresa da família e partir para carreira solo?
Em uma empresa familiar, temos que provar o tempo todo que temos competência. Se trabalhamos bem, não fazemos mais que nossa obrigação; se somos reconhecidos, ninguém dá valor porque acham que é por ser da família. Queria alçar um voo solo, fazer a minha vida profissional, independente.

Você não precisava trabalhar, é herdeira pelos dois lados. Quando decidiu abrir a empresa tinha apenas 24 anos. Por que começar um negócio tão nova?
Essa fala é o que mais escutei em toda a minha vida. Como disse, queria trilhar o meu caminho, independentemente de tudo. Era um sonho, e queria realizá-lo. Não conseguiria levar a vida sem produzir alguma coisa. O exemplo dos meus pais sempre foi o de muito trabalho.

Por que escolheu abrir uma academia?
Sempre fui uma apaixonada por atividade física. Fiz balé quase a vida toda. A Vitória Faria, segunda mulher do meu pai, tinha uma escola de balé e tínhamos um grupo de dança que era quase profissional. Eu amava. Participei também de um grupo de apresentação de aeróbica. Certo dia, um grande amigo, dono de uma academia menor, me chamou para ser sócia dele, mas não era aquele formato que eu queria. Disse que se ele topasse, poderíamos abrir um grande academia. Ele aceitou e fizemos sociedade. Infelizmente, por razões pessoais, logo no início do projeto ele saiu.

E você decidiu tocar o projeto sozinha?
Realmente, eu era muito nova, 24 anos, mas já tinha fechado contrato de aluguel com o imóvel da Savassi, onde era a Irmãos Nasser. O prédio é muito grande, o contrato muito caro. Ou eu continuava, ou abandonava, mas já tinha muita coisa em andamento. Decidi dar continuidade. Fui para São Paulo fazer contato com bancos e com a Fórmula, uma academia muito grande que tinha lá. Foi uma luta, mas consegui o financiamento. Minha mãe deu todo o suporte de que eu precisava, não o financeiro, mas de apoio e ajuda em outras áreas.

Ela nunca achou que você estava louca de encarar sozinha tudo isso?
Claro, me chamou de doida e louca muitas vezes. Por sinal, era o que eu mais escutava de todo mundo. Meus amigos diziam que eu estava arrumando sarna pra coçar. Mas eu estava tão apaixonada com o projeto, tão envolvida que queria fazer acontecer. Foi muita luta, uma guerra, mas consegui. O projeto ficou lindo, fiz um Bussines Plan tão completo que tinha até o preço das plantas ornamentais. Era recém-formada e conseguiu fazer uma planilha tão completa e bem-estruturada que o pessoal do banco ficou impressionado.
 
Quanto tempo de estudo, planejamento, obra e implantação?
Foram três anos. Quando inauguramos eu estava com 27 anos.

Quando inaugurou você suspirou aliviada por ter conseguido?
Não, esse suspiro só aconteceu depois de uns quatro meses. Era franqueada da Fórmula, a academia era muito grande, estava linda, mas enquanto não vi tudo funcionando certinho, não consegui relaxar. O suspiro virou choro.

Por quê?
Tivemos uma procura imensa, na primeira semana já estava com 1,5 mil alunos, chegamos a 1,8 mil em 10 dias. Tivemos que fechar as matrículas porque estava uma loucura. Acabava xampu, condicionador, a luz caía. O estacionamento não cabia o volume de carros. Tive um grande problema com a BHTrans por causa do engarrafamento que dava na porta. Disseram que eu tinha que ter avisado com antecedência para fazerem mudança do trânsito na região. Mas como eu poderia imaginar que fosse ter esse boom de pessoas? Era uma responsabilidade imensa. Recebia muitos elogios e muitas críticas. Passei noites ajoelhada com a minha santinha.

Quando reabriu as matrículas?
Foi uma loucura. Tinha uma caderneta de lista de espera, lotada de nomes. A abertura da academia virou case nacional, nunca havia tido algo parecido em nenhuma outra unidade no país.

O que você acha que levou a ter toda essa demanda?
Acredito que foi um conjunto de fatores. Além de eu ter um círculo de relacionamentos muito grande, quebrei tabus na área fitness, porque não queria vender corpo, abri um centro de saúde e qualidade de vida. O conceito não era o fitness, mas o wellness. E abri uma academia linda, impecável, mas não vendia uma estrutura, mas uma equipe, que tinha sido escolhida a dedo, com alta qualidade de entrega.

