(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas Homenagem

Elas são demais

Fechando o mês dedicado a elas, entrevistamos mulheres que são destaque em suas áreas de atuação


26/03/2023 04:00

Sexo frágil é coisa do passado. E com os homens cada vez mais fracos, as mulheres se tornaram cada vez mais fortes, mais competentes e estão ocupando espaços e posições mais altas com muita propriedade, capacidade e preparo, comprovando que são excelentes em todas as áreas de atuação. Para exemplificar isso, o Caderno Feminino & Masculino decidiu fazer uma homenagem às melhores, fechando o mês dedicado a elas, entrevistando as empresárias Ângela Alvim e sua filha Alessandra, Denise Magalhães e Lúcia Vieira; a escritora e publicitária Carla Madeira; a política Macaé Evaristo, a arquiteta Márcia Carvalhaes e a cirurgiã plástica Xênia Portela. 

 

 Macaé Evaristo
Deputada estadual Macaé Evaristo (foto: REPRODUÇÃO FACEBOOK)
 

 

Luta pela educação

 

A deputada estadual Macaé Evaristo nasceu em São Gonçalo do Pará, uma cidade mineira bastante conservadora e com uma minoria de população negra, o que foi muito difícil. “Na adolescência, isso é mais forte, porque é a época em que nos unimos em grupos, quando construímos redes de relacionamento. Quando você é a única menina negra na sala, e que frequenta essas atividades sociais, sempre é tratada como a negra. Nunca é considerada na sua identidade. Algumas pessoas diziam: “você é negra, mas você é muito inteligente”. Como se ser inteligente não fosse uma coisa possível para pessoas negras. Ao mesmo tempo que é um elogio, é uma crítica. É uma tentativa de dizer: ‘olha quem você é, e que lugar que você deve ocupar”. Na adolescência, isso é muito difícil, porque é quando começamos a ter relacionamentos foram do circulo familiar. Eu falo que eu sobrevivi”.

 

E Macaé sobreviveu pela leitura, pela literatura, que a ajudou a se projetar, a compreender que existem outros mundos, outros campos de possibilidade, a educação, o espaço da escola. A escola pública foi muito importante para essa sobrevivência. Ali fez amizades, participou do grupo de teatro, participava dos grupos de jovens e das campanhas de arrecadação de alimentos e brinquedo para criança. “Sempre me envolvi numa agenda de coletividade, porque era uma forma de sobreviver àquela estrutura, que coloca o sujeito em lugares pré-determinados para uma menina negra, filha de mãe negra e com outras três irmãs negras. Havia um roteiro programado. A gente deveria trabalhar como empregada doméstica, no máximo ser operária. Construí uma outra história por meio da educação, e do magistério com uma perspectiva de construir outra forma de inserção”.

 

Apesar de no Brasil o racismo ser estrutural e se reproduzir institucionalmente, Macaé acredita que avançamos do ponto de vista de trazer para os marcos normativos, prerrogativas que garantam direitos da população negra. “Isso é inegável. A gente não pode dizer que não mudou a Universidade Brasileira a partir da lei de cotas. Hoje, quando fazemos uma radiografia das universidades públicas, vemos a presença de estudantes negros, pretos, pardos e indígenas, o que não ocorria. Eu estudei numa universidade privada e, na minha geração, eu era a única estudante negra na minha turma, no curso de serviço social, que nem é um curso de grande status no mercado. Em outros cursos era impensável a presença negra. Costumo brincar que o último médico negro que eu conheci, da minha geração, se chamava Último, e eu brincava com ele e falava: não é possível! Você é o primeiro médico negro que eu conheço e se chama Último. Mas é uma forma de destacar isso”.

