Que a vida social da cidade não tem mais o brilho dos anos 60 ninguém ignora. Aquelas festas de requinte e opulência já não são mais programadas, os tempos são outros e a informalidade é que comanda. Agora, quem se movimenta são os jovens e os sobrenomes já não marcam nenhum diferencial, já não delimitam espaços. Os tempos passados, quando a cidade era uma réplica das grandes cidades internacionais, terminaram de vez. Sua última figura carismática se foi de vez: morreu Zilda Gonçalves Couto, cujo aniversário de 103 anos seria comemorado em 29 deste mês. Quem participou deste tempo brilhante da sociedade sabe o que ela significou na história mineira, como exemplo de representante máxima, ícone de um tempo que não volta mais.
Ela e o marido, Alair Couto, marcaram uma época em que o mundo gostava de belas reuniões, cercadas de muito cuidado e requintes. Numa entrevista que deu a este caderno, Zilda conta um pouco de sua história: “Um dos meus orgulhos foi ter recebido Assis Chateaubriand em minha casa. Ele foi nosso hóspede durante uma semana, era uma pessoa encantadora, cativante, sem nenhuma complicação. Sua presença não deu o menor trabalho, ele se sentiu em casa. E nós o recebemos como uma pessoa da família. Era o mínimo que podíamos fazer; afinal de contas, devemos muito de nossa vida ao Estado de Minas".
O comentário de Zilda simplificava o fato de ela, com seu marido, Alair Couto, ter sido, durante muitos anos, a grande anfitriã belo-horizontina. Pelos salões do casal, com seus móveis de época, quadros de artistas famosos e pratarias, passaram todas as personalidades que vinham a Minas. E que eram recebidas com grandes festas. O magnata do estanho Antenor Patiño e sua mulher, Beatriz, foram recepcionados numa noite em que se contavam presenças como a do presidente JK e dona Sarah. Lá esteve também o príncipe Luís Gastão de Orléans e Bragança,então chefe da casa imperial do Brasil, e muitos outros famosos. As recepções, que depois apareciam no jornal, tim-tim por tim-tim, eram frequentadas pelo jet set internacional e figuras da sociedade do Rio, São Paulo e Belo Horizonte.
Muitas e muitas festas foram oferecidas pelo casal em torno das promoções dos Diários Associados e Zilda, mulher fina e alinhada, se transformou em referência da mulher mineira. "Até hoje, a presença do jornal repercute em nossa vida. Gente que nunca vimos, que não conhecemos, se lembra de nós, o que não é raro. Naqueles tempos de muitas festas, nossas fotos nos jornais ajudavam a projetar costureiras, maquiladores, cabe- leireiros. Os leitores que não tinham acesso a essas reuniões nos pediam informações, as reportagens e notícias do Estado de Minas foram e são responsáveis pelo sucesso profissional de muita gente. Acho que eu e Alair devemos muito ao jornal."
Além disso, as mais requintadas recepções oferecidas à sociedade carioca, que vinha a Minas para participar de outra promoção deste jornal, o Baile da Glamour Girl, eram oferecidas pelos Couto. Zilda fez parte do juúri durante todo o tempo em que a festa foi organizada pelo jornalista Eduardo Couri, com fins beneficentes. E o Estado de Minas não só a distinguiu, como foi parte de sua memória pessoal. Ela guardava uma coleção de jornais em que fotos dela e de suas festas foram publicadas. Depois que Alair se foi, ela se mudou para um apartamento vizinho à Praça da Liberdade, onde morou nos últimos anos com o mesmo luxo e requinte. Sua agenda social diminuiu, ela preferiu passar os últimos tempos cercada apenas pela família.
Manteve sempre uma postura de grande dama, simpática com amigos, referência para desconhecidos, espelho sempre de uma mineiridade que está acabando...