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Estado de Minas Visual

Que imagem quer transmitir este ano?

O tipo de corte de cabelo que escolhemos influencia diretamente no nosso visual, e é o que as pessoas veem que as leva a ter a primeira impressão


22/01/2023 04:00

Corte shaggy
Corte shaggy, feito em camadas, por Ana Assis (foto: ANA Assis/Divulgação)


Pode ser frase feita, mas é a pura verdade: o cabelo é a moldura do rosto. Um cabelo bem cuidado e bem cortado eleva a autoestima. Mas como saber qual o melhor corte de cabelo para você?
Por muitos anos, escolhíamos os cortes pelo que estava sendo ditado pela moda, ou seja, o que víamos nas passarelas dos desfiles internacionais, nos editoriais de revistas de moda, nas atrizes das novelas. As mulheres iam ao salão e diziam logo “quero o corte igual ao da fulana”, ou levavam uma foto da atriz ou modelo. Com a vantagem do celular, o acesso às imagens ficou bem mais fácil e algumas levavam – e levam – verdadeiros álbuns com várias opções. Mas isso está mu- dando. Foi-se o tempo em que as pessoas queriam ficar igual a top model ou a atriz famosa. Agora, a maioria prefere ser única, ter um visual exclusivo, uma imagem própria que combine com quem é, como é, seu temperamento e personalidade.
 
Laura Nunes
Laura Nunes, do LG Studio (foto: Rodrigo Clemente/EM/D.A Press)
 
 
Mesmo buscando uma imagem própria, como em todas as áreas ligadas à moda e à imagem, existem tendências ditadas pelo mercado. Para cortes de cabelo, tanto femininos quanto masculinos, não é diferente. A Coreia está em alta em vários segmentos, e é lá que está situada hoje a maior escola de cabeleireiros do mundo, que está ditando tanto o estilo quanto as modernas técnicas de cortes para ele e para ela. Mas não podemos excluir a força das passarelas internacionais.

INFLUÊNCIA ORIENTAL O cabeleireiro Acrísio Júnior, mais conhecido como Cris, do Lila Beauty, situado em Lourdes, tem 27 anos de profissão, e aprendeu o ofício em São Paulo, onde ficou por cinco anos, e depois retornou para Belo Horizonte, sua cidade natal. Ele afirma que até hoje a grande tendência dos cortes de cabelo vem das passarelas dos desfiles internacionais, onde estão os profissionais mais artísticos, tanto cabeleireiros quanto maquiadores, que criam estilos.
 
Cris também fez um curso na Coreia, na Juno Academy, maior e melhor escola de técnica de cortes do mundo, onde profissionais de Hollywood, Nova York, França, Inglaterra vão para se atualizar. “Eles ditam muita moda em técnicas de cortes, e são influência mundial. Foram eles que trouxeram os cortes que chamamos de bob – long bob, short bob.
 
Short bob
Short bob, por Ana Assis (foto: ana assis/Divulgação)
 
 
Para 2023, a tendência são cortes mais retos e podem ser de comprimentos longos, que na verdade são medianos porque ficam um pouco abaixo do ombro (long bob). Eles têm a base reta, mas são desconectados nas pontas. Se a pessoa gosta de franja, entram as courtain bangs (franja cortina) – são divididas ao meio, emoldurando cada lado do rosto. São mais suaves e amplas, mais curtas no meio e mais longas nas laterais, o que dá uma aparência mais leve, descolada e prática. É uma versão atual do corte que a atriz ex-pantera Farrah Fawcett usava nos anos 1970. Segundo Cris, os picados nunca saíram de moda porque deixam a mulher mais glamourosa, mais mu- lherão. Os short bobs, abaixo da orelha, pode-se dizer que são o antigo Chanel.
 
pixie curto
Ana Assis fez esse pixie, curto, laterais aparadas e nuca %u201Cbatidinha%u201D (foto: ANA Assis/Divulgação)
 
 
Quando uma cliente chega pedindo um corte que não a favorece, Cris conversa e mostra variações que caem melhor com o formato do rosto e a textura do cabelo, mas sempre respeitando o desejo da cliente. Algumas clientes morenas querem ser louras e vice-versa. “O cliente procura um profissional que combina com seu estilo.”
 
