Cada noiva tem o seu estilo. Isso não se discute. Mas, nos últimos tempos, mais e mais mulheres têm escolhido se casar com vestidos minimalistas. Saem brilhos e bordados de cima abaixo, entram bases lisas com detalhes que enfeitam o look, como laços, flores e formas da própria modelagem. Quatro ateliês que realizam os sonhos de casamento em Belo Horizonte e Nova Lima revelam o que estão buscando as mineiras, seja no sob medida ou em coleção pronta.
Ana França observa que as noivas estão se desvinculando mais do vestido tradicional, até porque as festas deixaram de ser tradicionais. Mesmo antes da pandemia, já havia um desejo de celebrar o casamento em formatos e horários diferentes.
“As noivas da nova geração entendem que a moda está a favor delas e se sentem muito mais libertas das regras sociais, ousam muito mais e procuram peças que mais dizem da personalidade delas do que se enquadram em padrões”, aponta.
Esse movimento se reforça com a constatação de que pelo menos metade das suas clientes se casam com tênis. “Vejo que as mulheres estão muito focadas em conforto para aproveitar a festa. Caiu em desuso sofrer para usar o sapato de salto mais lindo do mundo. Elas querem estar bonitas e confortáveis”, analisa. Segundo a estilista, muitas marcas de sapatos estão de olho nessa tendência e passaram a produzir modelos de tênis brancos para noivas, cheios de brilho e pedraria.
No seu ateliê, Ana tem atendido dois estilos predominantes, totalmente opostos: princesa e minimalista. O primeiro grupo se espelha em um conto de fadas, por isso busca saias mais rodadas, não necessariamente volumosas. Essas mulheres amam brilho e renda, que perdeu o aspecto delicado e se apresenta com florais maiores. Já o outro grupo quer um vestido liso, sem renda nem brilho. “Tudo o que o vestido liso tem é corte, caimento e textura, um combo que tem que ser muito bem feito.”
Pensando nas noivas minimalistas, Ana vai lançar no fim do mês uma coleção de joias para as costas. Ela trouxe para BH o que identificou como tendência fora do país. São seis modelos de colares, em prata e dourado, alguns com aplicação de pedras e cristais.
“Essas peças trazem a surpresa do inesperado. A noiva que entra com um vestido minimalista já surpreende. Mas, quando o convidado enxerga um detalhe nas costas, fica ainda mais surpreendido.”
Outra tendência que a estilista espera ter aceitação entre as noivas mineiras são os vestidos estampados. Ana desenvolveu uma peça única, disponível para compra ou aluguel, feita em gazar de seda pura italiano, com uma estampa floral. Os desenhos são discretos, mas entregam personalidade. Esse vestido, tomara que caia, com fenda e transparência, pode ser usado com mangas avulsas ou echarpe. Adepta de processos artesanais e exclusivos, ela também aposta em peças de crochê para casamentos.
Estilista da marca Tete Rezende, Patrícia Rezende constata que as mulheres estão se casando hoje em dia mais velhas, já independentes financeiramente, o que faz com que se sintam mais livres e seguras para escolher o vestido. Por isso, a procura pelo sob medida aumentou.
“A noiva de hoje tem mais personalidade e já chega sabendo o que quer. Com a minha expertise, só vou ajudá-la a definir o decote, a saia, encontrar a modelagem que valorize o seu corpo. Isso em certo ponto é ótimo, porque dá segurança para elas e para a gente também. Assim, temos cada vez mais certeza de que vamos chegar a um resultado que elas amem, o que é o mais importante.
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QUIMONO Um exemplo recente vem de Ilhabela, em São Paulo. A designer de roupas e acessórios Camila Akemi escolheu se casar com um vestido inspirado em um quimono para homenagear sua família, de origem japonesa. O ateliê de BH desenhou mangas bem amplas e transparentes, com bordados em linha e minicanutilhos de tsurus, um dos origamis mais tradicionais do Japão.
Os vestidos minimalistas, de acordo com Patrícia, estão em alta, reflexo do aumento de casamentos mais intimistas. A estilista diz que a pandemia acabou concretizando a tendência de se casar em festas com menos convidados, a maioria de dia e ao ar livre, no campo, na praia ou mesmo aqui em BH. O que não quer dizer que a peça seja toda lisa. A modelagem é clean, mas nada impede de incluir um detalhe em renda, um recorte, laços, mangas e golas mais amplas.
O ateliê acabou de lançar a nova coleção de vestidos prontos (para venda ou aluguel). De modo geral, as modelagens seguem o estilo minimalista, os decotes são retos e as saias, fluidas e de cintura alta. Entre os tecidos, a estilista destaca o crepe brocado, que traz um brilho diferente.
A vantagem de criar bases lisas é poder acrescentar outra peça ou um enfeite para complementar o look. “Dessa forma, temos a possibilidade de customizar o vestido de acordo com o desejo da noiva.
Você pode colocar um bolero de renda por cima de um tomara que caia, bem seco, ou então uma gola nos ombros para ele virar um ombro a ombro”, exemplifica Patrícia, que também oferece mangas avulsas, casaco, cinto bordado, laço e flor e está disponível para realizar qualquer outro sonho.
