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Estado de Minas Jeans

Além do tempo

A calça 501 da Levi's completa 150 anos e o aniversário será comemorado com vários curtas-metragens que fazem parte da campanha "A maior história já vestida"


19/02/2023 04:00

Patogê
Patogê tem três décadas no mercado (foto: Divulgação)


Ela figura no estrelato dos ícones da moda, peças que se tornaram simbólicas no universo fashion, como a jaqueta aviador, a camiseta ou o trench coat. A velha calça jeans 501 da , que está completando 150 anos, ultrapassou os limites do tempo e da cultura e chegou aos dias atuais mantendo sua aura e tradição.
 
Claúdia Rabelo
Claúdia Rabelo (foto: Weber Pádua/divulgação)
 
 
Impossível imaginar um produto que tenha acompanhado a trajetória da humanidade de forma tão camaleônica e representativa e se isto aconteceu é porque a marca soube contar e recontar sua história para que ela se tornasse conhecida e amada por várias gerações. Para se ter uma ideia desse alcance, em 1999, conquistou a nomeação “item de moda do século 20” pela revista Time e vem mantendo seu sucesso como item global até o século 21.
 
Jeans Feminina Levis 501
Jeans Feminina Levis 501 branca com flores (foto: Divulgação)
 
 
Hoje, a Levi’s segue impactando a história com novas criações que, muitas vezes, derivam do 501 Originals e continua seu percurso com o objetivo de trazer um outro olhar para os fãs mais jovens da label, construindo uma nova base sem perder aspectos de sua herança por meio de ações que unam personalidades influentes dessa geração.
 
Calça Levi's 501
Calça Levi's 501 de várias cores (foto: Divulgação)
 
 
Com esse intuito, haverá celebrações em torno do aniversário da velha calça com lançamentos de filmes que fazem parte da campanha “A maior história já vestida” (The greastest story ever worn). São curta-metragens dirigidos por Martin de Thurah e Melina Matsoukas, que exploram histórias originais e verídicas de todo o mundo envolvendo o produto e seu papel em inúmeros momentos.
Os filmes vão abordar experiências excepcionais, entre elas a chegada da 501 à Kingston, na Jamaica, nos anos 1970. Porém, a mais original narrativa é a de um fiel usuário que pediu para ser enterrado com o seu jeans, além de desejar que todos os participantes do funeral estivessem vestidos como ele.
 
Entre fábulas, mitos e lendas, surgem relatos de pessoas mais próximas, que narram a relação de amor com esse ícone, como a do estilista Amarildo Ferreira, que faz parte da turma em cujas veias corre sangue azul tal a intimidade com o mundo jeanswear. Isto porque os designers que escolhem esse território são profissionais muito especializados: não basta conhecer as regras da moda ou as tendências da estação, o ofício exige um repertório técnico muito especial para trabalhar todos os processos de criação e fabricação.
 
Com passagens por muitas empresas de alcance nacional, como as mineiras Vide Bula e DTA, Amarildo ganhou uma calça de herança de uma tia, nos anos 1970, que pertenceu a um ex-namorado dela. Quando ela chegou até suas mãos, ele, por sua vez, aplicou sobre a superfície várias das suas expertises em forma de lavagens e outros tratamentos, chegando até a manchá-la por ocasião dessas experiências.
 
Mais do que uma simples roupa, o estilista poetiza o seu relacionamento com a peça:  lavada, recosturada, rasgada, cerzida, sua 501 é uma velha companheira de vida, uma espécie de trilha sonora ou diário, com quem dividiu vários momentos. “Viajou comigo pela Europa, Estados Unidos, China, Japão. Fomos muito longe juntos e ela sabe muito de mim, acompanhou amores, segredos, sentimentos”, observa.
 