 

Macaé é filha de professora e sua mãe, que sempre viu a educação como um mecanismo possível para famílias negras de ascensão social e de mudança da sua condição de vida, fez um grande esforço para que todas as filhas pudessem estudar. “A educação para minha família é um bem, um patrimônio. Sou muito feliz pela escolha que fiz, porque me propiciou formas de ler o mundo, de compreensão da sociedade, de entender as injustiças sociais e conseguir compreender esse processo, não deixando que se tornasse uma questão pessoal. No dia a dia, nós lidamos com o racismo, e costumo dizer que todo dia tomamos uma dose de racismo. Às vezes, é um copinho de café, tem dia que é um copo duplo, mas, ao longo da vida, a gente construiu estratégias de resistência, de dar conta de lidar com racismo e de explicitá-lo. Isso não nos exime de sofrer. De uma maneira geral, a sociedade brasileira vem ampliando a sua consciência sobre o que é o racismo e, ao mesmo tempo, na construção de mecanismos para sua superação.

 

A deputada veio para BH em 1984, como professora concursada da prefeitura, e foi trabalhar em uma das regiões mais pobres da cidade. As famílias dormiam na fila para conseguir uma vaga. Macaé se engajou nas lutas pelo direito à educação, com as famílias e a comunidade. Sua trajetória a levou a ocupar o cargo de secretária municipal de educação de Belo Horizonte. “Passamos por períodos desafiadores na educação, em Belo Horizonte avançamos muito, chegamos a ser referência para o país com as UMEIs, a Escola Integral, o Programa Família Escola, a Escola Aberta. Infelizmente, não temos mais um modelo exemplar. É preciso voltar para esse lugar.” 

 

Xênia Portela Lourenço
Cirurgiã plástica Xênia Portela Lourenço (foto: aRQUIVO pESSOAL)
 

 

Profissional internacional 

 

A cirurgiã plástica Xênia Portela Lourenço é mineira e atualmente trabalha em Portugal. Formou-se na UFMG há 34 anos e fez cirurgia geral. Depois acompanhou por um tempo o cirurgião plástico Fernando Rodrigues, amigo da família e, apesar de não ter esse ramo entre suas preferências, apaixonou-se pela área. Fez residência na área no Hospital Mater Dei do Santo Agostinho e foi assistente por dois anos do dr. Carlos Eduardo Leão, quando partiu para carreira solo. “Na época, já tinha algumas cirurgiãs plásticas como a Emília Klein, Vânia Diniz, Raquel Gontijo. No início, era mais raro a presença feminina, hoje é muito comum. Meninas estão brilhando na área. Antes, fazer carreira solo e conseguir constituir família era mais complicado. Tive dois filhos e tanto eu quanto meu ex-marido éramos médicos. Foi um período bem difícil.”

 

Xênia diz que não enfrentou dificuldade quando começou na profissão. “Quando somos minoria e entramos em um meio que não é seu lugar-comum, temos que entrar mais miúdas. Ninguém tentou me cercear, mas a conquista de espaço é aos poucos. Até hoje a Sociedade de Cirurgia Plástica Regional nunca teve uma mulher como presidente. Mas, com relação aos meus colegas, eles sempre foram muito bacanas, nunca vi grandes coisas em termos de machismo, sempre foi uma relação de muita camaradagem. O desafio foi trabalhar e criar família, estudar, preparar para congressos e simpósios, porque tudo isso é muito importante, mas quando somos jovens temos disposição”.

 

A família materna de Xênia é portuguesa. Desde nova, ela ia a Portugal e por isso nasceu um grande amor pelo país-irmão. Em 2015, ela e a irmã foram sozinhas e ela decidiu que um dia iria morar ali. A partir desse momento, começou a preparar a sua equivalência. No início, achou que o desafio seria menor, mas se surpreendeu com o grau de dificuldade, principalmente para uma pessoa que já tinha 29 anos de formada. “Eram muitas provas, tive que estudar tudo de novo, mas foi enriquecedor, só somou. A prática em Portugal é mais acanhada que no Brasil. Não atendo o tempo inteiro, e a maioria dos clientes são conhecidos de clientes brasileiros. É difícil começar em outro país. Tem dado certo, mas opero menos. No momento, não pretendo me mudar, mas não me fecho para essa possibilidade no futuro”, explica. Outra coisa que facilitou é ter a nacionalidade portuguesa. “Agora tem um intercâmbio grande entre Brasil e Portugal, inclusive um convênio entre a Rede Mater Dei de Saúde e o Hospital da Luz, na áerea de cirurgia plástica, que é coordenado pelo cirurgião plástico Ronan Horta. 