Você não teve concorrência
Tinha a Rio Sport Center, no Ponteio Lar Shopping, mas ela não era concorrência. Talvez as pequenas academias. A locadora Blockbuster foi engolida pelas pequenas locadoras de bairro, as academias pequenas poderiam fazer o mesmo comigo. Mas a grande concorrência eram as boates, os restaurantes, fui atrás de um público que consumia tudo isso diariamente, gastava o dinheiro nesse lazer. Muita gente me disse que eu tinha esvaziado as academias. Sempre respondi dizendo que não esvazei nenhuma academia, eu enchi a minha.

Quantas reformas você fez desde que abriu?
Duas grandes reformas. Uma quando ainda era Fórmula e outra quando mudamos para Bodytech.

Quando e por que a mudança?
Foi em 2008, porque a Bodytech comprou a Fórmula.

Hoje você é sócia do grupo. Como foi isso?
Em 2011, fui chamada para ser sócia local e acionista da holding no Brasil, e aceitei. Na época da mudança do nome eu estava construindo a Fórmula no Belvedere. Foram três anos de obras. Inauguramos em julho de 2013 e em dezembro do mesmo ano inaugurei a unidade de Nova Lima, no Serena Mall. As três unidades estavam bombando quando, em março de 2019, abrimos a do Ponteio.

Como enfrentaram a pandemia?
Foi um período dificílimo, ficamos quase um ano fechados, porque quando autorizavam abrir, rapidamente fechavam de novo. As academias estavam no último nível de exigência máxima para abrir, junto com os bares e restaurantes. Chorei muitas vezes no período em que estávamos de portas fechadas, mas conseguimos, com muito respeito e responsabilidade, segurar as pontas. Devolvemos em dia todos os planos que tínhamos vendido, sem prejuízo para os alunos, não rescindimos nenhum contrato com nossos profissionais e conseguimos um apoio dos alunos, porque estávamos revertendo em crédito de dias para quando reabrisse. Conseguimos segurar a onda com muito respeito e ganhamos credibilidade. Aceitamos correr o risco financeiro, fizemos acordos com nossos lojistas e parceiros.

Como foi o retorno dos alunos, depois que puderam abrir?
Como eram muitas exigências e cumprimos todas elas, nos destacamos e os alunos se sentiram seguros em voltar. O percentual de ausências foi muito pequeno.

O que representou para você o fechamento da Cia Athlética em BH?
Foi uma notícia muito triste para o mercado. Tinha na Cia Athlética um player, era um grande parceiro. Eram corretos, profissionais. Além de perder esse parceiro, perdi um grande amigo no setor, porque sou muito amiga do Eduardo Guarani. Belo Horizonte perdeu uma grande empresa. Era uma concorrência saudável, sadia.

Muitos alunos de lá migraram para a BT?
Vieram muitos alunos pela qualidade da nossa academia, e absorvemos também muitos profissionais de lá, de alto nível e competência. Trabalhamos para que tanto os alunos quanto os profissionais se sentissem acolhidos.

Como você concilia trabalho em quatro unidades e família?
Quando transformamos em BT, tive um grande alívio na operação, minha gestão passou a ser mais estratégica e com isso consigo me dedicar mais à família. Até antes de a Maria nascer, 90% do meu tempo era para o trabalho. Hoje, está 50%-50%. Com a maturidade adquirimos mais equilíbrio, e com o novo sistema operacional, isso ficou possível. Hoje delego mais coisas para a minha equipe, que é muito boa. Além das quatro unidades, somos responsáveis pela operação da academia do The Falls. Só lá são mil alunos.

Quantos alunos vocês têm hoje?
São 7 mil em Minas Gerais, incluindo a turma do The Falls. Falo no estado porque uma das unidades é em Nova Lima. No Brasil, são 120 mil alunos, espalhados nas 106 unidades.

Personal trainner é fundamental para conseguir um bom resultado?
Personal é um luxo e traz benefícios, mas uma boa academia, com uma ficha bem-feita e uma equipe que faz um acompanhamento também alcança um resultado muito bom. 


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