Cris Júnior, do Lila Beauty, com a modelo Bárbara
Cris Júnior, do Lila Beauty, com a modelo Bárbara em um corte long bob (foto: Divulgação)
 

CORTE IDEAL Laura Nunes, do LG Studio, é expert em tintura e conhece cabelo como poucos. Além de tinturista, também corta cabelo, e apesar de receber bem os pedidos das clientes que sempre levam fotos com o estilo de corte que querem, faz questão de conversar com cada uma, levantando prós e contras do corte desejado. “Quando a cliente chega com a foto ela não faz ideia se o seu cabelo aceita aquele corte. Às vezes o fio é muito fino, o cabelo não tem o peso necessário ou é pesado demais. Tenho que levantar essas questões porque eu conheço o cabelo de cada cliente e só de ver a foto sei o que funciona”, conta.
 
Outro ponto importante levantado por Laura é a questão dos cabelos bancos e grisalhos, que aumentaram muito com a pandemia. “São cabelos que demandam um cuidado especial para não ficar amarelados, e o corte tem que ser de fácil manutenção em casa, para que ele fique sempre bonito.”
Por sinal, este é um ponto importante que as clientes nunca levam em consideração: a manutenção do cabelo no dia a dia. A maioria dos cortes que ficam lindos na foto demandam salão de beleza, e são raras as mulheres que têm disponibilidade para ir ao salão três vezes por semana. “A mulher de hoje quer ter autonomia para lavar e arrumar seu cabelo em casa durante a semana. A mulher é ocupada, trabalha fora, faz outras atividades que ocupam seu tempo, tem filhos, marido etc. Tenho que fazer um corte que dê independência a ela”, explica a profissional. Depois de todos os alertas, Laura e cliente chegam a um denominador comum e criam o melhor corte.
 
Ana Assis
Ana Assis, do Casa Tif%u2019s Belvedere, criou o método Imagética (foto: Divulgação)
 
 
Mais que um corte
 
Ana Assis – leia-se Casa Tif's Belvedere – é cabeleireira há 25 anos, e percebeu que precisava ir além, para oferecer um serviço diferenciado para suas clientes. Durante a pandemia, intensificou estudos que já vinha fazendo há algum tempo sobre a imagem. Nasceu assim o imagética. “O nome é uma junção de imagem com ética, o significante e o significado, porque a imagem diz tudo sem precisar de uma explicação. Quando você vê uma pessoa vestida com roupas coloridas, sapato grande, rosto maquiado de forma caricata e nariz vermelho, você sabe que é um palhaço”, explica Ana.

Imagem Mas, o que é imagética? É um método criado e patenteado por Ana Assis de consultoria de imagem do rosto. “Por meio de análises faciais, faço para o rosto do cliente, como o arquiteto faz para uma casa. Elaboro um projeto de identidade visual baseado em seus desejos de imagem, ou seja, como a pessoa deseja ser percebida e, o mais importante, como deseja se sentir. O método é embasado em visagismo, facetelling, semiótica e meu repertório de 25 anos como hair designer. Nesse GPS da comunicação visual, avaliamos a imagem atual do cliente, analisamos se tem algum ruído como expressão de brava, de cansada, de pouco confiável, infantil, etc. O método surgiu para preencher duas lacunas na imagem pessoal: a lacuna da consultoria de imagem que leve em consideração o segmento corporal do cliente e dos cabeleireiros que desconsideravam o segmento corporal e se concentram apenas no cabelo.
 
“Toda imagem conta uma história, e nós queremos impactar a imagem de forma que ela conte uma história honesta com quem somos nós. Muitas vezes, transmitimos uma imagem errada, e geralmente não temos conhecimento da imagem que passamos. A imagética nasceu para olhar o todo da pessoa e ajudar a adequar o visual por meio do corte de cabelo, coloração, maquiagem e estilo, para que ela transmita a mensagem certa do que é e do que quer transmitir. Mas tem que ser verdadeiro, porque o falso não se sustenta”, detalha a profissional.
 
O trabalho une visagismo, que é a arte de alinhar esteticamente os traços faciais de uma pessoa com a personalidade dela; com o facetelling, que é uma espécie de leitura facial baseada na morfopsicologia – cada linha, cada traço e a forma do rosto nos contam uma história – e isso é muito intuitivo do ponto de visto emocional e primitivo. “Uma pessoa de rosto arredondado parece ser mais acessível; formato mais anguloso parece ser mais distante, mais rígida. Tudo isso é percebido em questão de segundos, e é o que faz alguém pedir uma informação na rua para um indivíduo e não para outro”, descreve Assis.
 
