Jornal Estado de Minas
Comemoração

Verão com sabor de aniversário



A shoedesigner mineira Paula Torres escolheu Belo Horizonte como a primeira cidade para começar o tour de comemoração dos 10 anos da sua marca homônima. Formou-se em direito com louvor, depois fez psicologia por curiosidade. Paula amava moda desde a adolescência e sempre viu no sapato a peça principal de um look, e por isso a escolha em criar esse item que valoriza a mulher.
 
- Foto: gabriel Berdoncel/divulgação 
 
Seus pais nasceram em Maria da Fé, pequeno município no sul do estado, pertinho de Itajubá, mas Paula nasceu em Passos, porque seu pai trabalhou a vida toda com energia, mais precisamente hidrelétricas, por isso a empresária já morou em várias regiões do país. Seu primeiro curso foi direito, na PUC-RJ, onde morava na época. Os pais se mudaram para o Sul, mas Paula continuou no Rio por causa da faculdade e foi lá que começou a mexer com sapatos, sua grande paixão.
 
- Foto: gabriel Berdoncel/divulgação 
 
Como a maioria dos jovens que precisam escolher cedo uma profissão para fazer vestibular, Paula estava “meio perdida”. Já gostava muito de moda, mas tinha insegurança em entrar na profissão por não ter ninguém da família na área e ser para ela um mundo desconhecido. Optou pelo direito pela riqueza do curso e amplitude de temas e de conhecimento, e afirma que ganhou base e conhecimento para ser a empresária e empreendedora que decidiu ser e é até hoje. Muito estudiosa e emprenhada, desde o início da faculdade começou a trabalhar em um grande escritório de advocacia e já no final dos estudos percebeu que se continuasse ali são seria feliz na sua vida, apesar de ser sempre muito dedicada.
 
- Foto: gabriel Berdoncel/divulgação 
 
Mas como começar na moda? Passou a visitar uma feira – que era muito forte na época – de acessórios para calçados, realizada em Novo Hamburgo.
“Vinha gente de todas as partes do mundo para essa feira, era muito forte. Tinha todo tipo de maquinário. E componentes como solados, borracha, sola, etc. É preciso mais de 30 componentes para fazer um sapato. Por isso a produção de sapatos é tão difícil. Para fazer uma camisa, se você tem o molde, o tecido, linha, botão e uma máquina, você consegue. O sapato tem muitos componentes.
Tem a sola, o que está entre a sola e a palmilha, o salto, o taco, o couro, a forma, tem que fazer a matrizaria. São muittas coisas. Quando está produzindo um modelo falta algum metal para a produção inteira, porque a metalúrgica não entregou o metal”, conta.
 
“Na visita à feira, conheci um modelista com a mulher, e eles me convidaram para ir em Sapiranga – onde eu produzo os meus calçados –, região no Sul do país onde tem todas as fábricas de calçados, conhecida como Vale dos Sinos. Diferentemente da região do interior de São Paulo, que também faz muito sapato, mas de esteira, que são grandes produções do mesmo modelo, tipo 5 mil pares iguais. No Sul, também tem grande produções, mas tem as fábricas menores que fazem um trabalho manual, em um processo mais artesanal. Visitei e passei a entender mais do processo de fabricação e me aventurei”, relembra.
 
Desde que resolveu se aventurar na nova profissão contou com o apoio incondicional do pai. Paula conta que não foi fácil no início, porque o gaúcho é machista. Ela chegou com a intenção de fazer uma minicoleção de 20 modelos e produzir 15 pares de cada.
Mas não paga nem a escala. E olhavam uma menina, nova, não queriam nem saber. “Até que encontrei uma pessoa que aceitou. Mas perdi muito dinheiro com isso, porque quando chegava uma produção grande, deixavam a minha de lado. É muito difícil começar, como em todo negócio.”
 