 

Márcia Carvalhaes
Márcia Carvalhaes (foto: BARBARA DUTRA/dIVULGAÇÃO)
 

 

Paixão pela profissão 

 

Márcia Carvalhaes se formou em arquitetura e urbanismo em 1983. Na época, o mercado era péssimo, com alta inflação. Começou a trabalhar como todos, fazendo pequenos projetos de reforma para pessoas próximas, amigos e parentes. “Reformava banheiro, sala, fazia uma decoração. Com isso vamos formando nome e começam a aparecer clientes para fazermos reforma de casas, sítios, construtoras para ajudarmos na especificação”, relembra. O mercado era muito masculino, mas conseguiu se colocar como arquiteta de interior e foi crescendo na profissão. Aos 50 anos estava mais segura. “Me formei com 23 anos, casei nova e aos 30 anos já tive minha filha e com 35 tive o segundo filho. Por ser mãe e depender de ajuda, acabei tendo um início de carreira mais lento, para me dedicar aos meninos que ainda estavam pequenos. Quando entraram na adolescência e ficaram mais independentes, acelerei. Meu marido foi e é um grande parceiro, sempre me ajudou muito porque tinha horário mais flexível. Buscava os meninos na escola, levava em festinhas. Ele via que eu gostava do que fazia e que estava destacando no mercado, sempre apoiou e eu nunca dei espaço para ele me cercear, sempre quis ser independente. Ter meu dinheiro e me colocar bem profissionalmente. Não queria que meu casamento fosse amarrado em dependência financeira.”

 

Sou muito focada em marketing, temos que ter tecnologia, o mercado pede isso e temos que nos adaptar. Foi o que eu fiz, contratei profissionais que dominavam a técnica. Comecei a atuar nas redes sociais quando tinha só o Facebook e depois passei para o Instagram. Eu postava e as pessoas da minha idade comentavam em tom de crítica. As postagens de todo mundo têm direção e as minhas sempre foram voltadas para minha área. E hoje todos perceberam que isso é importante. Deu certo e vem muito cliente via rede social. Minha profissão está crescendo e surgindo novos mercados em várias áreas dentro da arquitetura. Muitas vezes, a mulher trabalha por prazer e não sabe cobrar. A mulher precisa se posicionar como empreendedora. 

 

Denise Magalhães
Denise Magalhães (foto: aRQUIVO pESSOAL)
 

 

Prazer de trabalhar com o belo

 

A empresária Denise Magalhães trabalha com a natureza. Tem como matéria-prima as flores e sabe usá-las como poucos. Foi sua criatividade e ousadia em saber fazer misturas inusitadas que a destacaram no mercado e este ano a sua Verde que te quero Verde completa 45 anos. A decoradora floral afirma que está envelhecendo, mas  não se sente envelhecida e diz que isso é um perigo, porque a pessoa fica sem crítica e perde parâmetros e medidas. Não podemos concordar com sua fala. Todos sabemos que idade não é nada mais que um fator cronológico. O que conta na balança é a cabeça, estar atualizado, dinâmico, ativo, renovado. E é assim que Denise sempre foi e está. Por sinal, ela sempre foi uma pessoa à frente do tempo e sempre trouxe novidades. “Não me sinto envelhecer porque não coloco minha idade e nem meu corpo na balança, mas minha cabeça”, diz. E é assim. Ela acaba de chegar de uma feira internacional, para onde foi com sua equipe e deu um baile de disposição, deixando os mais jovens no chinelo.

