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Estado de Minas TRAMAS SUSTENTÁVEIS

Mineira se destaca em Hong Kong com trabalho que transforma calças jeans

Fundadora da marca Re.Trama, Lívia de Castro foi a única brasileira a chegar à final do prêmio Redress Design Award


02/10/2022 04:00 - atualizado 03/10/2022 08:58

Livia de Castro
'Estou muito feliz com tudo isso. Achei interessante estar perto de designers criativos e pessoas que estão se movimentando para criar uma indústria sustentável', aponta a designer Lívia de Castro (foto: Luiz Gonçalves/Divulgação)

Já vimos de tudo com jeans. Mesmo assim, a designer mineira Lívia de Castro conseguiu surpreender o mundo. Única brasileira a chegar à final do prêmio Redress Design Award, em Hong Kong, a fundadora da marca Re.Trama recebeu elogios com o trabalho que dá um novo significado para calças jeans e mostra que a moda sustentável pode ser atrativa e desejada.
 
Lívia é de uma família que sempre reaproveitou retalhos. Seu avô paterno produzia tachos de cobre e com as sobras criava quadros. Já a avó materna a ensinou a fazer fuxico com retalhos de tecido. “Sempre gostei de guardar coisas que seriam descartadas e dar nova função. Por isso, me interessava muito pelo artesanato e pela sua capacidade de transformação.”
 
A habilidade para desenhar roupas vem de pequena. Já na faculdade de moda, ela conheceu o Fashion Revolution, que surgiu em 2013, depois que um prédio em Bangladesh, onde pessoas trabalhavam de forma precarizada para marcas do mundo todo, desabou e provocou mais de mil mortes. O movimento global questionava o impacto da produção de roupas, desde a matéria-prima até a loja.
 
Saia jeans
(foto: Redress/Divulgação)
 
“Isso me interessou muito. Entendi que a moda precisava ser sustentável e que, se fosse para ser designer, queria trabalhar reaproveitando materiais.”

De cara, ela escolheu o jeans. Não só pela disponibilidade, mas pelo desafio de surpreender com um tecido tão corriqueiro. “O jeans está muito na nossa cultura. Quis usá-lo, mas com uma leitura não básica, que trouxesse algo diferente e especial. Para mim, o que tem de mais especial é o feito à mão. O artesão que está lidando com o material coloca muito dele no que faz”, destaca.
 
Na coleção apresentada ao fim do curso, Lívia começou a construir o que seria sua identidade. Transformou calças jeans em fios, usados para criar padronagens, texturas, como pied de poule e tricô.
 
Com as sobras, ela passou a fazer brincos, que marcaram a chegada da marca Re.Trama ao mercado. Nos acessórios, usava pequenos retalhos, fios, zíper, botões e outras peças de metal das peças.
 
fazendo as tramas de jeans
(foto: Luiz Gonçalves/Divulgação)
 
A Redress é uma ONG de Hong Kong que visa conscientizar para o descarte de resíduos da moda. Lívia participou da última edição do prêmio para mostrar seu trabalho com as tramas manuais de jeans. A coleção ganhou o nome de Heritage blue, que em português significa herança azul.
 
“Queria criar peças que fossem passadas de geração para geração, e não mais uma peça dentro do armário. Que fossem marcantes e pudessem ser usadas em momentos especiais.”

Aposta no xadrez  

Desta vez, a designer optou por criar com o jeans padronagens de xadrez, que estão presentes em várias culturas e não saem de moda. Apostou no contraste entre as cores, do branco ao preto, passando pelos azuis, que são o grande destaque da coleção. No vestido, chama a atenção um azul bem vibrante. O xadrez também aparece vazado, unido por tiras mais largas.
 
Calça jeans
(foto: Redress/Divulgação)
 
De matéria-prima, eram, basicamente, calças (doadas e compradas em brechós) e fios de algodão. Lívia incorporou ao design várias partes das peças para gerar o mínimo de lixo possível. Todos os detalhes e acabamentos foram feitos com resíduos da própria coleção, em um trabalho manual bem minucioso. Ela queria mesmo surpreender.
 
As pernas foram cortadas e se transformaram em tiras para criar as padronagens de xadrez. Com a parte do meio que sobrava, num formato retangular, a designer criou efeitos diferentes: balonê na calça e evasê na saia.
 
As presilhas por onde passa o cinto no cós viraram botões. “Não queria usar zíper nem nada metálico, então tudo é jeans”, aponta Lívia, que usou tiras para fazer a amarração da calça e do blazer.
 
Até a “poeira” que sobrava no corte foi usada como enchimento da ombreira do blazer.
 
brinco feito com partes de calca jeans
(foto: Bruno Albergaria/Divulgação)
 
Lívia ficou entre os 10 finalistas do Redress Design Award 2022. Foi selecionada pelo júri, do qual fazia parte Orsola de Castro, uma das fundadoras do Fashion Revolution, que tanto a inspirou no início da carreira. A mineira recebeu elogios pelo design. Pela avaliação dos especialistas, ela conseguiu levar uma cara de alta-costura para as peças, tamanha a riqueza de detalhes manuais.
 
“Estou muito feliz com tudo isso. Achei interessante estar perto de designers criativos e pessoas que estão se movimentando para criar uma indústria sustentável.”
 
Seus quatro looks (três físicos e um virtual) foram desfilados em Hong Kong, no mês passado, quando foi anunciado o vencedor do concurso. Federico Badini, da Itália, ganhou e, entre os prêmios, está o convite para lançar uma coleção com a marca norte-americana Timberland.
 
A revista Vogue de Hong Kong vai publicar este mês um ensaio com as roupas de todos os finalistas, que passam a integrar uma rede global de design sustentável.


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