Imagem é uma reputação e é de fora para dentro, porque é o que o outro vê primeiro e como ele nos percebe, e nem sempre temos noção de como estamos sendo percebidos. Ana Assis enxergou essa lacuna no mercado. Viu que tanto ela quanto seus colegas faziam os cabelos da moda, levavam em conta o rosto, mas não consideravam a individualidade, a personalidade e o estilo de vida daquela pessoa que estava ali. Por outro lado, os consultores de estilo cuidam das roupas, mas não trabalham o rosto. “A imagética veio para colar essas duas coisas dentro do conjunto de ética, que são os valores da pessoa, o que é importante para ela, seu estilo de vida, quanto tempo ela dispõe para cuidar desse cabelo. Ela faz maquiagem? Ela tem que colorir ou vai deixar grisalho (que hoje é uma demanda enorme)? Vai ficar bom? São inúmeros questionamentos”, diz.
 
Algumas situações que muitos já passaram por ela e que o trabalho de imagética pode resolver: já ouviu ou disse para alguém “a primeira vez que te vi a achei tão antipática, e agora que te conheço te acho tão legal”; ou “nossa, aquela executiva é eficiente, mas deve ser brava, séria e nunca deve ter tempo e nem vontade de se divertir”; ou ainda “você é tão divertida, mas parece tão careta”. Pois essas imagens equivocadas é que são desmanchadas nesse trabalho de mentoria, que demanda entrevista, questionário, análise de fotos, pesquisa, até o dia de apresentação de três propostas de nova imagem, para então o cliente escolher a melhor . Claro que cada uma delas com as devidas explicações. Um ponto positivo é que Ana Assis ensina a cliente a lidar com o cabelo em casa, para ficar independente de salão, e a cliente também pode contratar mentoria de finalização do cabelo e de maquiagem.

olhar humanizado Muita gente chega apenas para cortar cabelo. Mesmo sem fazer o trabalho de imagética, Ana sempre olha a pessoa, e principalmente a textura do cabelo, a textura emocional, o lado up e o lado down. “Tem gente que tem cabelo cacheado, mas tem uma textura emocional de cabelo liso, ela não gosta do cacheado e vai fazer escova sempre. Tem pessoas que só se veem loiras, nasceram morena, mas não se identificam e fazem luzes sempre. O cabeleireiro tem que ter esse olhar humanizado para com o cliente e para suas demandas. A primeira pergunta que faço é qual o traço facial de que ela mais gosta. O corte tem que destacar o que a pessoa mais gosta nela, e “esconder” o que não gosta. Por isso, temos que saber adequar os cortes da tendência ao que a cliente quer, para tudo isso tem uma linha, uma forma, uma cor, um volume e uma textura”, diz. Para 2023, como reflexo de um retorno cada vez mais forte ao cabelo com textura natural, o volume dos fios volta a ser celebrado. Corte em camadas, borboleta, mullets, shaggy hair e franjas prometem brilhar nos próximos meses. A base reta, com o cabelo mais “desarrumado” propositalmente. 
 
Fred Catizanni
Fred Catizanni quer manter rituais de barbearia (foto: 42 fotografia & Video/divulgação)
 
 
Aconchegante universo masculino 
 
Os homens agora têm um lugar para chamar de seu. Desde que as barbearias perderam espaço depois dos anos 1970, os homens ficaram sem lugar para cortar cabelo. Foi quando surgiram os salões unissex, mas que sempre foram muito mais voltados para a mulher, porém oferecendo também cortes masculinos. Alguns, mais estruturados, tinham uma sala mais reservada para os mais vaidosos, que, quando ficavam com cabelos brancos, passavam a fazer luzes invertidas.
 