 

A prova disso é a nova sede da empresa que está em fase final de construção, no Belvedere. Um prédio de três andares, com projeto da arquiteta Maria Helena Botrel, que abrigará a Verde, terá estacionamento para clientes e ainda receberá um elegante café assinado pela requintada doceira Mariana Laender – nos doces – e por seu marido Leo Loureiro, que ficará responsável pela parte dos salgados, já que atua no serviço de cattering. “Tenho muita saudade da loja da Rua Maranhão, fui muito feliz lá e tinha muito espaço e podia fazer todas as minhas estripulias, fazia as festas de Santo Antônio. Queria ter, novamente, uma loja que pudesse fazer tudo o que quero, as coisas que vejo lá fora. Ninguém mais sai de casa para comprar, sai para ter um momento. Temos que oferecer isso aos nossos clientes, uma experiência, para eles quererem sair de casa. Pensando nisso, decidi fazer essa nova loja, onde as pessoas pudessem entrar, sentar, tomar um café ou um chocolate quente. Se estiver frio, sentar em frente da lareira ou simplesmente ver o pôr do sol tomando um vinho ou um espumante”, revela.

 

Denise começou sem nenhum conhecimento, apenas com seu bom gosto, dom, talento e intuição. “Foi o dom, a intuição e o desejo que me conduziram. Hoje, adquiri conhecimento e tenho sabedoria, que é a única qualidade que a idade dá, que eu uso. Sabedoria nas escolhas, no falar, no calar que eu não tinha antes. Antes só tinha a vontade, o querer”, diz A profissional, que afirma ter esbarado em muito preconceito e abusos por ser mulher, como todas as mulheres esbarraram. “Todas nós sofremos, não conheço nenhuma que venceu impune a isso, mas nunca carregamos isso como um impedimento, ao contrário, cada barreira era um trampolim para eu ir mais longe, eu me sentia mais forte, com mais vontade”, conta.

 

Denise nunca soube aonde chegaria, mas sempre soube que faria coisas que a levariam além. “Muitas pessoas associam sucesso a dinheiro, uma coisa não tem muito a ver com a outra. As grandes conquistas não têm nada a ver com dinheiro. O dinheiro vem se você fizer bem-feito. Sempre trilhei um caminho de querer buscar mais, não o dinheiro, mas no trabalho. Já fiz festas em mais de dez países, isso para mim é prazeroso, mas não foi um caminho traçado. Aconteceu e me deixou muito feliz. Estou com quase 70 anos e ainda sou chamada para fazer trabalhos no exterior, isso é muito gratificante e me deixa muito satisfeita. E tem colegas de profissão extremamente competentes.” 

 

Ângela Alvim e sua filha Alessandra
Ângela Alvim e sua filha Alessandra (foto: aRQUIVO pESSOAL)
 

 

Joias e espiritualidade

 

Ângela Alvim começou a trabalhar com venda de joias há 30 anos, quando estava em processo de divórcio. Uma amiga era designer de joias em prata e gemas brasileiras para exportação e chamou Angela para vender as peças aqui para as amigas. Como toda a produção ia para a Europa, era uma exclusividade que tinha muita aceitação. Ângela fazia sua curadoria no mostruário e ficava com as peças que tinham o perfil das clientes. Era um tiro certeiro. No cenário de divórcio, a batalha era grande e difícil. Passava o dia visitando amigas, chegava em casa e desabava. Quando entrou o ouro com as joias italianas, a designer passou a produzi-las e Ângela acrescentou o ouro aos poucos, e rapidamente só trabalhava com o nobre metal. Ampliou a cartela de fornecedores e de clientes. Após cinco anos, começou a namorar seu atual marido, que a incentivou a abrir um escritório de joias. A filha Alessandra, que fazia fisioterapia, mas sempre gostou do comércio, ajudava a mãe em épocas de maior movimento.