A busca das noivas por um vestido minimalista vai de encontro ao ateliê de Danielle Benício, que estudou na França e se formou em alta-costura. “Tenho crescido nesse segmento de vestido mais minimalista, aquele que é a cara da alta-costura, que mostra a retidão da costura e do acabamento, uma bainha impecável. Isso é uma volta ao berço do trabalho da costureira”, comemora a estilista, que tem 20 anos de experiência com noivas sob medida e se define como uma “obcecada por excelência”.
Para as noivas minimalistas, Danielle desenvolve uma modelagem mais complexa, trabalha com mais costuras, entra com recortes e alguns detalhes. Tudo para que o vestido não fique sem graça. “Posso colocar um laço, botões cobertos, um detalhe estrutural com crinol. Isso não tira o aspecto minimalista e traz muita personalidade para o vestido”, destaca. Nesses casos, ela usa tecidos de alfaiataria, mais encorpados, como crepe e organza. O off white domina na cartela de cores.
No sob medida, como está presente em todos os atendimentos, tanto em BH quanto em São Paulo, a estilista consegue desenhar apenas 12 vestidos por mês. A agenda, inclusive, está fechada até outubro.
Para que mais mulheres possam vestir a marca, o ateliê lançou, no ano passado, uma coleção de vestidos prontos com o nome Dani Benício White Collection. Danielle se baseou nos últimos croquis do sob medida para entender o que as noivas estão buscando e ser bem assertiva. No total, são 60 modelos, todos disponíveis para aluguel por 1/3 do valor de um vestido personalizado. “Fico muito feliz, de verdade, de dar essa chance para mais mulheres que sonhavam em usar um vestido meu.”
MODELAGENS A coleção de estreia da Dani Benício é bem completa. Reúne as modelagens mais desejadas (semi sereia, godê simples e godê duplo), todos os decotes, vestidos minimalistas, rendas e bordados. Os tecidos e as costuras são diferentes do sob medida, para que as peças possam ser ajustadas e usadas mais de uma vez. Mas a estilista avisa que tudo é feito no próprio ateliê. Ela não terceiriza nenhuma etapa da produção.
Apesar de não acompanhar pessoalmente a venda dos vestidos prontos, Danielle preza por um atendimento personalizado e sem pressa, para que a cliente possa fazer sua escolha com tranquilidade. Além disso, trabalha para garantir a mesma qualidade da entrega. As peças alugadas só voltam para a arara se as costureiras conseguem fazer uma restauração plena.
“Não quero perder a essência de ateliê. O vestido pronto não demanda minha presença, mas o ajuste no corpo vai ficar impecável, isso eu garanto, porque tenho uma equipe experiente.”
De Vitória (ES) para BH, a Boulanger Conceito viu aumentar a demanda por vestidos sob medida. “A mulher mineira está mais acostumada com costureira e tem mais ligação com o artesanal, a avó borda, às vezes cresce com uma máquina de costura em casa, então acaba buscando mais o sob medida. Em Vitória, não existe esse hábito de mandar fazer roupa”, comenta Paula Boulanger, que há seis meses trouxe a marca, com duas décadas de história na capital capixaba, para a sua cidade natal.
No ateliê, a tendência do minimalismo também é crescente. Paula tem percebido que as mineiras preferem um vestido “limpo” e sem muito volume. Se tem renda, é só em um detalhe. Não gostam de decote muito grande, mas já aceitam bem uma fenda lateral. “O tomara que caia voltou com tudo. Ele tinha desaparecido, mas estou vendo muita noiva querendo usar de novo”, conta.
Segundo Paula, as noivas que decidem usar um vestido minimalista acabam tendo a chance de acrescentar um enfeite, como uma mantilha de renda, flores, laços ou até mesmo uma manga bufante.
Para as noivas mais práticas e objetivas, que preferem comprar o vestido pronto, a Boulanger tem uma marca própria, a Bossa Nova, que tem a proposta de levar brasilidade para os casamentos. “A Bossa Nova tem uma pegada mais brasileira. Faz vestidos com movimento, fluidez, sensualidade bem sutil, mistura de tecidos, rendas e bordados. Tudo feito a mão”, explica. Por ano, são lançadas duas coleções, totalizando 30 modelos. Como sabe que a brasileira gosta de exclusividade, ela só faz um de cada.
A loja também representa duas marcas espanholas. Enquanto a Rosa Clará se volta para uma noiva mais romântica, ligada a detalhes como bordados e rendas, a Pronovias trabalha com vestidos mais sensuais, esvoaçantes e impactantes.
Paula esteve recentemente em Barcelona para visitar os showrooms das marcas e a maior feira de noivas do mundo. Nos desfiles, identificou várias tendências para as coleções que estão por vir. De tudo o que viu, a empresária cita como destaques cropped que deixa a barriga à mostra, luvas de vários tipos (longas e curtas) e maxi enfeites, como flores e laços. Ela também viu muitas plumas na passarela. Tudo isso por cima de vestidos com modelagem mais clean. Pelo visto, o minimalismo vai continuar firme.
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