Heloisa Aline
Arte e moda caminham de mãos dadas e o mais recente exemplo dessa dobradinha é o lançamento da coleção Tarsila por Rosana Bernardes, assinada pela designer mineira Rosana Bernardes, que esteve em Belo Horizonte, na semana passada, para exibir as peças inspiradas na obra de Tarsila do Amaral, um dos nomes mais importantes da Semana de Arte Moderna de 1922.
Além de ícone da cena cultural com projeção internacional, a artista pode ser considerada também uma fashionista. Era filha de fazendeiros ricos, estudou pintura com mestres europeus, e se vestia com costureiros famosos, como Paul Poiret e Jean Patou. Sempre muito elegante, marcava presença por onde passava. Em 1923, como relata Rosana, compareceu a um jantar em homenagem a Santos Dumont, em Paris, usando um casaco vermelho da casa Patou, o que pode ser conferido no autorretrato que ela denominou como “Manteau rouge”.
A coleção completa poderá ser conferida, agora, na Be Loved, loja especializada em semijoias comandada por Jéssica Rodrigues Amaral e responsável pelo evento, realizado na Galeria Murilo Castro.
Cores e formas criadas por Tarsila foram traduzidas pela marca carioca com sofisticação e detalhes requintados em brincos, pulseiras, gargantilhas, colares e pingentes, para reverenciar o convite feito por Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da artista e curadora da sua obra, que também participou de dois talks incluídos na programação do evento na cidade.
“Quando recebi o e-mail sobre o licenciamento para a linha de acessórios, achei que era vírus, mas quando verificamos sua veracidade, me senti muito honrada. Não tinha consciência de como ela era uma mulher forte, ousada e visionária. Mergulhei no seu universo em uma intensa pesquisa de oito meses por meio de livros, vídeos no YouTube, artigos sobre o Modernismo. Visitei até o MoMA”, revela Rosana.
O MoMa – Museu de Arte Moderna de Nova York adquiriu, em 2019, o quadro “A Lua”, que remete à fase antropofágica da pintora (1928 a 1930) e foi pintado logo após o “Abaporu”, uma das suas telas mais valiosas. Os dois trabalhos funcionaram como inspiração para a designer juntamente a outras seis pinturas: “Manacá”, “Pastoral”, “Floresta”, “Paisagem com touro”, “O sapo” e “Distância”.
Cada uma delas resultou em uma linha distinta da marca. De “Abaporu”, por exemplo, o cacto enfeita colares, o Sol é inspiração para brincos, e as pulseiras são réplicas do trabalho da artista. Já em “Manacá”, predominam tons de azul, rosa e verde e uma dose de lirismo, resultando em peças esmaltadas, pintadas a mão, em formas arredondadas. Pulseiras e brincos reproduzem as folhas e flores do quadro e o colar traz a imagem assinada por Tarsila.
“Eu me identifiquei muito com ela e fiquei fascinada Também sou filha de fazendeiros plantadores de café na região de Alfenas, estudei fora, e meu pai plantou pés de manacá na frente dos nossos quartos”, relata a designer.
A coleção foi elaborada a partir da sua sensibilidade e percepção. Da obra “Floresta”, por exemplo, as árvores, troncos e ovos foram a referência. As ranhuras dos caules são retratadas em peças de vidro e os ovos por pedras ovais. O destaque são as pulseiras quadradas. Já as formas de coração, em tons mais suaves, saíram de “Pastoral”. “Trabalhei com pedras de vidro importado premium que lembram ametista, citrino, esmeralda”, ela pontua
Tarsila pintou alguns autorretratos. E um deles, em que ela usa brincos dourados bem compridos, inspirou a papelaria, cartela, tags, fitas, convite. “Investimos muito. Queria que fosse tudo perfeito como a riqueza de tudo que ela pintou”, pontua.
RESISTÊNCIA Em quase quatro décadas de atuação, Rosana teve que se reinventar várias vezes. A expertise na área de acessórios – motivo pela qual foi convidada para elaborar a coleção com foco na modernista, além do fato de trabalhar só com mulheres – e a agilidade para promover mudanças são, para ela, o segredo da permanência no mercado.
“É muito amor pelo que faço que me torna resistente”, enfatiza. Não hesitou, por exemplo, em diminuir a estrutura da marca e fechar as quatro lojas que tinha no Rio de Janeiro para se dedicar apenas ao atacado. Deu certo. Atualmente, a Rosana Bernardes está presente em 240 lojas no Brasil e exporta para 18 países. E é presença constante em um grande salão de negócios de Belo Horizonte, através do qual conquistou parte relevante da clientela.
Ela conta que, na primeira fase da pandemia, assim que o comércio foi autorizado a funcionar, resolveu realizar um lançamento na sua casa, em São Conrado, no Rio de Janeiro. Convidou os lojistas e pagou o hotel. Esperava 20 pessoas, vieram 100, de 58 cidades. “Fiz uma collab com a Maria Braz, influencer e filha da Silvia Braz, e mostrei uma coleção luxuosa. Elas enlouqueceram, foi um sucesso.”
A designer considera fundamental essa parceria com clientes fiéis, como Jéssica Amaral, que abriu a Be Loved há cerca de cinco anos e é representante exclusiva da sua marca em BH. “A Rosana e a equipe da Tarsilinha escolheram quatro cidades para realizar esse evento e fomos escolhidas pelo trabalho que fazemos na praça e em cidades do interior, além do atendimento especial para as mulheres. Vendemos semijoias com o status e conforto de uma joalheria. Seja amado, esse é o nosso conceito, daí o nome Be Loved”, ressalta Jéssica.
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