Não pode faltar alegria e animação, mas tudo fica com um astral diferente quando se monta um look personalizado para ganhar as ruas durante o carnaval. Ele é o passaporte para todas as metamorfoses: basta acionar o botão da criatividade para viver um personagem ou, simplesmente, receber uma segunda pele capaz de transportar, literalmente, ao reino da fantasia.
Belo Horizonte entrou no circuito da folia, movimento espontâneo capitaneado pelos jovens, trazendo uma movimentação comercial que oferece a grupos de várias faixas etárias elementos para que eles entrem no clima carnavalesco de maneira fácil e criativa.
E isso pode começar pelas cabeças. Mas, não, nada de monumental ou pesado - um simples arco decorado pode mudar o clima, se tornar em um salvo-conduto para um novo status. Basta se perguntar, sem pudor, o que se quer ser naquele dia: uma princesa, uma vedete ou um ser espacial?
E o que dizer das ombreiras, símbolos de poder, que trabalhadas em fios de paetês, podem dar um charme especial àquela roupa do cotidiano? Desde que detectou os primeiros sinais que a cidade caminhava nesse sentido, retomando, de maneira muito particular, a sua vocação para o carnaval, Carlos Ferrer, popularmente conhecido como Baiano, correu atrás desse filão e transformou sua loja, a Nobres Pecadores, no bairro do Buritis, em um ponto no qual se encontram uma coleção completa de adereços.
É ele mesmo que cria as alegorias, põe a mão na massa, passa madrugadas envolvido com paetês, plumas, strass, flores, buscando resultados diferentes, como nesta produção apresentada pelo Caderno Feminino. O que ele oferece é a oportunidade de cada um montar sua versão conforme o bolso ou o desejo do momento.
“O carnaval de Belo Horizonte se tornou o terceiro maior do país. São cinco milhões de pessoas que estão dispostas a trocar o terno ou o tailleur do cotidiano para usufruir dessa data tão especial”, explica Carlos, perito em criar um arranjo engenhoso.
“É um trabalho autoral. São criações que vão nascendo do material de que disponho. De repente, é a vez de uma pluma, de outra, uma borboleta vai dar o toque final. A intenção é sempre surpreender”, pontua.
O mais importante, segundo ele, é permitir que cada um lance mão do que já tem e tenha oportunidade de customizar um traje à sua maneira. “Nós, brasileiros, fizemos isto como ninguém porque estamos acostumados a lidar com os improvisos e temos essa animação e alegria que permite a diversão genuína”.
Memórias Ele próprio confessa que carrega um carnavalesco dentro de si. Ainda na infância, acompanhado da família, acostumou-se a acompanhar, encantado, o desfile de blocos que desfilavam pelo centro da cidade. Tem memórias afetivas também das escolas de samba mineiras, Cidade Jardim e Canto da Alvorada, em suas passagens pela avenida Afonso Pena.
No entanto, foi quando participou da inauguração do Sambódromo, em companhia de Darçy Ribeiro, que compreendeu toda a extensão de uma festa tipicamente brasileira na qual o povo se reconhece como cidadão. “Senti que seria capaz de fazer aquelas alegorias tão representativas”, pontua.
Isto porque, ao longo do tempo, desde os 14 anos, Ferrer trabalha com criação: de vitrinista a artista plástico, ele entrou na seara da moda, ultrapassando, em alguns momentos, o limite meramente fashion para lincá-la com política, como quando lançou as camisetas alusivas ao Diretas Já. É também o estilista das suas lojas, entre outros feitos da sua carreira.
Há seis anos, reconhecendo que estava acontecendo um movimento interessante em torno do carnaval em Beagá, passou a investir no novo nicho. Nem imaginava que a novidade chegaria tão longe. “Há muito tempo, não acontecia nada na cidade. Nem nas ruas, nem nos clubes, como o Minas, Iate, Sírio Libanês, que sempre ofereciam uma programação tradicional durante os quatro dias da folia. Os primeiros bloquinhos começaram a aparecer, foram crescendo, a prefeitura percebeu que precisava organizar a festa para os belo-horizontinos e para receber os turistas que vem para cá”.
Ficha técnica - Fotos: Iana Domingos - Modelos: Alice Marinho Teixeira, Amanda
Marques, Débora Consuelo, Ana Marina Ferrer, Victor Ferrer, Ingrid Luciana Araújo dos
Santos - Produção: Débora Consuelo e Ana Marina Ferrer - Beleza: Cacho Studio de Beleza