Para a alegria da ala masculina, em 2006, as barbearias voltaram a fazer sucesso no exterior. O que está em alta lá fora chega rápido por aqui. Foi o que ocorreu, e três anos depois surgiram as primeiras barbearias em São Paulo. Apenas em 2014 elas começaram em Belo Horizonte.
Uma das boas da cidade é a Razor Bros, na Savassi, de Fred Catizanni e Douglas Souza, inaugurada em 2016. Ela é uma típica barbearia clássica inglesa, porém não tem nada de antiquada. É vintage, mas de vanguarda. É um espaço lindo, aconchegante, com uma música extremamente agradável, luz suave. A casa foi idealizada pelo empresário e barbeiro Fred, no modelo de barbearia old school clássica, com a proposta de manter os pilares das antigas barbearias europeias. “Queria abrir uma casa para atender ao tradicional gentleman, aquele cavalheiro polido em suas maneiras. E fazemos questão de manter todos os rituais de uma barbearia tradicional: a toalha quente, o protocolo do barbear com navalha de lâmina fixa, o local certo de onde começar o corte do cabelo. Somos guardiões desses rituais e queremos ser reconhecidos por isso”, destaca Fred, que reverencia dois grandes concorrentes da new school, Sr. Elias e Edmar Torres.
 
Nuca e lateral batidas
Nuca e lateral batidas, mais volume no alto. Partir o cabelo aproveitando o redemoinho natural é uma boa opção (foto: Fotos Fred Catizanni/divulgação)
 
 
A barbearia tem espaço para bar, e oferece todo tipo de coisas do universo masculino, desde motocicletas até hidratantes para barba e xampus, passando por charutos, miniaturas, jaquetas de couro, camisetas, bebidas variadas, etc. Toda sexta tem happy hour com direito a bartender preparando drinques, mas na maioria do tempo o espaço é propício para o relax total.
 
Dizer que é o Clube do Bolinha estaria certo, não fosse o fato de algumas mulheres terem aderido à casa, não apenas como acompanhante de seus companheiros, mas como clientes. A família do apresentador do canal Off Gustavo Ziller é um exemplo disso. A mulher tem uma tatuagem na nuca que faz questão de deixar à mostra. Para o corte perfeito, escolheu a Razor Bros. A filha prefere deixar a cabeça praticamente raspada, em vez de usar cabelos longos. Quem melhor que um barbeiro para executar esta tarefa?

universo masculino A Razor Bros é especializada em cortes clássicos – não são antigos e nem ultrapassados –, mas todos os 10 profissionais da casa estão up to date nos cortes modernos, para atender a qualquer demanda. Como no caso dos cortes femininos, quem dita a tendência são as passarelas internacionais, e todo bom barbeiro conhece tudo que surgiu de novo. Um dos cortes masculinos em alta é o undercut, que traz a nuca e as laterais mais curtas, mantendo em destaque a parte superior da cabeça. O cabelo é penteado todo para trás com a ajuda de um gel com bastante fixação. “Nossa função é orientar o cliente sobre qual o melhor corte para o seu tipo de cabelo, porque temos que entregar o que prometemos. Às vezes o cliente chega querendo um tipo de corte que o cabelo não responderá como ele imagina, temos que alertá-lo. Se ele insiste, fazemos, mas de forma a ficar o melhor possível”, conta Jiorge Adriano, profissional há 10 anos. “Uma vez, um cliente pediu um corte que deveria ser feito com máquina 2; disse para não fazer, ele insistiu, fiz com a 4. Quando terminou, gostou, mas achou que ficou muito curto. Nessa hora eu disse que era para ter feito com máquina 2. Ele me agradeceu muito.”
 
Como a barba está em alta, principalmente depois de uma pesquisa revelar que a maioria das mulheres prefere homem de barba, o barbeiro tem que ser um craque neste quesito, e lá todos são. Além disso, quatro eles são maestro barbeiro, que dominam a arte da navalha de lâmina fixa, e estão aptos a fazer o protocolo italiano do barbear com essa navalha. “A navalha de lâmina fixa oferece uma barba perfeita, não causa microfissura, não irrita a pele, não deixa vermelhidão. É 100% seguro”, afirma Catizanni. A barba está em alta e segundo o mestre barbeiro Jiorge Adriano, é preciso cuidar dela, hidratá-la. “Aqui fazemos a barba e explicamos ao cliente como ele manter a barba em casa. Tem xampu próprio, óleo, balm, que um creme hidratante para a barba e manter o fio ali- nhado. Tem cliente que vem toda semana fazer a barba. A média é de 15 dias, no máximo, quando a pessoa consegue limpar a barba em casa”, explica. 


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