Quando a coleção ficou pronta, ligava para as melhores lojas de roupa que tinham calçados e apresentava sua coleção. Elas escolhiam algum modelo, pediam para tirar da coleção e colocar a etiqueta da marca delas. Foi assim por algum tempo. Foi onde ela aprendeu a fazer sapato, desenvolvendo para outras marcas. Aprendeu, amadureceu, aumentou os clientes. Dos 15 pares de 20 modelos, a coleção cresceu para quase 100 modelos e a escala alcança um pedido de 2 mil pares de cada modelo.
Após cinco anos de “escola”, atendendo a marcas como Maria Bonita Extra, Animale, Agilità, Le Lis Blanc, entre outras, a empresária, já casada e residindo em São Paulo, decidiu abrir marca própria, incentivada pelo marido.
 
Em 2013, nasceu a Paula Torres com um DNA definido: sapatos e acessórios de luxo, linha clássica com toques da tendência de moda, produtos de alta qualidade, primando pelo conforto, produção handmade, com estilo e personalidade. “Atualmente, somos divorciados, mas continuamos amigos e ele me ajudou tanto que, na separação, dei parte da empresa para ele e nos tornamos sócios. Ele cuida da área administrativa e financeira e eu fico com estilo e marketing”, explica.
 
Geralmente, as peças Paula Torres se tornam queridinhas das cli- entes e algumas delas esgotam assim que chegam nas lojas, como a bota de neoprene, que se ajusta perfeitamente em todo tipo de perna. Segundo a empresária, nunca chegou nenhum exemplar na liquidação. O sucesso se deve à qualidade, à forração, o cambrè (curvatura) perfeito, a falta de costura, a qualidade da pelica, etc.

O VERÃO A intensidade da estação é refletida nas pessoas, no movimento e na moda. A luz do verão serve como inspiração para as criações cheias de atitude, onde o brilho é o grande protagonista. A coleção verão 2023 de Paula Torres carrega os cristais como elemento-chave, fazendo referência ao brilho solar. As aplicações estão presentes em vários modelos e ganham destaque extra nas clássicas sandálias e modernos scarpins.
 
Para além dos cristais, outros elementos ganham força, como os spikes e medalhas. O brilho segue forte através dos banhos de níquel e ouro, que reforçam a tendência, colocando ainda mais luz na coleção. Outra forma de interpretar o brilho está nas transparências, que trazem o retrô glam das décadas de 1980 e 1990, em modelos de vinil coloridos ou superfluidos, que aparecem nas rasteiras, sandálias de salto fino e até mesmo nas anabelas.
 
Como destaque de modelagem, entram em cena as gladiadoras, totalmente repaginadas, simbolizando força.
Agora é a hora de trazer total protagonismo aos pés, com materiais trabalhados na profundidade, como é o caso do macramé, que passeia em várias modelagens e reforça o DNA handmade da marca.
 
Uma cartela de cores com neutros sofisticados é permeada por cores vibrantes, como o verde-esmeralda, o laranja e a serenidade do azul, em tons únicos que Paula Torres trouxe de sua imersão no Pantanal, que torna a coleção um tributo à vida, à natureza e à alegria de viver.
 
Nos 10 anos da marca, Paula Torres vai abrir sua primeira loja na Europa, em Genebra, em dezembro. As obras estão em andamento. Ela tem 10 lojas no Brasil e abriu seu e-commerce internacional (paulatorres.co) no meio da pandemia, com centro de distribuição em Miami. “Vendo muito bem nos Estados Unidos quando tenho preço. As americanas estão interessadas em marca e preço. Não tenho uma marca forte lá, tenho aqui. Mas a europeia – a alemã, a suíça – ela vê a qualidade do sapato e compra. Um banqueiro da Suíça que tem uma pessoa que sempre foi do mercado de moda veio ao Brasil, me procurou, fez essa proposta e fechamos contrato e vamos abrir em Genebra. Não é franquia, é concessão de uso da marca, como é aqui em Belo Horizonte com a Renata Boom; no Rio de Janeiro e em Ribeirão Preto, as outras são lojas próprias”, diz Paula.
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