Jornal Estado de Minas
EXEMPLO DE LONGEVIDADE

Coven completa 30 anos com coleção que resgata técnicas de tricô

- Foto: Lufré/Divulgação
Liliane Rebehy tinha acabado de ser aprovada no curso de arquitetura. Enquanto as aulas não começavam, perguntou para uma prima se poderia fazer roupas no seu tear para vender. Não estava nos planos dela dar continuidade ao trabalho, muito menos construir uma marca, que acaba de completar 30 anos. De Patrocínio, no Alto Paranaíba, para Belo Horizonte, a Coven é sinônimo de excelência no tricô.
 

“Desde o primeiro momento, me apaixonei pela possibilidade de construir a minha matéria-prima. Isso traz liberdade e independência no processo criativo”, destaca Liliane, que chegou a se formar como arquiteta, mas nunca exerceu a profissão. No meio do curso, decidiu que seria estilista.
 
Quando começou a planejar a primeira coleção do ano, a diretora criativa entendeu que era a hora de olhar para a história da marca e mergulhar na sua origem, revivendo os primeiros experimentos no tear.

“Fomos revisitando o nosso acervo, vendo o que construímos de técnicas e expertise no tricô ao longo do tempo e trazendo de volta pontos e modelagens com outra roupagem”, explica.
 
Um dos trabalhos mais expressivos desse lançamento se conecta com o passado: a marca resgatou a técnica de fios flutuantes. Em um processo manual, fios metalizados e felpudos são tecidos e recortados de modo que ultrapassam a superfície e criam um efeito texturizado.

- Foto: Lufré/Divulgação
Para arrematar, paetês salpicados de cima abaixo criam pontos de brilho. Com essas peças, você está pronta para a mais luxuosa festa.
 
O macramê também está de volta.
Dessa vez, com rolotês de fio metalizado. Os nós formam tramas mais abertas, que se transformam em franjas bem compridas, chegando até a barra da saia, do vestido ou do cropped. No caminhar, essas franjas ganham vida própria e se movimentam livremente.

Nesse ano de comemoração, a estilista aproveitou para reeditar peças que foram sucesso em outras épocas. Como exemplo, o vestido de tricô de manga longa, gola alta e saia rodada, caracterizado por uma certa transparência. Modelagem que não envelhece.
 
“Isso faz parte do nosso DNA. Temos uma preocupação grande com a qualidade e a durabilidade, então fazemos produtos completamente atemporais, que não são da estação. São para durar uma vida inteira no armário”, comenta Liliane.

Nas poucas vezes em que está na loja, ela ouve, com satisfação, as clientes dizendo que não conseguem se desfazer de roupas antigas, pois continuam novas e atuais.
 
- Foto: Lufré/Divulgação
As estampas também carregam referências do passado.
Para desenvolver a mais icônica, um floral, a fundadora da Coven visitou o arquivo de fotografias da irmã, Lívia, que sempre gostou de clicar a natureza de Patrocínio, cidade onde nasceram.

Aplicados em jacquard de tricô, esses desenhos são rebordados com o fio metalizado felpudo. A sensação é de que as peças estão se desfazendo.

O lema da marca é explorar ao máximo o artesanal.“Hoje está tudo muito rápido, mas ainda gosto muito do processo manual, de dar a devida importância e o cuidado para a peça. O que vem primeiro é a vontade de fazer um produto maravilhoso, e não planilhas com tempo de máquina e custos. A marca foi construída com um espírito menos empresarial e mais emocional”, analisa.

Selo Origem

Ao reviver a história e reafirmar a essência da Coven, Liliane concluiu que seria importante, nessa coleção comemorativa, atestar a origem das peças.

Assim surgiu o selo Origem, criado pelo estúdio Hardy Design, que se transforma em estampas e etiquetas. Nele, vemos elementos como 1993 (ano de fundação da marca), a palavra origem e o seu significado no dicionário.
 
O momento é de reverenciar o passado, mas também de exaltar como uma marca de 30 anos usa a experiência para alcançar a modernidade.


Veja o vestido laranja longo com recortes no ombro e na cintura. Dependendo de como você puxar os cordões que dão acabamento a esses recortes, a peça vai ficar mais ou menos franzida, criando um interessante efeito de drapeado.

Entre as novidades, chamam a atenção acessórios inusitados: são pulseiras cilíndricas de tricô canelado com enchimento.

Essas peças podem ser usadas da forma tradicional, mas causam surpresa quando se descobre que dá para brincar com a modelagem de várias roupas. Por exemplo, franzir a manga de uma camisa ou fazer um amarrado na barra de uma camisa mais comprida.

Inicialmente, a marca só trabalhava com tricô. Os tecidos planos chegaram com a abertura da primeira loja, em 2008, para complementar o mix de produtos, e hoje representam 30% dos lançamentos.
 
Nessa categoria, o ponto alto da coleção é uma viscose italiana com brilho e aspecto de amassado.
Liliane explica que é um tecido tecnológico, mas tem leveza e frescor.

- Foto: Lufré/Divulgação
Dá para sentir seu conforto em peças como camisa de manga longa com punho largo, calça cargo com bolsos laterais, casaco na altura do joelho e saia rodada feminina (modelagem que, segundo a estilista, está voltando com tudo).
 
Não dá para dizer que foi fácil. Liliane considera uma vitória completar 30 anos na moda, tendo que acertar e ser sempre surpreendente. Mas é o que ama fazer.

“Essa longevidade está relacionada ao meu maior tesouro, que é gostar daquilo que faço. A cada coleção tenho o mesmo entusiasmo para pensar em novas histórias, fazer novos experimentos e entregar algo que me emocione e emocione as pessoas.”
 
Quando pensa no futuro, seu desejo é continuar criando com a mesma motivação e cercada por pessoas que somam e fazem sua trajetória se tornar mais leve.

Apesar de hoje ser menos mística, ela ainda acredita no significado da palavra Coven: convenção das bruxas. “O nome tem a ver com o clã que se forma em torno da marca, e isso é muito precioso.” Mais um motivo para a marca resistir ao tempo.
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