 

“Uma vez minha mãe precisou viajar na época do Natal, fiquei no escritório e bombou. Desenhei um anel de pé, uma estrela de brilhante com silicone. Eu mesma fazia a montagem. Vendeu tanto que perdi a conta. Amei ficar ali”, conta. Assim que se formou, ela foi trabalhar com a Ângela e organizou e modernizou toda a área administrativa e de marketing.

 

Um dos diferenciais da Ângela Alvim Joias é a Coleção Fé. “Elencamos nossos pontos fortes: mãe e filha, empresa de mulheres, valores cristãos. Em momentos difíceis, crises no mercado, sempre falamos e cremos que “Deus proverá”. Foi nesse movimento de olhar para dentro que percebemos que deveríamos criar uma coleção que mostrasse toda essa nossa fé, nosso valor. Não queríamos religiosidade, mas expressar a fé e a espiritualidade. Lançamos em 2019 e pouco tempo depois veio a pandemia, e tudo isso fez mais sentido ainda”, conta Alessandra. São joias para usar no dia a dia. São três: de fé, de força, e de amor. 

 

Carla Madeira
Carla Madeira (foto: CRIS cORTEZ/dIVULGAÇÃO)
 

 

Sucesso na literatura 

 

Filha de matemático, Carla Madeira e seus cinco irmãos sempre gostaram e tiveram facilidade com matemática. Ao mesmo tempo, ela teve, desde de pequena, intenso contato com arte: música, pintura, interpretação. Eram atividades paralelas, nas quais ela se envolvia muito. Decidiu fazer matemática e, mesmo gostando e tendo facilidade, começou a se sentir triste e percebeu que queria estar mais perto das linguagens artísticas. Migrou para a comunicação.

 

“Tive o privilégio de crescer em uma família em que ser mulher nunca foi impedimento para alguma coisa do ponto de vista profissional. Fui com tanta convicção e interesse para o mercado de comunicação que, em momento nenhum, me deixei abater pelo ambiente masculino. Se eles tiveram algum problema com isso, eu realmente não me dei conta”, conta.

 

Aos nove anos, a escritora começou a tocar violão e se apaixonou pela palavra através da música. “Fiz muitas músicas na adolescência. Temos a sorte de viver em um país que tem Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Rita Lee, tantos sambistas – é uma escola extraordinária de poesia, de linguagem. Quando me dediquei a criar a Lápis Raro – sua agência –, fui me afastando da música, mas me aproximei da redação publicitária. Fui professora de redação publicitária no curso de comunicação da UFMG e o texto criativo passou a ser um ofício diário. Em um dado momento, comecei meus exercícios autorais e, sem muito planejamento, escrevi meu primeiro romance”.

 

O primeiro livro de Carla, “Tudo é Rio”, começou a ser escrito e demorou 14 anos para ela retomar a escrita e finalizá-lo. “Escrevi uma cena muito violenta e não tinha recursos para continuar. Não sabia sair da situação que propus. Quatorze anos depois, dois filhos depois, dois casamentos depois, voltei para o livro. Não há um fato determinante para este retorno, mas com certeza durante todos os anos que não escrevi, o livro estava sendo escrito”, explica, afirmando que nunca pensou que ela seria o sucesso que é.

 

Madeira já colou mais dois livros no mercado: “A natureza da mordida” e “Véspera”. “Cada livro é uma experiência única. Em “A natureza da mordida”, a protagonista Biá é uma senhora mais velha, psicanalista, com forte formação em literatura. Não era uma personagem intuitiva, eu precisei mergulhar fundo para encontrar a linguagem e as reflexões que uma pessoa como ela faria. Foram três anos e meio escrevendo. Em “Véspera”, trabalhei a história de Caim e Abel, e tentar ressignificar uma história já tão contada foi desafiador. Foram três anos, com o agravante de uma pandemia no meio do processo”. E já começou uma nova escrita que poderá, ou não, ser um novo livro. “A esta altura da vida, o tempo se torna a coisa mais preciosa. Quero gastar meu tempo no que faz sentido, nas coisas que provocam envolvimento e alegria, sem o peso de qualquer obrigação. 

