A crescente alta do custo de vida está levando o consumidor a mudar drasticamente seu comportamento de consumo. A combinação de pesquisas mostra que os brasileiros das classes D e E, principalmente, estão gastando com o básico, fragmentando suas compras e priorizando canais de compra que ofereçam promoções para tentar fechar o mês, o que nem sempre em sido possível. É o que aponta o estudo da consultoria Kantar, por exemplo, que mostra que os brasileiros têm trocado refeições por lanches para driblar o aumento dos preços dos alimentos, quando têm a necessidade de comer fora de casa. A pesquisa mostra que, nas grandes capitais, o consumidor não consegue mais desembolsar o valor médio de R$43,94 pela refeição completa e apela para lanches. A alta da refeição é de 21% na comparação com o 1º trimestre do ano passado, enquanto a média de gatos com lanches é de R$10,43 (alta de 11%).
ALIMENTAÇÃO BÁSICA
Essa pesquisa revela que, no primeiro trimestre deste ano, as famílias reduziram os gastos fora de casa e priorizaram o consumo dentro do lar. Esses gastos com consumo massivo em casa representam 52% do orçamento familiar. Para as classes D e E, esse gasto representa 60% do consumo. As classes mais altas costumam conduzir os gastos para contas do dia a dia, enquanto as mais baixas se preocupam mais com os alimentos. Ou seja, nas classes A e B, o consumo maior de despesas se concentra em gasolina e conta de luz, por exemplo, enquanto nas classes D e E a prioridade é a alimentação básica.
CONCENTRAÇÃO
Já o gasto médio trimestral em domicílio passou de R$1.329 no primeiro trimestre do ano passado, para R$ 1.369 no mesmo período deste ano (alta de 3%). O gasto médio trimestral caiu de R$ 288 nos três primeiros meses de 2021, para R$ 278 no primeiro trimestre de 2022 (queda de 3,4%). O fenômeno se explica exatamente pela alta no preço médio dos produtos nos três primeiros meses do ano, na comparação com o mesmo período de 2021, nas regiões analisadas pela pesquisa: Norte/Nordeste; Centro-Oeste; Leste/Interior do Rio; Grande Rio; Grande São Paulo; interior de São Paulo e região Sul.
Os aumentos mais impactantes na comparação entre os primeiros três meses de 2022 e de 2021 foram no interior do Rio de Janeiro (+ 16,4%), no interior de SP ( 15,6%) e no Centro-Oeste ( 15,3%). Já na Grande São Paulo a alta foi de 14,4%, nas regiões Norte e Nordeste de 14,2%, no Grande Rio de 12,9% e na região Sul de 12,9%.
GUERRA
Em outro estudo global, os impactos da alta de preços levam o consumidor a reduzir a quantidade de itens no carrinho de 15, no primeiro trimestre do ano passado, para 13 em igual período deste ano. Nas economias avançadas, estima-se que 50% da inflação tenha sido impulsionada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Na América Latina, onde a pressão de preços está crescendo, 20% está associado a esse fator. Isso também significa menos poder aquisitivo para as famílias dessa região: 100 dólares hoje compram 20% menos do que há dois anos.
FRAGMENTAÇÃO
É notório que a América Latina tem alto desemprego, informalidade e, diferentemente da Europa ou dos EUA, a grande maioria dos consumidores não acumulou reservas durante o período de isolamento que poderiam ajudá-los a enfrentar a escalada de preços agora. Assim, enquanto europeus e americanos se dizem mais cautelosos (60% dos entrevistados), os brasileiros buscam mais promoções, mudam de marca e fragmentam suas compras. Cada visita é mais importante, pois ocorre com menos frequência e custa menos. As compras maiores são de abastecimento – que oferecem amplo sortimento e melhores preços. Primeiro, o consumidor compra produtos da cesta básica e o que sobra gasta com farmácias, lojas de conveniência, especializadas e compra online. Com essa compra mais fragmentada entre os pontos de venda, é fundamental que a indústria e o varejo entendam esta dinâmica e se posicionem bem em cada um dos formatos de produto e tipo de compra realizada.
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