Do ponto de vista técnico, Amarildo compara a calça da Levi’s a uma bíblia em termos de aprendizado: a começar pelas costuras em duas agulhas passando pela construção dos bolsos, dos passantes, do abotoamento fly button, da aplicação dos rebites. “No final, ela é a mesma: perdeu o regulador traseiro e ficou mais reta. Pode vir no jeans 50% bruto e vai se adaptando ao corpo ou no elastano, mas no geral mantém a construção original”, ensina.

Vida longa  Como o colega, Bárbara Luiza Oliveira tem a mesma paixão pela matéria-prima. Criada e burilada profissionalmente nesse ambiente, a estilista confessa que, em meio a tanta coisa descartável e passageira, saber que um produto tem vida longa há 150 anos provoca um sentimento bom no coração. Ela vai além: “Por detrás do jeans, há indústrias poderosas nas quais coleções são lançadas a cada estação, anos após anos, em forma de novos shapes, novos tons de blue, gerando milhões de empregos e com altas cifras de faturamento pelo planeta, o que faz com que ele se mantenha relevante e desejável pelo seu poder de renovação”.
 
A estilista crê que ele preserva o seu mainstream porque não ficou parado; ao contrário, acompanhou as mudanças dos tempos através de muita pesquisa, execução tecnológica e o poder infinito e mágico da criação. “E segue se expressando com relevância, se aliando às pessoas e ajudando a contar o lifestyle de cada um. Talvez o segredo esteja exatamente nesse ponto, o de ser parte importante na vida de tanta gente”, conclui.
 
“O motivo da longevidade desse produto icônico e influente em um mundo tão volátil, breve e inconsistente, nos enche de curiosidade e uma busca sem fim para essa fórmula mágica. Para nós, designers brasileiros, em que o maior inimigo é o tempo e a possibilidade de duração de um produto por mais de seis meses é quase que uma vitória, só posso olhar e pensar: É... tem mais do que produto aí por trás”, reflete a estilista Andréa Aquino, que também pertence à família do sangue azul.
Na sua análise, várias questões, além do design, estão envolvidas na história de uma peça que se tornou base para qualquer aprendiz de desenvolvimento de produtos na linha do jeans. “Acredito na somatória de tudo: design, gestão, propósito, distribuição, comunicação e a intenção de não querer ser tão breve, buscando todos os holofotes que piscam todo o tempo”, enfatiza.

Publicações A fascinação pelo assunto se replica em estudos e publicações, como aconteceu com a jornalista e professora Lu Catoira, que publicou dois livros – “Jeans, a roupa que transcende a moda” e “Moda jeans, fantasia estética sem preconceito”, ambos pela editora Ideias e Letras. O que a conquistou durante o período da pesquisa foi a possibilidade da matéria ser estudada pelo viés da psicologia, sociologia, marketing, relações sociais, história e, por fim, da moda.
 
“É um signo que, apesar do tempo, continua jovem”, ressalta. Na sua opinião, a questão da longevidade, que inclui o ícone 501, tem a ver com suas dimensões simbólicas a ao fato de ele ter acompanhado diversas gerações, desde os mineradores até chegar à linha premium. “Estamos falando disso em pleno século 21, porque o jeans continua a transcender idade, sexo, religião, classe social, por ser um símbolo jovem e até detentor de marca e status. O marketing da Levi’s não descuida dos produtos, oferecendo, até para a 501, modelos diferentes. E ainda estão alertas à sustentabilidade e uso do algodão orgânico”.
 
E imaginar que tudo começou em 1873, como uma patente para rebites de cobre em calças de trabalho para mineradores. O jeans atravessou vários ciclos: foi roupa ideal para vaqueiros e cowboys na vida real e no cinema, o preferido pela geração rebelde dos anos 50, adotado por roqueiros e hippies, presente em revoluções e rebeliões, conservando até os dias atuais o estigma de liberdade e de juventude. Sua versatilidade não se extingue, como demonstram as marcas mineiras Cláudia Rabelo e Patogê, que o exploram em todas as suas possibilidades e facetas.
 
 


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