 

Lúcia Vieira
Lúcia Vieira (foto: aRQUIVO pESSOAL)
 

 

45 anos dedicados à dança 

 

Lúcia Vieira começou a carreira de bailarina no Palácio das Artes. Fazia parte do corpo de baile e já era grande amiga de Vitória Faria, também bailarina. Tinham os mesmos objetivos, gostavam de dançar, mas queriam algo a mais. A bailarina carioca Sarita Andrade estava de mudança para Belo Horizonte e is abrir uma escola e convidou as duas para dar aulas de balé. Convite feito, convite aceito na mesma hora. Vitória dava aulas para crianças e ela para adolescentes. Alguns anos depois, Sarita decidiu retornar para o Rio e propôs às duas assumirem a escola e elas aceitaram na hora. Nasceu aí a Compasso Academia de dança. Se aperfeiçoaram ainda mais, nas férias viajavam para diversos países, fazendo cursos de aprimoramento. Mesmo casada e com filho pequeno, ela nunca enfrentou problema e nem resistência do marido, e a dupla conseguia administrar o tempo, assessoradas pela fiel escudeira Jalma, que está até hoje ao lado de Lúcia, já que Vitória, depois que se casou, saiu da sociedade e deu sua parte de presente para Carolina, filha de Lúcia, sua afilhada.

 

Por questões de trabalho, o marido de Lúcia se mudou para o Rio, mas ela não quis abrir mão da Compasso e a distância acabou com o casamento. Desde então, a vida de Lúcia passou a ser a academia. Ela ama o que faz. “Trabalho desde os 14 anos com a dança. Não fui para o Rio porque não queria abrir mão do meu trabalho pelo amor à dança. Durmo pensando que o tempo deveria passar rápido para eu voltar para a escola. Amo estar aqui, desenvolver os projetos. Nas férias, fico pensando em uma maneira de ensaiar as meninas. Sempre dou um jeito de viajar com o corpo de baile para os Estados Unidos ou Europa nas férias para cursos. Falo que sou a pessoa mais feliz do mundo, isso foi um presente que Deus me deu”, diz, entusiasmada.

 

Todo esse entusiamo levou a Compasso ao 45 anos de fundação, que completará em junho deste ano. A escola começou o ano ganhando um presente. O grupo da Compasso foi para o festival de Berlim e ficou em segundo lugar, perdendo apenas para o corpo de baile do Conservatório de Berlim, com bailarinas do último ano, nível profissional, e que Lúcia frisou que estavam perfeitas. Um dos bailarinos da Compasso recebeu bolsa e ficou em Berlim. O concurso determina que, se for concorrer como grupo, tem que levar duas coreografias. Lúcia levou um grupo de 18 bailarinos e apresentou duas coreografias, uma do Tíndaro Silvano e oura da Carolina Segurato. Concorreram com grupos do mundo inteiro e o que vale é a somatória das notas.

 

“Me sinto muito realizada como mulher, como ser humano. Me sinto muito privilegiada por gostar tanto do que você faz, isso é uma coisa rara. É um orgulho quando vejo as portas se abrindo para os bailarinos, muitos vindos de programas sociais, e hoje estão em companhias da Europa e dos Estados Unidos, trabalhando ou estudando com bolsa integral. Já tenho meninos espalhados no mundo inteiro”, diz, orgulhosa de já ter ajudado tantas crianças a alcançar o seu sonho. Muitas ela chegou a levar para morar em sua casa para cuidar da alimentação. O custo de estudo em academias internacionais chega a custar R$ 18 mil por mês e Lúcia consegue bolsa integral para seus pupilos. “O sucesso deles é a minha felicidade”. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)